terça-feira, 5 de abril de 2022

Sonho, DNA e Orgulho

 Caros amigos,

 

Eventos extraordinários exigem “posts” extraordinários. Quebrando uma tradição de publicarmos textos apenas no final de ano, o “blog” quebrará o protocolo...

 

Para iniciar, gostaria de citar um antológico texto do excelente Carlos Eduardo Mansur no “O Globo”. A seguir, os 2 primeiros parágrafos do artigo:

 

“ No final dos anos 1990, um executivo do Manchester United explicava como o clube entendeu seu papel na indústria do entretenimento e sua relação com a sociedade. A discussão na cúpula do United partiu de uma pergunta: “O que vendemos? Futebol? Jogadores?”. Não demorou muito para que o debate se encerrasse diante da conclusão definitiva: “Vendemos sonhos”.

 

É algo de uma profundidade acima do que se imagina. Aqui, vender sonhos tem um sentido amplo e poderosíssimo. Engloba toda a gama de emoções que um clube desperta: do menino que sonha em jogar bola ao que fantasia viver uma tarde num estádio lotado; é a vitória que gera uma sensação de realização que, por vezes, a vida nega; são os valores que se percebem acoplados àquele clube e àquela comunidade; é pertencimento e família.” (grifo meu).

 

O dia de ontem estará para sempre eternizado nas nossas lembranças. Vale refletir sobre os motivos...

 

Se um clube vende sonhos e pertencimento o 3 de abril de 2022 não apenas ficará marcado pelo aniversário de 8 décadas de nosso maior jogador mas, também, como o dia que o Palmeiras mais representou esse “papel”. Coisas aparentemente desimportantes e outras explícitas marcaram nossa semana. A luta para jogar no nosso estádio nos fez lembrar que nunca teremos “lambuja” do Estado (aqui compreendido como governo e federações). Aprendemos desde a nossa fundação (com as inúmeras dificuldades e preconceito explícito) que aqui aprendemos a resolver nossos problemas sozinhos. Se o Estado não nos “dá” um estádio, construímos o nosso e modernizamos com um parceiro privado. Se o alvará de construção não sai, nos viramos e conseguimos um de reforma (sempre lembrando que o governo que nos atrasou em anos é o mesmo que concedeu as licenças em dias para o estádio de Itaquera). Se a Federação não se alinha com os campeonatos relevantes do país (mineiro, gaúcho e carioca) e não “permite” a decisão no sábado, a gente se vira com as entidades privadas e joga no domingo. Esses episódios nos ajudam a entender o motivo pelo qual nunca tivemos um patrocínio público na camisa. É a nossa história! Lutar pelo nosso estádio é um símbolo que gera uma simbiose entre clube e torcida. Sonho e pertencimento. A singela ideia de permitir que sócios assistissem atrás do gol com telão é de uma sensibilidade ímpar. É o clube (que entendo que vinha se afastando por algum período) dizendo para seu torcedor: “Eu não existo sem você”. “A minha força vem de você”. A imagem de torcedores alucinados assistindo ao jogo atrás de um palco merece uma lembrança eterna e essa foto tem que estar nos murais mais importantes do nosso clube (como Oberdan e a bandeira do Brasil em 20 de setembro de 1942).

 

Por falar em Arrancada Heroica, como não lembrar do técnico do Palmeiras e sua citação desse maiúsculo episódio de nossa rica história? Com tudo que aconteceu na semana dentro e fora de campo é óbvio que naqueles 90 minutos tínhamos de honrar o busto do Capitão Adalberto Mendes que nos ajuda a lembrar todos os dias a nossa jornada para ser quem somos. Para lembrar de onde viemos. Lutando contra o que é aceitável, mas, principalmente, contra o que é inaceitável. Se o clube “oferece” pertencimento, é óbvio que, de alguma forma, 1942 esteve em campo no domingo. Parafraseando o “site” “Nosso Palestra” ontem vivemos a Arrancada Heroica 2.2, épica ao seu tempo...

 

Acrescente um time que não contrata mais medalhões e “forma” um Raphael Veiga (neto de palestrino fanático) dentro do nosso clube. Jogadores que olham o escudo para cima. As crias da Academia e suas “fornadas” que não param de chegar. Um técnico que, de forma impressionante, capta, comunica e multiplica os valores de ser palmeirense em tempo absolutamente recorde. Um jogo imponente, amassando o adversário, recuperando (mesmo que não aconteça em todos os jogos) nosso DNA de imposição sobre o adversário.

 

Se ontem o Palmeiras “vendeu” tudo o que dele se espera, o resultado (não falo de campo ainda) não poderia ser diferente. Um Allianz Parque que pulsava! Pulava e gritava como nunca. Do primeiro ao último minuto numa extraordinária comunhão do time com sua gente. Dentro e fora do estádio. Nos arredores ou no lugar mais longínquo do planeta. Nessas condições, repito, nessas condições não havia nenhuma hipótese do “rival” sair com o troféu. Como prêmio, inesquecível, levou o maior placar de sua história em finais e as repercussões do atropelamento na Zona Sul são impressionantes.

 

Seja pelo fato de não demitir nenhum colaborador na pandemia. Seja pela música de Abel pré-Mundial (alguém já viu uma declaração de amor não ser brega?). Seja pelas crias da Academia. Seja pelo diferenciadíssimo técnico. Seja pelo elenco atual. Seja pelo respeito ao torcedor. Seja por continuar não dependendo do Estado. Seja pelo elenco e comissão técnica citarem a nossa história. Enfim, são inúmeros fatores, não tenho a pretensão de citar todos. Mas a conjunção de tudo isso me traz o seguinte sentimento:

 

Em 47 anos de vida e 42 de “palmeirense consciente” eu nunca tive tanto orgulho de ser palmeirense.

 

E, paradoxalmente, isso não tem a ver com os troféus. Eles são apenas a consequência natural. (E lembrem-se, um clube não vende títulos...vende sonho e pertencimento, certo?). E nós, “palmeirenses da fila” sabemos muito bem respeitar os ciclos de glórias e de “vacas magras”. Esses dias de glória, é natural, em algum momento se transformarão em períodos mais áridos...Da mesma forma, em outro momento, as glórias voltarão. Porém, a gente sabe muito bem o que devemos fazer quando as coisas não estiverem tão bem. Jamais virar as costas para a nossa essência e, de alguma forma, lembrar da experiência do United descrita acima. Não tenho certeza de títulos, mas tenho certeza da existência eterna! E ela basta! Como ouvimos no pedaço mais especial do Planeta ao som dos bumbos: “Graças a Deus eu sou Verdão; e ele está no coração; ele ganhando, ele perdendo; sou palmeirense de coração”.

 

Não é objetivo desse texto, mas óbvio que temos (muitas) coisas a melhorar. Da mesma forma, a frase acima jamais pode ser compreendida como se antes não houvesse orgulho. Apenas um reconhecimento que se vendemos valores que se percebem acoplados àquele clube e àquela comunidade, se vendemos pertencimento e família, o 3 de abril de 2022 é eterno e se meu avô me falava da Arrancada Heroica eu citarei essa data ao meu neto (Se Deus e San Genaro quiserem)!!

 

Marcelo, (nem tanto) o Racional

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