sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A Necessidade da Evolução Contínua. A Falácia da Hegemonia no Brasil

Caros amigos,

Terminar o ano com o título brasileiro é motivo de orgulho e muita comemoração. Especialmente no Brasil, tendo em vista o equilíbrio e todas as dificuldades de deslocamento e calendário, a conquista é enorme. Entretanto, o troféu não deveria ter a capacidade de apagar todos os erros ou nos fazer “cegar” e imaginar que encontramos o caminho definitivo para as glórias. A estrada é longa e penso que estamos apenas no começo. Temos muito a caminhar ainda. O aspecto positivo é que não estamos mais atrás dos rivais. Mas, se pararmos de evoluir, rapidamente seremos atropelados.

Sendo assim, o “post” elencará 10 tópicos para atenção da comunidade palestrina. Vamos a eles (a ordem é aleatória, sem querer representar grau de importância):

1 – Necessidade de mudanças estruturais

O Palmeiras é uma ilha de maior profissionalismo nessa balbúrdia conhecida como futebol brasileiro. Mais uma vez, um calendário insano pune os mais competentes. Com um primeiro semestre inútil, com jogos pouco expressivos no Campeonato Estadual e ainda longe das fases decisivas na Libertadores, o ano após agosto é insuportável. A sequência de 9 jogos por mês, sem nenhum tempo de recuperação física e, principalmente, mental, vai minando os principais concorrentes ao título e, por consequência, é mais comum a “distribuição” dos títulos entre os clubes que propriamente alguém conseguir a sonhada “tríplice coroa”. Além disso, mais uma vez, questões “extra-campo” impactaram a vida palestrina. Erros de arbitragem, interferência externa, tribunais, colaboram para diminuir a diferença entre os competentes e os incompetentes. Novamente, repito. Devemos liderar frontalmente as mudanças do futebol brasileiro não por filantropia, mas, por necessidade. Fim dos Estaduais, criação da Liga, extinção dos tribunais, profissionalização da arbitragem, adequação ao calendário mundial são alguns dos temas que, se tratados, permitirá ao Palmeiras se destacar ainda mais em relação aos adversários. Em 2018, é justo reconhecer, já houve alguma evolução nas “peitadas” que demos na FPF e RGT. Entretanto, é pouco, muito pouco, ainda.

2 – Priorização do Brasileirão

Em 2018, temos que agradecer a San Gennaro e a Scolari o principal título nacional. Até agosto, o comportamento da torcida, as entrevistas e as escalações deixavam claro que o Brasileiro não era prioridade. A maldita Libertadores obsessão e a inexplicável (para clubes ricos) Copa do Brasil eram as prioridades. Por um acaso que dificilmente se repetirá, ou seja, performance absurda de pontos do Palmeiras no segundo turno e queda abrupta dos concorrentes, nos vimos em condições de conquistar o título, algo que foi ainda mais possível com as eliminações nas Copas. Vale reforçar um ponto do “post” anterior. Não temos e não teremos um super time titular. Um time que dê boas garantias que passaremos por Cruzeiro, GrêmioBoca ou Flamengo num “mata-mata”. A “única”, porém importante, coisa que temos é o melhor time reserva do Brasil. O único campeonato que pode premiar o melhor time reserva é a competição de 38 rodadas. O Presidente havia prometido priorizar esse campeonato no final de 2017 e isso, claramente, não ocorreu. Que em 2019 priorizemos a competição juntamente com a Libertadores. Por mais que tenha uma boa premiação, a Copa do Brasil tem que ficar em segundo plano. Não se trata de desistir do campeonato, apenas não priorizá-lo.

