quarta-feira, 30 de maio de 2018

O PALMEIRAS NÃO É PARA AMADORES

Caros amigos,

Tendo em vista os últimos dias de nossa amada instituição, quebraremos a rotina de “posts” apenas em finais de ano. Afinal, parafraseando Tom Jobim, o Palmeiras não é para amadores...

O momento atual é extremamente complexo. Infelizmente, não se trata de apenas 1 (uma) causa, mas, diversas, que se retroalimentam e a resultante é essa sensação de insatisfação e descrença. Tentarei abordar alguma delas a partir de agora. Ressalto que a ordem e os números NÃO têm relação com relevância ou maior importância. Trata-se apenas de uma sequência.

1 – Pressão

Peço a licença para citar debates com meu grande e antigo amigo, Alexandre Zanotta. Há cerca de 2 décadas discutimos Palmeiras quase que diariamente. Na época das vacas magras eu argumentava a questão de medalhões no mandato do Belluzzo e ele argumentava que o período sem títulos praticamente inviabilizava uma gestão racional pela carência de títulos. Depois dos títulos, a coisa melhoraria. Apesar de discordar, não podia deixar de reconhecer uma certa lógica no que era dito. Pois bem, após 2 títulos nacionais recentes, a pressão em 2018 talvez seja até maior. Antes era a fila, hoje o motivo é o “investimento”. Algo como se autopunir com o sucesso. Amanhã “inventaremos” outro motivo. Evidentemente que trata-se de uma característica de qualquer clube grande, mas, na Pompeia, chega-se a nível de histeria coletiva.

2 – Torcida

Em que pese reconhecer alguma evolução no comportamento dentro dos 90 minutos, a torcida que canta e vibra continua com suas idiossincrasias. Só no Palmeiras existe a “contratação com pressão contratada”. Lucas Lima, desejo de qualquer time da Série A, percebe que tem que matar “um leão por jogo”, senão a torcida não vai perdoar. Como a auto profecia realizada, o nervosismo aumenta, a vaia aumenta e o jogador não rende. Além disso, sempre um desejo inconsciente por pedir quem não está no campo. Quando o Borja joga, queremos Willian, quando Willian joga, queremos Borja. Nossa “raiva” busca nomes e não o contexto. E a troca incessante de técnicos e jogadores, acreditem, só atrasa mais o processo. Para concluir esse item, outra idiossincrasia palestrina. Nos outros times, a organizada apoia e os outros “cornetam”. Aqui, a organizada “corneta” e os outros apoiam. De novo, característica de clube grande, mas, na Pompeia é maior.

3 – Diferença relativa entre elencos

Evidentemente não se faz futebol sem dinheiro. Mas, não há correlação no futebol mundial entre maior investimento e título. Há correlação entre maiores investimentos e melhores posições nos campeonatos. Para tanto, podemos citar o Real Madri no começo dessa década e o próprio PSG (em nível europeu) nos dias atuais. Esses times fracassaram e/ou demoraram para ganhar títulos. Porém, no imaginário alviverde lembramos da época da Parmalat onde investimento era sinônimo de domínio. Aqui vale fazer 2 ressalvas. A primeira é que o investimento é relativamente menor ao da época da Parmalat. Escolhemos (acertadamente), o caminho de jogadores em fim de contrato, sem gastar com o antigo passe/direitos federativos. Sendo assim, jamais contrataremos um Vinicius Junior, mas podemos contratar um Scarpa. A segunda ressalva é que, diferentemente dos anos 90, o mundo estrangeiro que se resumia à Europa Ocidental, observou a entrada de novos mercados. Arábia, Leste Europeu, China, entre outros. Sendo assim, nos anos 90, a “primeira prateleira” era toda consumida pela Europa, mas a segunda ficava com a gente. Lembro que Edilson, Djalminha e Luizão vieram do Guarani, Roberto Carlos do União de Araras, Flavio Conceicção do Rio Branco – SP, Edmundo do Vasco e por aí vai. Hoje, esses jogadores, certamente, já estariam no Leste Europeu com 19 anos. Sendo assim, Alexandre Mattos tem que se suprir na “quarta ou quinta prateleira” de jogadores. Enfim, fica a provocação. O time do Palmeiras é absurdamente melhor que o São Paulo? Que o Corinthians? Que o Grêmio? Peço atenção ao advérbio da pergunta. Ele é importante, pois, sem ele, difícil garantir o domínio pleno sobre os rivais. Importante ressaltar que o investimento vem garantindo o protagonismo. Ganhamos 2 títulos nacionais e fomos vice no ano passado.

