sábado, 29 de dezembro de 2018

Nem 12 nem 2 – A Consolidação do Futebol Brasileiro

Caros amigos,

Conforme prometido no penúltimo “post”, faremos uma abordagem sobre a maior dificuldade em ser hegemônico no Brasil. Para tanto, é interessante recorrermos à história para tentarmos entender o processo. O futebol chegou ao Brasil mais ou menos no mesmo tempo da Proclamação da República. Do ponto de vista político administrativo, nossa República foi inspirada no modelo norte-americano, tanto que a primeira denominação foi Estados Unidos do Brasil. Como consequência, os Estados tinham importância acentuada no caráter de cada sociedade até porque o país é continental e não havia a estrutura de transportes e tecnologias atuais para uma maior integração. O modelo de administração esportiva não poderia ser construído de forma diferente. As federações estaduais foram as primeiras entidades a organizarem minimamente a estrutura do futebol e os campeonatos estaduais eram os únicos com alguma relevância no começo do século passado.

Claro que, desde o princípio, o esporte se desenvolve mais onde há mais predominância econômica, por isso, nem todos os Estados construíram futebol relevante, especialmente os que ficam no lado Ocidental do Tratado de Tordesilhas, ou seja, o Centro-Oeste e Norte Brasileiro que experimentaram algum desenvolvimento apenas nas últimas décadas do século XX. Além do aspecto econômico, a influência inglesa em determinada região também colaborou para um maior desenvolvimento do esporte bretão em terra “brasilis”. Essa influência era bastante nítida no setor ferroviário brasileiro, através dos investimentos de companhias inglesas que trouxeram a novidade ao país. Nesse aspecto, o Estado de São Paulo foi privilegiado e no interior vários clubes tiveram origem “ferroviária”, como o Noroeste (Bauru – Estrada de Ferro Noroeste do Brasil), Ferroviário Ituano (Itu – Estrada de Ferro Sorocabana), Paulista (Jundiaí – Companhia Paulista), Ferroviária (Araraquara – Estrada de Ferro Araraquarense), entre outros.

Esse modelo permitiu a evolução de diversas rivalidades regionais, como se o Brasil tivesse diversos países dentro de um. Permitiu também algo muito difícil de se repetir em outros países que foi a existência de vários times relevantes numa mesma cidade, especialmente a antiga capital federal e seus 4 clubes (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo), lembrando que o Rio era um Estado (Distrito Federal, depois Guanabara). Como consequência, esses times comemoravam títulos (relevantes à época) com boa regularidade e os títulos são a melhor receita para aumentar torcida e criar “camisas que entortam varal”, as famosas camisas que tem peso por si só. Os Estados mais relevantes economicamente foram criando suas rivalidades, inclusive os mais importantes do Nordeste.

Nos anos 50, começam as primeiras tentativas de integração entre os Estados como o Rio-São Paulo e a Taça Brasil cujo primeiro campeão, vejam só, foi o Bahia com seus mais de 40 mil torcedores no jogo na Fonte Nova. Nos anos 60, no período militar, o governo central estimula a construção de gigantes de concreto como o Castelão, Mineirão, entre outros, fortalecendo ainda mais o futebol nas regiões fora do eixo Rio- São Paulo. Em 1971, aproveitando a excepcionalmente bem sucedida experiência do Robertão, é jogado o “primeiro” Campeonato Brasileiro (para entender as aspas, vale ler o “post” anterior), consolidando a integração do futebol nacional. Porém, não se podia jogar mais de 50 anos de tradição fora e os campeonatos estaduais continuavam mais importantes que o próprio nacional, permitindo que vários clubes levantassem canecos com boa regularidade.

Essa dinâmica persistiu até mais ou menos até o final dos anos 90. Nesses cerca de 30 anos, vale ressaltar que não havia grande discricionariedade entre as receitas dos maiores clubes. Os valores dos patrocínios de camisa (começaram nos anos 80), de remuneração da TV e bilheteria (menos relevante na época já que os ingressos eram muito baratos) eram muito semelhantes. A diferença era uma grande venda para o exterior (havia a lei do passe) ou a posse de um estádio particular. O São Paulo se beneficiou muito disso já que os rivais pagavam aluguel para usar o estádio. Não por outro motivo, o clube da Zona Sul tem seus melhores resultados esportivos nesse período. A imprensa dizia que era modelo de administração. Não necessariamente, penso eu. Tinha mais dinheiro, simplesmente. De qualquer forma, vários clubes conseguiam deixar as torcidas felizes, levantando canecos com boa constância. Existiam as filas, é verdade. Botafogo, Corinthians e Palmeiras experimentaram anos sem conquista, mas vale ressaltar que esses clubes disputavam apenas 2 campeonatos por ano. Não é como hoje que disputam 4 ou 5 e isso, na minha opinião, faz a fila atual do São Paulo ser ainda mais relevante que as anteriores.

Dos anos 90 até hoje verificamos uma série de fenômenos. Maior valorização da Libertadores e do Brasileiro. Estabilidade do regulamento do Brasileiro com pontos corridos, acesso e descenso. Criação de competições como Copa do Brasil e da segunda competição continental (Supercopa dos Campeões da Libertadores, Conmebol, Mercosul e Sul-Americana). Aumento exponencial da receita de patrocínio e de TV. Negociação individual da receita de TV (após implosão do clube dos 13). Criação dos planos de sócio torcedor. Maior relevância da bilheteria (os ingressos de arquibancada custavam US$ 1 dólar nos anos 90). Construção ou reforma de estádios particulares. Fim da lei do passe. Concorrência de outros mercados internacionais (Leste Europeu, Oriente Médio, Japão, China) que geram trocas constantes nos elencos. Aumento do número de jogos e exigência física do esporte e, como consequência, aumento da importância de CT’s e Centros de Reabilitação.

As alterações desse início de milênio são mais profundas das que foram observadas em todo o século passado e isso está sacudindo a estrutura do futebol brasileiro. Começamos a questionar no bar ou em programas esportivos se o Botafogo ainda é grande e se o Athletico Paranaense pode sê-lo. A diferença de receita anual dos clubes vai se acentuando e a igualdade entre os antigos grandes não se observa mais. Fica a dúvida do futuro. Será que nos transformaremos numa Espanha? Voltaremos a reconhecer os 12 clubes grandes?