3 – O Palmeiras não tem Mundial

Relacionado com o tema acima. A rigor, a obsessão não é pela Taça Libertadores, mas, sim, da vaga que o vencedor da competição faz jus. Obsessão gera desvio de foco que, na enorme maioria das vezes, dá errado por causa da “pane mental”. Peço licença para citar o grande Bernardinho que enfileirou diversos títulos, mas sempre teve enormes dificuldades de vencer em casa. Título relevante, apenas um e, não por coincidência, o menos esperado que foi o ouro no Rio. Quando perguntado o motivo ele dizia que a preparação era muito diferente. O jogador pensava em conseguir ingresso para familiar, onde seria a festa de uma eventual conquista, em qual crítico o grupo iria “jogar o título na cara”. Não era exatamente falta de profissionalismo, mas o cenário ficava bem mais complexo. E nesse contexto, quando o jogo ficava complicado toda aquela confiança se transformava em pânico de fracassar diante dos seus, de dar mais “argumentos” para seus inimigos/críticos/detratores. Essa é a origem da “pane mental” que compromete qualquer desempenho. Como o atleta brasileiro não é exatamente maduro emocionalmente, são diversos os casos de “amarelada” no jargão popular. Aumentar o foco no Brasileiro ajudaria a atenuar o ponto acima e a conquista do título continental poderia ser algo mais natural. Não faz o menor sentido entrar na “pilha” de “tiradas de sarro” de torcedores. O rival de Itaquera está numa situação complicadíssima porque não aguentou ouvir que seu time “não tinha estádio”. Se tivessem alugado o Pacaembu, seriam uma potência financeira. Outro ponto é que o Peñarol tem mais Mundial e Libertadores e não passa perto de ser um time protagonista. O “Rei de Copas” Independiente é uma espécie de Botafogo argentino nos dias atuais. Grandeza e protagonismo são coisas diferentes que não se medem apenas por conquistas que, por definição, são esporádicas. Por fim, o Palmeiras tem Mundial. Faremos um “post” no futuro para tratar desse assunto.

4 – Modelo de jogo

Não cansamos de citar o processo de evolução desde a chegada de Paulo Nobre. Porém, ainda não conseguimos definir um modelo de jogo que nos ajudaria a sermos mais assertivos nas contratações e, até por repetição, termos times mais entrosados e jogadas mais “mecânicas” aumentando a chance de jogar bem. Aqui vale uma ressalva. Não se trata de jogar bonito e sim de jogar bem. Obviamente, jogando bem a chance de vitória aumenta. Peço licença para o sacrilégio de citar o rival, mas o time de Carille de 2017, especialmente no primeiro turno, jamais jogou bonito, mas jogava extremamente bem, com um modelo de jogo aplicado e definido. Desde 2013 tivemos na liderança da comissão técnica, Kleina, Gareca, Dorival, Oswaldo Oliveira, Marcelo Oliveira, Cuca, Eduardo Baptista, Cuca, Alberto Valentim, Roger Machado e Felipão, nessa ordem. Percebam que algumas mudanças significaram uma mudança abrupta de conceito de jogo (posse de bola, triangulação, altura da linha defensiva, função do centroavante, etc). Não ter um modelo definido diminui a o poder da vantagem financeira que nos permite ter elencos mais qualificados. Nesse aspecto, o ano de 2017 foi esclarecedor.

5 – Campeão, mas podemos melhorar

Reconheço que a questão do modelo de jogo citada acima é bem complexa no Brasil. Como dito em “posts” anteriores, dada a diferença do orçamento atual em relação aos seus rivais eu optaria por um modelo mais “propositivo”, de imposição do seu jogo sobre o adversário. Porém, reconheço que o futebol brasileiro é muito idiossincrático e, por isso, por mais que não concorde, consigo compreender os motivos que nos levaram até o Felipão. Em 2018, ele conseguiu nos entregar resultados muito robustos, com um título difícil e importante, além de duas semifinais. Não é pouco. O que foi pouco é a qualidade do futebol. Ela foi suficiente para vencer o Brasileiro, mas, insuficientes nos outros torneios, especialmente quando enfrentamos times que fazem o nosso “espelho” como o Cruzeiro. Nosso jogo está muito pautado nas bolas longas, na referência do centroavante e na força dos laterais, algo muito próximo ao final dos anos 90. Entendo que a pré-temporada pode ser útil para a dupla Felipão/Turra treinarem outras formas de jogo, especialmente controlar o jogo com a bola no pé, algo que sentimos muita falta do jogo em Buenos Aires e “furar” defesas melhores postadas como a do Cruzeiro. Apesar do Felipão se autodenominar um técnico de resultados, em algumas entrevistas ele mostrou desconforto com essas carências de controle de jogo. Nesse primeiro semestre, se for genuíno o discurso, o comandante terá todo o tempo e elenco do mundo para treinar e testar essas alternativas.