4 – Não escolher um caminho

Tendo em vista que o investimento, por si só, não será suficiente para chegar ao título, percebemos que as conquistas são derivadas de trabalho e repetição. Mais que isso, escolher um caminho. Afinal, qual a proposta de jogo do Palmeiras? Reativa como o SCCP? Agressiva como o Santos dos bons tempos? Posse de bola e triangulação como o Grêmio? Escolhido um modelo de jogo, as contratações são muito mais assertivas e com mais chance de darem certo. Jogadores rápidos, fortes, passadores, rompedores com bola no pé? Qual a característica? Esse é o motivo pelo qual o SCCP é uma fábrica de novos zagueiros e volantes, vendidos a preço de ouro, de acordo com sua característica reativa. Por isso, o Santos é uma fábrica de atacantes velozes e habilidosos, também vendidos a preço de ouro. E o próprio Grêmio deve fazer alta grana com Arthur e Luan, pilares do toque de bola gaúcho. Faço a ressalva que o processo de contratação do Palmeiras melhorou demais. Acertamos mais que erramos. Entretanto, como não temos um modelo de time, tentamos juntar características de jogadores que nem sempre dão certo.

5 – Falta de trabalho

Provavelmente por não termos um caminho escolhido, as frustrações e paciência com maus resultados é menor. Como consequência, mesmo em época de vacas mais gordas trocamos demasiadamente de treinador. Ano passado foi surreal. Trocamos do reativo Eduardo Batista para o Porco Doido do Cuca e terminamos com Alberto “linha alta” Valentim. Paradoxalmente, terminar em segundo um campeonato Brasileiro com essa situação demonstra exatamente a força do questionado investimento. Em 2018, escolhemos Roger Machado, com característica de posse de bola e triangulação. Confesso que é meu “método” preferido, mas, de longe, repito, de longe é o que mais demanda tempo para implantar. Suportaremos? Caso o Roger caia, traremos um nome com as mesmas características ou vamos escolher por outra razão, tal como grife, e faremos uma proposta a um Abel reativo?

6 – Desvio da política desconhecidos x medalhões.

Em 2015 e 2016, a estratégia era nítida. Buscar jogadores com fome, até certo ponto desconhecidos, porém com “scout” e potencial incontestáveis. E fomos campeões com Vitor Hugo, Moisés, Mina, Tchê Tchê, Dudu (na época com muita fome), Jailson, Gabriel Jesus (base), Thiago Santos, etc. Depois de 2016, mudamos a política e “aceitamos” mais grife como Felipe Melo, Borja, Guerra, Michel Bastos entre outros. E os resultados não foram os mesmos. Conceitualmente falando, sempre é melhor apostar mais em Hyorans que em Scarpas. Por mais que a torcida pense diferente.

7 – Estrutura profissional em ambiente amador

Os clubes brasileiros são os que mais jogam no planeta. Fizeram 770 jogos na última década enquanto os europeus fizeram cerca de 550. A diferença, de forma resumida, está no jurássico campeonato estadual. As arbitragens, os tribunais, são amadores. A tabela, o campeonato são feitos por amadores. O amadorismo nivela as forças. Pegando 2018 como exemplo, sendo ano de Copa, Roger Machado treinou com bola 7 dias para enfrentar o Santo André no meio de janeiro. Pensou um time com Tche Tche, com Thiago Martins, sem Keno, etc. E vai se virando nos sucessivos jogos quarta e domingo. Insisto num tema que venho abordando há anos no querido “Prisco Palestra”. O Palmeiras tem que liderar as mudanças não por altruísmo, mas porquê, de longe, será o clube mais beneficiado por uma estrutura profissional.

8 – Instabilidade Política

Em 2016, nos iludimos que uma inédita paz chegou ao Palmeiras. Paulo Nobre fazia seu sucessor sendo candidato único. Alinhamento entre a maioria dos entes políticos e, com algumas rusgas é verdade, até com o patrocinador. Um dia após a posse de Galiotte, um terremoto treme os alicerces do Allianz Parque. Paulo Nobre para um lado, Mustafá e Leila para o outro. Meses depois, Mustafá migra para o outro lado. Além disso, abusando de uma interpretação elástica, é permitido à sócia da Crefisa disputar o cargo de conselheira. E o caminho para sua presidência está absolutamente pavimentado com a alteração no estatuto aprovada há poucos dias. Os reflexos desse tema podem não ser sentidos exatamente nos próximos 90 minutos de um jogo. Porém, no médio prazo, a instituição corre o risco de pagar um alto preço, no limite, até afugentando outros parceiros e empresários de jogadores, além da invasão política no CT.

Enfim, o tema é complexo. Compreendo que a esmagadora maioria da torcida não concorda, mas insisto que a solução passa pelos pontos acima. Também reconheço que é bem difícil todos os pontos serem atacados ao mesmo tempo. Sendo assim, pressupondo que o estilo de jogo atual é o escolhido pelo Palmeiras (difícil acreditar, mas vou pressupor), sou favorável à manutenção do técnico, à manutenção do trabalho com Alexandre Mattos e que as próximas contratações lembrem mais 2015/2016 que 2017/2018. Sempre lembrando que a obrigação é ser protagonista, não ganhar títulos, afinal, o Palmeiras, queiram ou não, tem rivais poderosos, seja em estrutura, seja em finanças, seja em torcida. Futebol é convicção e não “quarta e domingo”. Os resultados contra Cruzeiro e São Paulo não deveriam definir nosso futuro. Para o bem ou para o mal. Se ainda é utópico exigir convicção e bom senso de torcedor (como seria bom...), não podemos tolerar fraqueza dos dirigentes.

Marcelo, o Racional