Difícil responder, mas apostaria num cenário intermediário. Acho difícil a cidade do Rio de Janeiro suportar 4 times grandes. Não terá mais espaço. Acho difícil também que tenhamos 12 clubes relevantes no cenário nacional. Na verdade, usando o exemplo do parágrafo acima, o Botafogo e o Athletico devem se assemelhar a um Everton-ING ou Valencia- ESP. Militarão nas posições intermediarias da liga nacional, num ano bom conseguirão vagas para a principal competição continental e com boa dose de acerto e sorte podem tentar um título no mata-mata, especialmente Copa do Brasil ou Sul-Americana. Por outro lado, atualmente, alguns especulam que Flamengo e Palmeiras dominarão o futebol brasileiro (que se tornaria “espanhol). Difícil, para não dizer impossível. Penso que a forma como nosso futebol foi forjado praticamente elimina a chance do futebol brasileiro ser dominado por apenas 2 clubes. Alguns times têm torcida consolidada e boa capacidade de geração de receita. A pujança econômica do Estado de São Paulo sugere que mais de um time será relevante no cenário nacional. Os Estados de Minas e Rio Grande do Sul devem continuar “exportando” times nacionais. Existe a hipótese de renascimento de algum time carioca (mais provável o Vasco). Enfim, aposto num cenário inglês onde 5 ou 6 times podem se revezar nas principais conquistas. Aos outros, sobrará comemorar os esvaziados campeonatos estaduais que, de uma maneira ou de outra, ainda é uma conquista.

Portanto, hegemonia é uma palavra que não deve existir no futebol brasileiro. Que o Palmeiras não caia nessa “história da carochinha” e continue trabalhando fortemente, dia após dia, para manter seu protagonismo.

Marcelo, o Racional

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O Palmeiras tem Mundial – Uma tentativa de racionalizar o debate

Caros amigos,

Futebol e brincadeira são irmãos gêmeos. Aliás, a “zoeira, a “tiração de sarro” são alavancas que alimentam ainda mais nossa paixão e nosso interesse pelo esporte bretão. Faço parte daqueles que não conseguem enxergar o Palmeiras sem a existência dos nossos principais rivais, nossas principais rivalidades. Sendo assim, nada é mais saboroso que dizer que o Palmeiras não tem Mundial, o Flamengo não é Hexa, o Galo não é Bi, o Fluminense não tem estádio, que o Corinthians e o São Paulo têm estádios forjados com a ajuda da administração pública, que o Santos tem torcida de idosos e por aí vai. Sendo franco, eu acho delicioso isso e quando acontece contra o nosso time eu encaro na boa e tento brincar e argumentar com a resenha. Esse “post” não tem o intuito de esclarecer todas as brincadeiras, mas de tentar trazer um ponto de vista ao debate dos tamanhos dos títulos. Peço a paciência dos leitores já que abusaremos das citações aos rivais.

Visando facilitar, dividiremos os títulos em 4 categorias. Vamos a elas:

1 – Títulos “indiscutíveis”.

Esses são os títulos que necessitam de pouca explicação. Tem a alcunha do nome mais tradicional que esse título é reconhecido e os torneios estão vivendo seu auge de importância. Como exemplo, o Brasileirão do Palmeiras, a Copa do Mundo da França, a Champions do Real e a Libertadores de River.

2 – Títulos importantes cujos campeonatos perderam a importância no tempo ou deixaram de existir.

Os melhores exemplos são os Campeonatos Regionais ou o Rio-SP. Pegando como exemplo nosso maior rival, o título de 1977 tem um peso, um tamanho, uma repercussão absolutamente diferente do título do mesmo clube, contra o mesmo adversário, na mesma competição, 40 anos depois. Para a estatística as 2 conquistas são iguais (títulos paulistas), mas, para a história, são bem diferentes. Uma vale infinitamente mais que a outra. Na época, os campeonatos regionais eram a competição que os torcedores mais valorizavam, de longe. Hoje, não junta 50 torcedores na Avenida Paulista. Não podemos lutar contra a evolução, mas não podemos brigar contra a história. Por isso, o 12 de junho eterno estará sempre nos nossos corações e era um “reles” Campeonato Paulista. Nesse “cluster” de títulos, penso que vale lembrar também da Supercopa dos Campões da Libertadores com jogos épicos envolvendo Flamengo e São Paulo nos anos 90.

3 – Títulos menos desafiadores no passado cujos campeonatos se fortaleceram no futuro.

A Copa do Mundo de 1930 tem rigorosamente o mesmo nome e o mesmo peso estatístico da Copa de 2018. Entretanto, a primeira competição foi disputada por 13 clubes sendo 9 (!!) do continente americano. Foi essa competição que o Uruguai venceu. Já a França em 2018, encarou uma competição que, a rigor, tem quase 200 seleções participando de difíceis eliminatórias e uma fase final com 32 países. É a mesma Copa, mas quanta diferença. Outro exemplo, é a Copa do Brasil que ficou um bom tempo sem a participação dos times que estavam na Copa Libertadores. Mais uma vez, os títulos são iguais na estatística, mas são incomparáveis os títulos da Copa do Brasil de 2012 e 2015 que o Palmeiras conquistou. O último tem uma relevância bem maior. A Copa Sul-Americana também merece uma ressalva. Antes, essa competição não dava vaga para a Libertadores e era um desfile de times reservas. Posteriormente, a competição passou a ter um interesse muito maior dos clubes. Sendo assim, incomparável a sul-americana de 2012 vencida pelo São Paulo e a vencida recentemente pelo Athletico Paranaense.

4 – Títulos importantes cujos nomes não são os mesmos dos atuais.

O Robertão, a Copa União e a Taça João Havelange não tinham a alcunha de “Brasileirão”, mas eram exatamente a mesma coisa. Cabe fazer a ressalva que os regulamentos mudavam intensamente até 2002, mas a essência é rigorosamente a mesma. A Taça Intercontinental (que a FIFA deixou de reconhecer em algum momento) tinha a mesma essência do Mundial de Clubes de atualmente. A Copa Rio (que abordaremos mais à frente) também. O Campeonato Inglês não era a Premier League, tampouco o Campeonato Europeu a Champions League, porém, em que pese as denominações diferentes a importância era exatamente a mesma dos títulos como conhecemos hoje.

Enfim, viver e presenciar os momentos faz uma diferença gritante. Eu presenciei a Copa União de 1987 e posso garantir que todo o Brasil tratou aquele jogo como a decisão do Campeonato Brasileiro. Eu presenciei os Mundiais do São Paulo de 92 e 93 e posso garantir que todos trataram como Campeão Mundial. Anos depois, a CBF reconheceu o Sport como campeão e a FIFA disse que só era campeão Mundial quem disputou de 2005 até os dias atuais (além de 2000). Há pouco ela voltou atrás. Cito esses exemplos para demonstrar que nem sempre o carimbo deve ser levado tão a sério. Evidentemente, quem não viveu esses dias tende a acreditar mais na versão oficial, ou seja, considerar o Sport campeão de 1987.