6- Novas mídias e TV

Peço desculpas aos leitores, mas, não me sinto seguro em tecer comentários mais definitivos nesse tema. Desconheço os valores, a legislação e as alternativas que estariam na mesa. Apenas cito esse tema como ponto de atenção à diretoria, mas mais na forma de apelo de um pai com filho pequeno. O Palmeiras não pode ficar sem jogos ao vivo transmitidos. Não importa o canal, se será TV ou Internet, mas a decisão não pode ter como efeito colateral a impossibilidade do torcedor acompanhar sua maior paixão. Os impactos para o futuro da torcida e seu crescimento seriam enormes. Não há preço, disputa ou ego que justifiquem isso.

7 – Ocupação do Estádio

Num país onde públicos acima de 10 mil pessoas é raridade, parece picuinha chamar a atenção para esse tema após 2015. Porém, no conceito de evolução, acho que podemos mais. Tendo em vista a lua de mel entre torcida e time, aliado ao círculo virtuoso de times mais fortes, mais chance de títulos e mais empolgação, o Palmeiras poderia buscar uma ocupação maior de seu estádio. Já elogiamos a torcida e o estádio no “post” anterior, mas temos de reconhecer o efeito colateral que dificultou o acesso do torcedor mais humilde no estádio. Porém, há lugares disponíveis no estádio. Nesse fim de ano, o canal Premiere vem reprisando os jogos do Palmeiras no Brasileiro e é interessante notar que em vários jogos, especialmente até a 25ª rodada, existiam vários lugares não ocupados, especialmente na Central Leste, exatamente onde a câmera primária transmite. Enfim, pela média, sobram cerca de 10 mil lugares por jogo. Fica o desafio para os dirigentes de encontrar um algoritmo de precificação que diminua os lugares vazios, não desestimule o Avanti e tampouco diminua a renda bruta. Existem ações em alguns clubes para ingressar torcedores de renda mais baixa em jogos menos importantes. Podemos avaliar com atenção o que o Internacional-RS e o Paysandu já fazem e verificar se faz sentido para o Palmeiras.

8 – Avanti

O programa teve seu ápice em 2015, impulsionado pelo histórico chapéu do Dudu e pelo incessante trabalho de marketing. Alexandre Mattos era o “garoto propaganda” e, em toda a entrevista, o ex-presidente Paulo Nobre citava a importância do Avanti e pedia para o torcedor colaborar. De uns anos para cá, essa volúpia diminuiu muito e foi acrescida de instabilidades no sistema que irritam o torcedor, trazendo severas dificuldades para a aquisição do ingresso. Não por coincidência, os poucos números conhecidos demonstram, na melhor das hipóteses, uma estabilização do número de sócios, sendo que seria intuitivo imaginar um aumento em virtude das conquistas. Essa é a receita mais estável e sadia que um clube pode ter. Vale aumentar a atenção.

