segunda-feira, 2 de julho de 2018

VAR OU NÃO VAR, EIS A QUESTÃO

Caros amigos,

Cruzando o Atlântico a caminho da Rússia, para participar de uma das grandes festas do planeta. Até aqui, nenhum incidente e problemas na organização e as notícias são de um povo extremamente acolhedor e hospitaleiro. Tendo tempo, a ideia é publicar posts mais curtos, direto da Rússia, tentando trazer um pouco do ambiente do local.

Nessa primeira fase, além da eliminação da campeã do mundo, a grande notícia foi o VAR. Envolto em uma série de polêmicas, o tema vem trazendo uma série de discussões acaloradas no mundo do futebol. Parafraseando o filósofo Vanderlei Luxemburgo, a polêmica vem exatamente do fato de o VAR “não pertencer ao futebol” até então. 

Importante reconhecer que o futebol foi “empurrado” para a adoção da tecnologia, mesmo com a, digamos, relutância do “board” da FIFA. Praticamente todos os esportes já adotam diversos mecanismos para atenuar a falha humana. Além disso, o avanço da qualidade das transmissões e suas infindáveis câmeras fez do árbitro um elemento muito mais questionado que antes. Incompetência à parte, o olho humano não consegue concorrer com a tecnologia. 

Desde que assumiu a presidência da FIFA, Infantino tenta rejuvenescer a entidade e acolher ainda mais países. Sincera ou não, essa é a narrativa política de seu mandato. Por isso, Copa de 2026 com 48 clubes e o uso da Copa do Mundo como “cobaia” do VAR. 

Pessoalmente, sou a favor da tecnologia no futebol. Entretanto, o açodamento em usá-la já nessa Copa, com poucos testes efetivos em campeonatos, com pouco debate, pode dar munição aos mais conservadores e contrários à ideia. 

Observando essa primeira fase, nota-se que a arbitragem está usando o VAR como muleta. É sempre melhor marcar algo e, eventualmente, o VAR desmarcar do que o contrário. O motivo principal é que não está pacificado o momento em que o jogo é parado. Imaginem um pênalti não marcado pelo juiz e, no contra-ataque, a equipe adversária marca um gol. Pela regra atual, o gol seria anulado e o pênalti marcado, gerando um anti-clímax terrível para o jogo e seus aficionados. 

Pode-se notar também que há bastante desconhecimento do público e dos jogadores de quando o VAR será usado. O jogo fica por alguns segundos com a aflição do desconhecido. Valerá? Não valerá?

Portanto, a FIFA deveria ser a guardiã para que uma ótima ideia não vire uma péssima experiência. A primeira atitude seria não testar o modelo no principal campeonato, mas já que isso não é mais possível, é importante que ela estimule a evolução desse caminho (sem volta). 

O órgão máximo do futebol poderia estimular que os principais países utilizassem a tecnologia em suas Copas. São campeonatos menos importantes que as Ligas e, especialmente nas primeiras fases, com jogos sem grande apelo. Além disso, poderia testar aspectos que já deram certo em outros esportes como o desafio, ou seja, o jogo só seria parado por um pedido do time prejudicado. Evidentemente, não se pode pedir desafios indiscriminadamente.  O tênis e a NFL, por exemplo, tiram um desafio quando a primeira pedida se mostra “falsa”. Um outro aspecto, é a questão do famoso “lance interpretativo”. Há nuances nos lances de campo que a câmera lenta pode induzir o juiz ao erro. O lance do pseudo empurrão no Miranda é sintomático. Na câmera lenta, falta. No jogo “jogado”, normal. Por fim, garantir que o diretor de imagem seja um profissional de arbitragem também. Afinal, um “frame” a mais ou a menos pode mudar a interpretação do lance. Escolher uma câmera em detrimento da outra, a mesma coisa. 

Enfim, parece que a tecnologia chegou para ficar. Tomara que os cuidados sejam tomados e o futebol chegue, finalmente, ao novo milênio. 

E Viva a Rússia!!

Marcelo, o Racional