Falando especificamente da Taça Rio, além do que foi escrito acima, vale ressaltar as manchetes e reportagens da época. A célebre capa da Gazeta Esportiva (foto abaixo) com o inequívoco título “Palmeiras Campeão do Mundo”. A manchete não foi colocada sem sentido. Depois da maior catástrofe esportiva do país em 1950, a CBD organizou o Torneio Internacional de Clubes Campeões e 8 clubes dos países mais relevantes do futebol à época aceitaram os convites. Havia a intenção de que um clube inglês e espanhol também participassem, mas não foi possível, já que a Inglaterra ainda desprezava os torneios fora da Europa e os times espanhóis estavam envoltos em outras competições. De qualquer forma, os 6 convidados estrangeiros representavam a “nata” do futebol internacional. Sporting, Áustria Viena, Nacional (URU), Juventus, Estrela Vermelha (IUG) e Olympique de Nice eram times bastante relevantes em 1951. Os 3 primeiros ficaram no Grupo do Rio de Janeiro e os 3 últimos ficaram em São Paulo. A CBD convidou os campeões paulista e carioca (mais importantes) para representar o país sede. Cabe lembrar que a capital federal ainda era o Rio de Janeiro e o time favorito e que todos apontavam como provável campeão era o Vasco da Gama.





O campeonato de desenrolou e o Palmeiras enfrentou a Juventus em 2 jogos no Maracanã. Mesmo sendo um clube de fora da cidade, mais de 170 mil pessoas acompanharam as 2 decisões o que demonstra que a enorme importância do certame.

Evidentemente, há 70 anos atrás a rivalidade entre os torcedores era muito menor. Era comum os paulistas torcerem por times do Estado nos confrontos estaduais e por times brasileiros nos confrontos internacionais. Em mais uma demonstração da importância da competição, um milhão de pessoas foram às ruas recepcionar os campeões mundiais (segunda foto abaixo). Para se ter uma ideia, a população da cidade era de cerca de 2,5 milhões de habitantes à época. Foi uma verdadeira epopeia na cidade. Momento histórico. O Palmeiras atenuava a dor do torcedor brasileiro em 1950 e mesmo quem não era palmeirense se considerava Campeão do Mundo finalmente. Será mesmo que um milhão de pessoas se deslocariam das casas para celebrar algo sem importância?




Como o fato é muito antigo, poucos estão conosco para contar. Hoje, só estão os “jovens”, aqueles que não viram a Copa União, aqueles que não viram os Títulos Intercontinentais, aqueles que não viveram 1993 e não entendem o motivo de muitos apontarem o 12 de junho como o dia mais felizes das respectivas vidas. Para quem não viveu, só resta uma alternativa. Ler, assistir, escutar, se informar, refletir. Sincera e honestamente acho melhor tirar suas próprias conclusões que uma chancela de alguma entidade do futebol. Aliás, a FIFA diz que é e diz que não é conforme critérios pouco objetivos. Lembro aos torcedores adversários que a própria FIFA numa canetada fez “desaparecer” os títulos mundiais entre 1960 e 2004. Voltou atrás, é verdade, mas mostra o quão estranho são os aspectos que norteiam a decisão. Cada título tem sua importância, seu momento, seu peso histórico, sua importância pelos torcedores, seu nome, sua capacidade de alterar o patamar daquela agremiação. É disso que se trata ou se deveria tratar. Não deveríamos levar em conta apenas o nome do título, afinal eu não preciso chamar D. Pedro I de presidente para tentar aumentar sua importância histórica usando termos atuais.

Parabéns e meu eterno agradecimento a Oberdan, Sarno, Juvenal, Waldemar Fiúme, Túlio, Dema, Lima, Aquiles (Ponce de León), Liminha, Canhotinho (Jair Rosa Pinto) e Rodrigues!!

Palmeiras Campeão do Mundo!!

Marcelo, o Racional

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A Necessidade da Evolução Contínua. A Falácia da Hegemonia no Brasil

Caros amigos,

Terminar o ano com o título brasileiro é motivo de orgulho e muita comemoração. Especialmente no Brasil, tendo em vista o equilíbrio e todas as dificuldades de deslocamento e calendário, a conquista é enorme. Entretanto, o troféu não deveria ter a capacidade de apagar todos os erros ou nos fazer “cegar” e imaginar que encontramos o caminho definitivo para as glórias. A estrada é longa e penso que estamos apenas no começo. Temos muito a caminhar ainda. O aspecto positivo é que não estamos mais atrás dos rivais. Mas, se pararmos de evoluir, rapidamente seremos atropelados.

Sendo assim, o “post” elencará 10 tópicos para atenção da comunidade palestrina. Vamos a eles (a ordem é aleatória, sem querer representar grau de importância):

1 – Necessidade de mudanças estruturais

O Palmeiras é uma ilha de maior profissionalismo nessa balbúrdia conhecida como futebol brasileiro. Mais uma vez, um calendário insano pune os mais competentes. Com um primeiro semestre inútil, com jogos pouco expressivos no Campeonato Estadual e ainda longe das fases decisivas na Libertadores, o ano após agosto é insuportável. A sequência de 9 jogos por mês, sem nenhum tempo de recuperação física e, principalmente, mental, vai minando os principais concorrentes ao título e, por consequência, é mais comum a “distribuição” dos títulos entre os clubes que propriamente alguém conseguir a sonhada “tríplice coroa”. Além disso, mais uma vez, questões “extra-campo” impactaram a vida palestrina. Erros de arbitragem, interferência externa, tribunais, colaboram para diminuir a diferença entre os competentes e os incompetentes. Novamente, repito. Devemos liderar frontalmente as mudanças do futebol brasileiro não por filantropia, mas, por necessidade. Fim dos Estaduais, criação da Liga, extinção dos tribunais, profissionalização da arbitragem, adequação ao calendário mundial são alguns dos temas que, se tratados, permitirá ao Palmeiras se destacar ainda mais em relação aos adversários. Em 2018, é justo reconhecer, já houve alguma evolução nas “peitadas” que demos na FPF e RGT. Entretanto, é pouco, muito pouco, ainda.

2 – Priorização do Brasileirão

Em 2018, temos que agradecer a San Gennaro e a Scolari o principal título nacional. Até agosto, o comportamento da torcida, as entrevistas e as escalações deixavam claro que o Brasileiro não era prioridade. A maldita Libertadores obsessão e a inexplicável (para clubes ricos) Copa do Brasil eram as prioridades. Por um acaso que dificilmente se repetirá, ou seja, performance absurda de pontos do Palmeiras no segundo turno e queda abrupta dos concorrentes, nos vimos em condições de conquistar o título, algo que foi ainda mais possível com as eliminações nas Copas. Vale reforçar um ponto do “post” anterior. Não temos e não teremos um super time titular. Um time que dê boas garantias que passaremos por Cruzeiro, GrêmioBoca ou Flamengo num “mata-mata”. A “única”, porém importante, coisa que temos é o melhor time reserva do Brasil. O único campeonato que pode premiar o melhor time reserva é a competição de 38 rodadas. O Presidente havia prometido priorizar esse campeonato no final de 2017 e isso, claramente, não ocorreu. Que em 2019 priorizemos a competição juntamente com a Libertadores. Por mais que tenha uma boa premiação, a Copa do Brasil tem que ficar em segundo plano. Não se trata de desistir do campeonato, apenas não priorizá-lo.