9 – Hegemonia

Vamos combinar? Não existe e dificilmente existirá hegemonia no futebol brasileiro. Os motivos são muitos (será tema de um outro “post”), mas nosso país comporta mais de 2 times revezando os principais títulos, algo bem diferente dos principais centros europeus e até sul-americanos. Por diversas vezes, eu mesmo especulei se algum time não tinha encontrado o caminho das “vitórias eternas”. A história mostra que não por dois motivos. O primeiro é a soberba que acompanha os líderes. O rival do Morumbi se autodenominou soberano e esqueceu de evoluir. O rival de Itaquera acreditou em megalomania e fez contratações absurdas (Pato) e, mesmo com os aspectos antirrepublicanos envolvidos, nada justificava a aventura do estádio. O Palmeiras nos anos 90 e o Fluminense nos anos 2000 de alguma maneira acreditavam que os patrocínios seriam eternos. Enfim, há uma longa lista de clubes que se encantaram com as glórias. O segundo motivo é que os rivais se incomodam com o início da hegemonia e se mexem para diminuir a distância ou até ultrapassar. O Rio Grande é um bom exemplo. Um constrói o estádio o outro constrói também. Um reforma e o outro reforma também. Um ganha algum título internacional e o outro se mobiliza para ganhar também. É natural. Já em 2019 seremos mais desafiados. O Flamengo, mais cedo ou mais tarde, infelizmente, entrará na rota dos títulos. O Grêmio e Cruzeiro continuarão com bons times que já fizeram frente ao nosso nos últimos anos. O time da Zona Leste voltará a ser forte através do resgate do modelo de jogo do antigo treinador. O rival da Zona Sul vem recuperando sua capacidade de investimento e já conseguiu um brilhareco em 2018. Mais a longo prazo, algum time que está fadado ao fracasso nos dias atuais (um Vasco, por exemplo) pode também encontrar o seu caminho através dos respectivos “Paulos Nobres e Crefisas” que existam e voltar aos tempos mais gloriosos. Enfim, é cíclico. Não temos nenhuma atuação no segundo motivo, mas depende só do Palmeiras atuar no primeiro que é a soberba. Essa responsabilidade é de toda a coletividade, inclusive da torcida que será “tentada” a acreditar em Real Madri das Américas especialmente pela despreparada imprensa esportiva.

10– Pacificação Política

No âmbito político, podemos definir 2017 como pitoresco. P brigou com L e, por isso, MC rompeu com P e ficou com L. MG, com receio de perder capital político e financeiro, fica com L e, por consequência, rompe com P. Posteriormente,  L descobre que M fazia cambismo barato e rompe com o mesmo. M não se fez de rogado e passa a apoiar P. Enredo de fazer inveja à diretor de novela ou à cidade de Brasília. Entretanto, em 2018, conseguimos cavar ainda mais o fundo do poço. Mudança de estatutos e a eleição fizeram a temperatura fervilhar com acusações de todos os lados, especialmente da oposição que alega (com alguma razão, penso eu) que os eventos (mimos/jantares) patrocinados aos sócios poderiam ter alguma influência eleitoral. Porém, nunca podemos subestimar a “capacidade criativa” de se autodestruir dos dirigentes palmeirenses e o pior ainda estava por vir.  A “proposta” da Blackstar entra para o folclore do futebol nacional e a oposição se presta a um papel vexatório. Desnecessário ressaltar que instabilidade política pode criar uma série de repercussões no clube, desde aspectos administrativos e financeiros, passando obviamente pelo campo. Seria muito importante que, se não a união definitiva, pelo menos um “armistício” fosse alinhado com o intuito de pensarmos primeiramente no clube e depois nos interesses políticos. Sei que parece utópico, sei que as pontes entre as correntes políticas estão destruídas, mas é de suma importância que evoluamos nesse aspecto. Só e somente só pelo fato de Galiotte estar no poder, penso que deveria partir desse grupo político o primeiro movimento para uma maior pacificação.

Esses são os pontos mais relevantes de atenção. Após um espetacular título brasileiro é mais desafiador citar aspectos de melhoria, já que toda a coletividade está mais interessada em desfrutar das vitórias. Porém, parafraseando Santo Agostinho, os dirigentes do Palmeiras deveriam preferir a crítica que os corrige aos elogios que os corrompem. O Palmeiras forte só é possível através do esforço diário, trabalho duro e paixão de todos.

Aproveito para desejar a toda a comunidade palestrina um Feliz Natal e um excelente 2019 com muitas alegrias e conquistas!!

Marcelo, o Racional

Um comentário:

  1. A situação faz exatamente o contrário, talvez a pedido de titia. Tenta fazer que o palmeirense esqueça da verdade plantada em 2015. Parabéns pelo post, Racional!

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