3 – O Palmeiras não tem Mundial

Relacionado com o tema acima. A rigor, a obsessão não é pela Taça Libertadores, mas, sim, da vaga que o vencedor da competição faz jus. Obsessão gera desvio de foco que, na enorme maioria das vezes, dá errado por causa da “pane mental”. Peço licença para citar o grande Bernardinho que enfileirou diversos títulos, mas sempre teve enormes dificuldades de vencer em casa. Título relevante, apenas um e, não por coincidência, o menos esperado que foi o ouro no Rio. Quando perguntado o motivo ele dizia que a preparação era muito diferente. O jogador pensava em conseguir ingresso para familiar, onde seria a festa de uma eventual conquista, em qual crítico o grupo iria “jogar o título na cara”. Não era exatamente falta de profissionalismo, mas o cenário ficava bem mais complexo. E nesse contexto, quando o jogo ficava complicado toda aquela confiança se transformava em pânico de fracassar diante dos seus, de dar mais “argumentos” para seus inimigos/críticos/detratores. Essa é a origem da “pane mental” que compromete qualquer desempenho. Como o atleta brasileiro não é exatamente maduro emocionalmente, são diversos os casos de “amarelada” no jargão popular. Aumentar o foco no Brasileiro ajudaria a atenuar o ponto acima e a conquista do título continental poderia ser algo mais natural. Não faz o menor sentido entrar na “pilha” de “tiradas de sarro” de torcedores. O rival de Itaquera está numa situação complicadíssima porque não aguentou ouvir que seu time “não tinha estádio”. Se tivessem alugado o Pacaembu, seriam uma potência financeira. Outro ponto é que o Peñarol tem mais Mundial e Libertadores e não passa perto de ser um time protagonista. O “Rei de Copas” Independiente é uma espécie de Botafogo argentino nos dias atuais. Grandeza e protagonismo são coisas diferentes que não se medem apenas por conquistas que, por definição, são esporádicas. Por fim, o Palmeiras tem Mundial. Faremos um “post” no futuro para tratar desse assunto.

4 – Modelo de jogo

Não cansamos de citar o processo de evolução desde a chegada de Paulo Nobre. Porém, ainda não conseguimos definir um modelo de jogo que nos ajudaria a sermos mais assertivos nas contratações e, até por repetição, termos times mais entrosados e jogadas mais “mecânicas” aumentando a chance de jogar bem. Aqui vale uma ressalva. Não se trata de jogar bonito e sim de jogar bem. Obviamente, jogando bem a chance de vitória aumenta. Peço licença para o sacrilégio de citar o rival, mas o time de Carille de 2017, especialmente no primeiro turno, jamais jogou bonito, mas jogava extremamente bem, com um modelo de jogo aplicado e definido. Desde 2013 tivemos na liderança da comissão técnica, Kleina, Gareca, Dorival, Oswaldo Oliveira, Marcelo Oliveira, Cuca, Eduardo Baptista, Cuca, Alberto Valentim, Roger Machado e Felipão, nessa ordem. Percebam que algumas mudanças significaram uma mudança abrupta de conceito de jogo (posse de bola, triangulação, altura da linha defensiva, função do centroavante, etc). Não ter um modelo definido diminui a o poder da vantagem financeira que nos permite ter elencos mais qualificados. Nesse aspecto, o ano de 2017 foi esclarecedor.

5 – Campeão, mas podemos melhorar

Reconheço que a questão do modelo de jogo citada acima é bem complexa no Brasil. Como dito em “posts” anteriores, dada a diferença do orçamento atual em relação aos seus rivais eu optaria por um modelo mais “propositivo”, de imposição do seu jogo sobre o adversário. Porém, reconheço que o futebol brasileiro é muito idiossincrático e, por isso, por mais que não concorde, consigo compreender os motivos que nos levaram até o Felipão. Em 2018, ele conseguiu nos entregar resultados muito robustos, com um título difícil e importante, além de duas semifinais. Não é pouco. O que foi pouco é a qualidade do futebol. Ela foi suficiente para vencer o Brasileiro, mas, insuficientes nos outros torneios, especialmente quando enfrentamos times que fazem o nosso “espelho” como o Cruzeiro. Nosso jogo está muito pautado nas bolas longas, na referência do centroavante e na força dos laterais, algo muito próximo ao final dos anos 90. Entendo que a pré-temporada pode ser útil para a dupla Felipão/Turra treinarem outras formas de jogo, especialmente controlar o jogo com a bola no pé, algo que sentimos muita falta do jogo em Buenos Aires e “furar” defesas melhores postadas como a do Cruzeiro. Apesar do Felipão se autodenominar um técnico de resultados, em algumas entrevistas ele mostrou desconforto com essas carências de controle de jogo. Nesse primeiro semestre, se for genuíno o discurso, o comandante terá todo o tempo e elenco do mundo para treinar e testar essas alternativas.

6- Novas mídias e TV

Peço desculpas aos leitores, mas, não me sinto seguro em tecer comentários mais definitivos nesse tema. Desconheço os valores, a legislação e as alternativas que estariam na mesa. Apenas cito esse tema como ponto de atenção à diretoria, mas mais na forma de apelo de um pai com filho pequeno. O Palmeiras não pode ficar sem jogos ao vivo transmitidos. Não importa o canal, se será TV ou Internet, mas a decisão não pode ter como efeito colateral a impossibilidade do torcedor acompanhar sua maior paixão. Os impactos para o futuro da torcida e seu crescimento seriam enormes. Não há preço, disputa ou ego que justifiquem isso.

7 – Ocupação do Estádio

Num país onde públicos acima de 10 mil pessoas é raridade, parece picuinha chamar a atenção para esse tema após 2015. Porém, no conceito de evolução, acho que podemos mais. Tendo em vista a lua de mel entre torcida e time, aliado ao círculo virtuoso de times mais fortes, mais chance de títulos e mais empolgação, o Palmeiras poderia buscar uma ocupação maior de seu estádio. Já elogiamos a torcida e o estádio no “post” anterior, mas temos de reconhecer o efeito colateral que dificultou o acesso do torcedor mais humilde no estádio. Porém, há lugares disponíveis no estádio. Nesse fim de ano, o canal Premiere vem reprisando os jogos do Palmeiras no Brasileiro e é interessante notar que em vários jogos, especialmente até a 25ª rodada, existiam vários lugares não ocupados, especialmente na Central Leste, exatamente onde a câmera primária transmite. Enfim, pela média, sobram cerca de 10 mil lugares por jogo. Fica o desafio para os dirigentes de encontrar um algoritmo de precificação que diminua os lugares vazios, não desestimule o Avanti e tampouco diminua a renda bruta. Existem ações em alguns clubes para ingressar torcedores de renda mais baixa em jogos menos importantes. Podemos avaliar com atenção o que o Internacional-RS e o Paysandu já fazem e verificar se faz sentido para o Palmeiras.

8 – Avanti

O programa teve seu ápice em 2015, impulsionado pelo histórico chapéu do Dudu e pelo incessante trabalho de marketing. Alexandre Mattos era o “garoto propaganda” e, em toda a entrevista, o ex-presidente Paulo Nobre citava a importância do Avanti e pedia para o torcedor colaborar. De uns anos para cá, essa volúpia diminuiu muito e foi acrescida de instabilidades no sistema que irritam o torcedor, trazendo severas dificuldades para a aquisição do ingresso. Não por coincidência, os poucos números conhecidos demonstram, na melhor das hipóteses, uma estabilização do número de sócios, sendo que seria intuitivo imaginar um aumento em virtude das conquistas. Essa é a receita mais estável e sadia que um clube pode ter. Vale aumentar a atenção.

9 – Hegemonia

Vamos combinar? Não existe e dificilmente existirá hegemonia no futebol brasileiro. Os motivos são muitos (será tema de um outro “post”), mas nosso país comporta mais de 2 times revezando os principais títulos, algo bem diferente dos principais centros europeus e até sul-americanos. Por diversas vezes, eu mesmo especulei se algum time não tinha encontrado o caminho das “vitórias eternas”. A história mostra que não por dois motivos. O primeiro é a soberba que acompanha os líderes. O rival do Morumbi se autodenominou soberano e esqueceu de evoluir. O rival de Itaquera acreditou em megalomania e fez contratações absurdas (Pato) e, mesmo com os aspectos antirrepublicanos envolvidos, nada justificava a aventura do estádio. O Palmeiras nos anos 90 e o Fluminense nos anos 2000 de alguma maneira acreditavam que os patrocínios seriam eternos. Enfim, há uma longa lista de clubes que se encantaram com as glórias. O segundo motivo é que os rivais se incomodam com o início da hegemonia e se mexem para diminuir a distância ou até ultrapassar. O Rio Grande é um bom exemplo. Um constrói o estádio o outro constrói também. Um reforma e o outro reforma também. Um ganha algum título internacional e o outro se mobiliza para ganhar também. É natural. Já em 2019 seremos mais desafiados. O Flamengo, mais cedo ou mais tarde, infelizmente, entrará na rota dos títulos. O Grêmio e Cruzeiro continuarão com bons times que já fizeram frente ao nosso nos últimos anos. O time da Zona Leste voltará a ser forte através do resgate do modelo de jogo do antigo treinador. O rival da Zona Sul vem recuperando sua capacidade de investimento e já conseguiu um brilhareco em 2018. Mais a longo prazo, algum time que está fadado ao fracasso nos dias atuais (um Vasco, por exemplo) pode também encontrar o seu caminho através dos respectivos “Paulos Nobres e Crefisas” que existam e voltar aos tempos mais gloriosos. Enfim, é cíclico. Não temos nenhuma atuação no segundo motivo, mas depende só do Palmeiras atuar no primeiro que é a soberba. Essa responsabilidade é de toda a coletividade, inclusive da torcida que será “tentada” a acreditar em Real Madri das Américas especialmente pela despreparada imprensa esportiva.

10– Pacificação Política

No âmbito político, podemos definir 2017 como pitoresco. P brigou com L e, por isso, MC rompeu com P e ficou com L. MG, com receio de perder capital político e financeiro, fica com L e, por consequência, rompe com P. Posteriormente,  L descobre que M fazia cambismo barato e rompe com o mesmo. M não se fez de rogado e passa a apoiar P. Enredo de fazer inveja à diretor de novela ou à cidade de Brasília. Entretanto, em 2018, conseguimos cavar ainda mais o fundo do poço. Mudança de estatutos e a eleição fizeram a temperatura fervilhar com acusações de todos os lados, especialmente da oposição que alega (com alguma razão, penso eu) que os eventos (mimos/jantares) patrocinados aos sócios poderiam ter alguma influência eleitoral. Porém, nunca podemos subestimar a “capacidade criativa” de se autodestruir dos dirigentes palmeirenses e o pior ainda estava por vir.  A “proposta” da Blackstar entra para o folclore do futebol nacional e a oposição se presta a um papel vexatório. Desnecessário ressaltar que instabilidade política pode criar uma série de repercussões no clube, desde aspectos administrativos e financeiros, passando obviamente pelo campo. Seria muito importante que, se não a união definitiva, pelo menos um “armistício” fosse alinhado com o intuito de pensarmos primeiramente no clube e depois nos interesses políticos. Sei que parece utópico, sei que as pontes entre as correntes políticas estão destruídas, mas é de suma importância que evoluamos nesse aspecto. Só e somente só pelo fato de Galiotte estar no poder, penso que deveria partir desse grupo político o primeiro movimento para uma maior pacificação.

Esses são os pontos mais relevantes de atenção. Após um espetacular título brasileiro é mais desafiador citar aspectos de melhoria, já que toda a coletividade está mais interessada em desfrutar das vitórias. Porém, parafraseando Santo Agostinho, os dirigentes do Palmeiras deveriam preferir a crítica que os corrige aos elogios que os corrompem. O Palmeiras forte só é possível através do esforço diário, trabalho duro e paixão de todos.

Aproveito para desejar a toda a comunidade palestrina um Feliz Natal e um excelente 2019 com muitas alegrias e conquistas!!

Marcelo, o Racional

2018 – Os Efeitos do Protagonismo

Caros amigos,

Mantendo a tradição, o especial “post” de fim de ano. Antes de mais nada, sempre importante agradecer o espaço aberto gentilmente pelo nosso amigo Prisco, palmeirense do mais alto gabarito. Nesse ano, antes de escrever, li os artigos anteriores e é nítido o processo de evolução da nossa agremiação. Era assustador o que vivíamos há apenas 5 anos atrás e, sim, corríamos um risco enorme de perdermos relevância. Sugiro a toda comunidade palmeirense jamais esquecer o que passamos para valorizarmos o que conquistamos (não me refiro à títulos) e nunca cairmos em tentação de voltarmos às trevas por meio de caminhos supostamente mais fáceis. Ao lembrar do que aconteceu, sempre temos de valorizar o homem que permitiu a retomada, Paulo Nobre, o San Gennaro do século XXI. Outro ponto importante e, até certo ponto, óbvio é que todo processo de evolução não é linear. Ele tem altos e baixos inerentes e, por isso, nesse ano teremos uma novidade. O primeiro “post” tratará de aspectos positivos. O segundo das preocupações e aspectos de melhoria. Peço desculpas antecipadas aos leitores, pois como alguns desafios não se alteram, o texto pode soar repetitivo em relações aos anos anteriores, porém, penso que vale reforçar alguns pontos. Comecemos, pois, pelos aspectos positivos.

Após anos acertando mais que errando (mérito também de Maurício Galiotte), o Palmeiras tem um título inegável. Protagonista. Simples assim. Protagonista. É exatamente através do protagonismo que os títulos acabam “pipocando” aqui e ali. Mesmo quando não fazemos tudo certo, quando trocamos de técnico no meio da temporada, quando não priorizamos um campeonato, o título ou, na pior das hipóteses, uma boa colocação no campeonato coroa o nosso ano. O poderio financeiro, aliado a um bom planejamento de contratações, nos coloca em evidência no futebol nacional. Cabe um elogio ao Alexandre Mattos em todo esse processo. Longe, bastante longe de ser perfeito, trata-se do melhor profissional em atividade no Brasil. Seus resultados financeiros (gastos x vendas) e esportivos são muito superiores aos seus pares. Evidentemente, algumas contratações deram errado, mas o processo e a lógica de contratações vêm respeitando, na maioria das vezes, critérios técnicos e de oportunidades que o mercado oferece. Muitos argumentam que com dinheiro é fácil, mas muitos times investiram tanto ou mais que o Palmeiras nos últimos anos. Em 2018, por exemplo, o time que mais investiu foi o rival da Zona Sul. O Flamengo tem dinheiro há 4 anos e ganhou muito pouco. Esses adversários demonstram bem as diferenças da gestão Mattos. Enquanto o SPFC vende jovens da base para contratar velhos medalhões, o Palmeiras vai ao mercado trazer os jovens valores do campeonato e, de forma muito pontual, contrata algum atleta com mais de 30 anos. O Flamengo, por exemplo, aposta também em contratações pagando o valor da multa (vide Diego e Vitinho), enquanto o Palmeiras espera o fim do contrato não tendo de desembolsar esse valor, “sobrando” dinheiro para um salário maior (Lucas Lima e Scarpa). Vale lembrar que, diferentemente da Parmalat que “pescava” na segunda prateleira do futebol brasileiro (a primeira estava na Europa Ocidental), o Alexandre Mattos tem que “pescar” na quarta prateleira já que as 3 primeiras estão na Europa Ocidental e Oriental, China, Arábia, Egito, etc. A capacidade de “leitura” de mercado e antecipação é fundamental. A vinda dos maiores destaques de 2018 (Zé Rafael e Arthur) foram tratadas com boa antecedência. A sensação que fica é que enquanto nossos rivais estarão fazendo a primeira contratação de 2019, nós estaremos fazendo a segunda de 2020. Com um elenco robusto, a chance de protagonismo aumenta exponencialmente.

Entretanto, o futebol brasileiro não é para amadores. As alterações de calendário aliado à manutenção dos absurdos estaduais, faz com que o segundo semestre dos times protagonistas seja absolutamente infernal. Dado que não temos mais jogadores de primeira prateleira no elenco, a “certeza” de título é menor que nos anos 90. O ano passado foi emblemático para demonstrar isso. Estávamos indo pelo mesmo caminho, até que o novo técnico nos “ensinou” como melhor aproveitar esse elenco. Seja por sua experiência na Europa, seja por sua capacidade de gestão de pessoas, o fato é que ele rodou bastante o elenco com resultados muito satisfatórios. Mérito inegável de Scolari.

Esse elenco é reforçado por um outro alicerce iniciado no mandato anterior que é a categoria de base. Esse tema era motivo de piada e hoje nos dá retorno técnico e financeiro. O estádio (menção honrosa ao Belluzzo), a melhoria flagrante das instalações do clube, a alteração da data da eleição para novembro (observem o atraso no planejamento do Flamengo) e o mandato de 3 anos são outros aspectos que auxiliam o bom andamento do processo. O clube tem uma excelente administração financeira, corroborado por análises independentes (Itaú BBA) e, mais importante, temos fontes variadas de receita não sendo dependente exclusivamente da patrocinadora. Aqui, talvez, a maior diferença do período da Parmalat. Caso a patrocinadora decida ir embora, temos um CT e estrutura de reabilitação de jogadores de primeiro mundo, aliado a um “hotel” que permite economizarmos em diárias que gastávamos na concentração para os jogos na capital paulista. Além da estrutura física, a diversidade de receita (TV, Avanti, Bilheteria, venda de jogadores) permitiria o Palmeiras caminhar com as suas próprias pernas, sem a queda abrupta que observamos no triênio (2001/2002/2003).

Falando em Avanti, a torcida do Palmeiras merece um capítulo especial. Rapidamente, conseguiu-se criar uma nova identidade na arena. O risco do estádio se tornar frio, sem alma, foi rapidamente afastado nos primeiros jogos após a inauguração. Se o nível de “amendoinhozismo” não caiu nas redes sociais, o mesmo não pode se dizer do comportamento médio do torcedor no estádio. Penso que o apoio nos 90 minutos é até superior ao antigo Palestra Itália. Cabe ressaltar também que esse maior apoio veio em conjunto com o aumento de renda. Os ingressos mais caros não transformaram o estádio em teatros, como em algumas arenas europeias.

Enfim, a jornada foi longa, mas chegou a hora de desfrutar os benefícios do trabalho de longo prazo e do protagonismo. Parabéns à toda comunidade palestrina que em menor ou maior grau têm responsabilidade nisso. O maior campeão do Brasil, história maravilhosa, riquíssima, não só em títulos, mas fazendo parte de todas as transformações sociais e políticas do Brasil com enorme relevância.

O risco, agora, é da acomodação. É disso que tratará o próximo “post”.

Marcelo, o Racional

segunda-feira, 2 de julho de 2018

VAR OU NÃO VAR, EIS A QUESTÃO

Caros amigos,

Cruzando o Atlântico a caminho da Rússia, para participar de uma das grandes festas do planeta. Até aqui, nenhum incidente e problemas na organização e as notícias são de um povo extremamente acolhedor e hospitaleiro. Tendo tempo, a ideia é publicar posts mais curtos, direto da Rússia, tentando trazer um pouco do ambiente do local.

Nessa primeira fase, além da eliminação da campeã do mundo, a grande notícia foi o VAR. Envolto em uma série de polêmicas, o tema vem trazendo uma série de discussões acaloradas no mundo do futebol. Parafraseando o filósofo Vanderlei Luxemburgo, a polêmica vem exatamente do fato de o VAR “não pertencer ao futebol” até então. 

Importante reconhecer que o futebol foi “empurrado” para a adoção da tecnologia, mesmo com a, digamos, relutância do “board” da FIFA. Praticamente todos os esportes já adotam diversos mecanismos para atenuar a falha humana. Além disso, o avanço da qualidade das transmissões e suas infindáveis câmeras fez do árbitro um elemento muito mais questionado que antes. Incompetência à parte, o olho humano não consegue concorrer com a tecnologia. 

Desde que assumiu a presidência da FIFA, Infantino tenta rejuvenescer a entidade e acolher ainda mais países. Sincera ou não, essa é a narrativa política de seu mandato. Por isso, Copa de 2026 com 48 clubes e o uso da Copa do Mundo como “cobaia” do VAR. 

Pessoalmente, sou a favor da tecnologia no futebol. Entretanto, o açodamento em usá-la já nessa Copa, com poucos testes efetivos em campeonatos, com pouco debate, pode dar munição aos mais conservadores e contrários à ideia. 

Observando essa primeira fase, nota-se que a arbitragem está usando o VAR como muleta. É sempre melhor marcar algo e, eventualmente, o VAR desmarcar do que o contrário. O motivo principal é que não está pacificado o momento em que o jogo é parado. Imaginem um pênalti não marcado pelo juiz e, no contra-ataque, a equipe adversária marca um gol. Pela regra atual, o gol seria anulado e o pênalti marcado, gerando um anti-clímax terrível para o jogo e seus aficionados. 

Pode-se notar também que há bastante desconhecimento do público e dos jogadores de quando o VAR será usado. O jogo fica por alguns segundos com a aflição do desconhecido. Valerá? Não valerá?

Portanto, a FIFA deveria ser a guardiã para que uma ótima ideia não vire uma péssima experiência. A primeira atitude seria não testar o modelo no principal campeonato, mas já que isso não é mais possível, é importante que ela estimule a evolução desse caminho (sem volta). 

O órgão máximo do futebol poderia estimular que os principais países utilizassem a tecnologia em suas Copas. São campeonatos menos importantes que as Ligas e, especialmente nas primeiras fases, com jogos sem grande apelo. Além disso, poderia testar aspectos que já deram certo em outros esportes como o desafio, ou seja, o jogo só seria parado por um pedido do time prejudicado. Evidentemente, não se pode pedir desafios indiscriminadamente.  O tênis e a NFL, por exemplo, tiram um desafio quando a primeira pedida se mostra “falsa”. Um outro aspecto, é a questão do famoso “lance interpretativo”. Há nuances nos lances de campo que a câmera lenta pode induzir o juiz ao erro. O lance do pseudo empurrão no Miranda é sintomático. Na câmera lenta, falta. No jogo “jogado”, normal. Por fim, garantir que o diretor de imagem seja um profissional de arbitragem também. Afinal, um “frame” a mais ou a menos pode mudar a interpretação do lance. Escolher uma câmera em detrimento da outra, a mesma coisa. 

Enfim, parece que a tecnologia chegou para ficar. Tomara que os cuidados sejam tomados e o futebol chegue, finalmente, ao novo milênio. 

E Viva a Rússia!!

Marcelo, o Racional 

quarta-feira, 30 de maio de 2018

O PALMEIRAS NÃO É PARA AMADORES

Caros amigos,

Tendo em vista os últimos dias de nossa amada instituição, quebraremos a rotina de “posts” apenas em finais de ano. Afinal, parafraseando Tom Jobim, o Palmeiras não é para amadores...

O momento atual é extremamente complexo. Infelizmente, não se trata de apenas 1 (uma) causa, mas, diversas, que se retroalimentam e a resultante é essa sensação de insatisfação e descrença. Tentarei abordar alguma delas a partir de agora. Ressalto que a ordem e os números NÃO têm relação com relevância ou maior importância. Trata-se apenas de uma sequência.

1 – Pressão

Peço a licença para citar debates com meu grande e antigo amigo, Alexandre Zanotta. Há cerca de 2 décadas discutimos Palmeiras quase que diariamente. Na época das vacas magras eu argumentava a questão de medalhões no mandato do Belluzzo e ele argumentava que o período sem títulos praticamente inviabilizava uma gestão racional pela carência de títulos. Depois dos títulos, a coisa melhoraria. Apesar de discordar, não podia deixar de reconhecer uma certa lógica no que era dito. Pois bem, após 2 títulos nacionais recentes, a pressão em 2018 talvez seja até maior. Antes era a fila, hoje o motivo é o “investimento”. Algo como se autopunir com o sucesso. Amanhã “inventaremos” outro motivo. Evidentemente que trata-se de uma característica de qualquer clube grande, mas, na Pompeia, chega-se a nível de histeria coletiva.

2 – Torcida

Em que pese reconhecer alguma evolução no comportamento dentro dos 90 minutos, a torcida que canta e vibra continua com suas idiossincrasias. Só no Palmeiras existe a “contratação com pressão contratada”. Lucas Lima, desejo de qualquer time da Série A, percebe que tem que matar “um leão por jogo”, senão a torcida não vai perdoar. Como a auto profecia realizada, o nervosismo aumenta, a vaia aumenta e o jogador não rende. Além disso, sempre um desejo inconsciente por pedir quem não está no campo. Quando o Borja joga, queremos Willian, quando Willian joga, queremos Borja. Nossa “raiva” busca nomes e não o contexto. E a troca incessante de técnicos e jogadores, acreditem, só atrasa mais o processo. Para concluir esse item, outra idiossincrasia palestrina. Nos outros times, a organizada apoia e os outros “cornetam”. Aqui, a organizada “corneta” e os outros apoiam. De novo, característica de clube grande, mas, na Pompeia é maior.

3 – Diferença relativa entre elencos

Evidentemente não se faz futebol sem dinheiro. Mas, não há correlação no futebol mundial entre maior investimento e título. Há correlação entre maiores investimentos e melhores posições nos campeonatos. Para tanto, podemos citar o Real Madri no começo dessa década e o próprio PSG (em nível europeu) nos dias atuais. Esses times fracassaram e/ou demoraram para ganhar títulos. Porém, no imaginário alviverde lembramos da época da Parmalat onde investimento era sinônimo de domínio. Aqui vale fazer 2 ressalvas. A primeira é que o investimento é relativamente menor ao da época da Parmalat. Escolhemos (acertadamente), o caminho de jogadores em fim de contrato, sem gastar com o antigo passe/direitos federativos. Sendo assim, jamais contrataremos um Vinicius Junior, mas podemos contratar um Scarpa. A segunda ressalva é que, diferentemente dos anos 90, o mundo estrangeiro que se resumia à Europa Ocidental, observou a entrada de novos mercados. Arábia, Leste Europeu, China, entre outros. Sendo assim, nos anos 90, a “primeira prateleira” era toda consumida pela Europa, mas a segunda ficava com a gente. Lembro que Edilson, Djalminha e Luizão vieram do Guarani, Roberto Carlos do União de Araras, Flavio Conceicção do Rio Branco – SP, Edmundo do Vasco e por aí vai. Hoje, esses jogadores, certamente, já estariam no Leste Europeu com 19 anos. Sendo assim, Alexandre Mattos tem que se suprir na “quarta ou quinta prateleira” de jogadores. Enfim, fica a provocação. O time do Palmeiras é absurdamente melhor que o São Paulo? Que o Corinthians? Que o Grêmio? Peço atenção ao advérbio da pergunta. Ele é importante, pois, sem ele, difícil garantir o domínio pleno sobre os rivais. Importante ressaltar que o investimento vem garantindo o protagonismo. Ganhamos 2 títulos nacionais e fomos vice no ano passado.

4 – Não escolher um caminho

Tendo em vista que o investimento, por si só, não será suficiente para chegar ao título, percebemos que as conquistas são derivadas de trabalho e repetição. Mais que isso, escolher um caminho. Afinal, qual a proposta de jogo do Palmeiras? Reativa como o SCCP? Agressiva como o Santos dos bons tempos? Posse de bola e triangulação como o Grêmio? Escolhido um modelo de jogo, as contratações são muito mais assertivas e com mais chance de darem certo. Jogadores rápidos, fortes, passadores, rompedores com bola no pé? Qual a característica? Esse é o motivo pelo qual o SCCP é uma fábrica de novos zagueiros e volantes, vendidos a preço de ouro, de acordo com sua característica reativa. Por isso, o Santos é uma fábrica de atacantes velozes e habilidosos, também vendidos a preço de ouro. E o próprio Grêmio deve fazer alta grana com Arthur e Luan, pilares do toque de bola gaúcho. Faço a ressalva que o processo de contratação do Palmeiras melhorou demais. Acertamos mais que erramos. Entretanto, como não temos um modelo de time, tentamos juntar características de jogadores que nem sempre dão certo.

5 – Falta de trabalho

Provavelmente por não termos um caminho escolhido, as frustrações e paciência com maus resultados é menor. Como consequência, mesmo em época de vacas mais gordas trocamos demasiadamente de treinador. Ano passado foi surreal. Trocamos do reativo Eduardo Batista para o Porco Doido do Cuca e terminamos com Alberto “linha alta” Valentim. Paradoxalmente, terminar em segundo um campeonato Brasileiro com essa situação demonstra exatamente a força do questionado investimento. Em 2018, escolhemos Roger Machado, com característica de posse de bola e triangulação. Confesso que é meu “método” preferido, mas, de longe, repito, de longe é o que mais demanda tempo para implantar. Suportaremos? Caso o Roger caia, traremos um nome com as mesmas características ou vamos escolher por outra razão, tal como grife, e faremos uma proposta a um Abel reativo?

6 – Desvio da política desconhecidos x medalhões.

Em 2015 e 2016, a estratégia era nítida. Buscar jogadores com fome, até certo ponto desconhecidos, porém com “scout” e potencial incontestáveis. E fomos campeões com Vitor Hugo, Moisés, Mina, Tchê Tchê, Dudu (na época com muita fome), Jailson, Gabriel Jesus (base), Thiago Santos, etc. Depois de 2016, mudamos a política e “aceitamos” mais grife como Felipe Melo, Borja, Guerra, Michel Bastos entre outros. E os resultados não foram os mesmos. Conceitualmente falando, sempre é melhor apostar mais em Hyorans que em Scarpas. Por mais que a torcida pense diferente.

7 – Estrutura profissional em ambiente amador

Os clubes brasileiros são os que mais jogam no planeta. Fizeram 770 jogos na última década enquanto os europeus fizeram cerca de 550. A diferença, de forma resumida, está no jurássico campeonato estadual. As arbitragens, os tribunais, são amadores. A tabela, o campeonato são feitos por amadores. O amadorismo nivela as forças. Pegando 2018 como exemplo, sendo ano de Copa, Roger Machado treinou com bola 7 dias para enfrentar o Santo André no meio de janeiro. Pensou um time com Tche Tche, com Thiago Martins, sem Keno, etc. E vai se virando nos sucessivos jogos quarta e domingo. Insisto num tema que venho abordando há anos no querido “Prisco Palestra”. O Palmeiras tem que liderar as mudanças não por altruísmo, mas porquê, de longe, será o clube mais beneficiado por uma estrutura profissional.

8 – Instabilidade Política

Em 2016, nos iludimos que uma inédita paz chegou ao Palmeiras. Paulo Nobre fazia seu sucessor sendo candidato único. Alinhamento entre a maioria dos entes políticos e, com algumas rusgas é verdade, até com o patrocinador. Um dia após a posse de Galiotte, um terremoto treme os alicerces do Allianz Parque. Paulo Nobre para um lado, Mustafá e Leila para o outro. Meses depois, Mustafá migra para o outro lado. Além disso, abusando de uma interpretação elástica, é permitido à sócia da Crefisa disputar o cargo de conselheira. E o caminho para sua presidência está absolutamente pavimentado com a alteração no estatuto aprovada há poucos dias. Os reflexos desse tema podem não ser sentidos exatamente nos próximos 90 minutos de um jogo. Porém, no médio prazo, a instituição corre o risco de pagar um alto preço, no limite, até afugentando outros parceiros e empresários de jogadores, além da invasão política no CT.

Enfim, o tema é complexo. Compreendo que a esmagadora maioria da torcida não concorda, mas insisto que a solução passa pelos pontos acima. Também reconheço que é bem difícil todos os pontos serem atacados ao mesmo tempo. Sendo assim, pressupondo que o estilo de jogo atual é o escolhido pelo Palmeiras (difícil acreditar, mas vou pressupor), sou favorável à manutenção do técnico, à manutenção do trabalho com Alexandre Mattos e que as próximas contratações lembrem mais 2015/2016 que 2017/2018. Sempre lembrando que a obrigação é ser protagonista, não ganhar títulos, afinal, o Palmeiras, queiram ou não, tem rivais poderosos, seja em estrutura, seja em finanças, seja em torcida. Futebol é convicção e não “quarta e domingo”. Os resultados contra Cruzeiro e São Paulo não deveriam definir nosso futuro. Para o bem ou para o mal. Se ainda é utópico exigir convicção e bom senso de torcedor (como seria bom...), não podemos tolerar fraqueza dos dirigentes.

Marcelo, o Racional