terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O Palmeiras tem Mundial – Uma tentativa de racionalizar o debate

Caros amigos,

Futebol e brincadeira são irmãos gêmeos. Aliás, a “zoeira, a “tiração de sarro” são alavancas que alimentam ainda mais nossa paixão e nosso interesse pelo esporte bretão. Faço parte daqueles que não conseguem enxergar o Palmeiras sem a existência dos nossos principais rivais, nossas principais rivalidades. Sendo assim, nada é mais saboroso que dizer que o Palmeiras não tem Mundial, o Flamengo não é Hexa, o Galo não é Bi, o Fluminense não tem estádio, que o Corinthians e o São Paulo têm estádios forjados com a ajuda da administração pública, que o Santos tem torcida de idosos e por aí vai. Sendo franco, eu acho delicioso isso e quando acontece contra o nosso time eu encaro na boa e tento brincar e argumentar com a resenha. Esse “post” não tem o intuito de esclarecer todas as brincadeiras, mas de tentar trazer um ponto de vista ao debate dos tamanhos dos títulos. Peço a paciência dos leitores já que abusaremos das citações aos rivais.

Visando facilitar, dividiremos os títulos em 4 categorias. Vamos a elas:

1 – Títulos “indiscutíveis”.

Esses são os títulos que necessitam de pouca explicação. Tem a alcunha do nome mais tradicional que esse título é reconhecido e os torneios estão vivendo seu auge de importância. Como exemplo, o Brasileirão do Palmeiras, a Copa do Mundo da França, a Champions do Real e a Libertadores de River.

2 – Títulos importantes cujos campeonatos perderam a importância no tempo ou deixaram de existir.

Os melhores exemplos são os Campeonatos Regionais ou o Rio-SP. Pegando como exemplo nosso maior rival, o título de 1977 tem um peso, um tamanho, uma repercussão absolutamente diferente do título do mesmo clube, contra o mesmo adversário, na mesma competição, 40 anos depois. Para a estatística as 2 conquistas são iguais (títulos paulistas), mas, para a história, são bem diferentes. Uma vale infinitamente mais que a outra. Na época, os campeonatos regionais eram a competição que os torcedores mais valorizavam, de longe. Hoje, não junta 50 torcedores na Avenida Paulista. Não podemos lutar contra a evolução, mas não podemos brigar contra a história. Por isso, o 12 de junho eterno estará sempre nos nossos corações e era um “reles” Campeonato Paulista. Nesse “cluster” de títulos, penso que vale lembrar também da Supercopa dos Campões da Libertadores com jogos épicos envolvendo Flamengo e São Paulo nos anos 90.

3 – Títulos menos desafiadores no passado cujos campeonatos se fortaleceram no futuro.

A Copa do Mundo de 1930 tem rigorosamente o mesmo nome e o mesmo peso estatístico da Copa de 2018. Entretanto, a primeira competição foi disputada por 13 clubes sendo 9 (!!) do continente americano. Foi essa competição que o Uruguai venceu. Já a França em 2018, encarou uma competição que, a rigor, tem quase 200 seleções participando de difíceis eliminatórias e uma fase final com 32 países. É a mesma Copa, mas quanta diferença. Outro exemplo, é a Copa do Brasil que ficou um bom tempo sem a participação dos times que estavam na Copa Libertadores. Mais uma vez, os títulos são iguais na estatística, mas são incomparáveis os títulos da Copa do Brasil de 2012 e 2015 que o Palmeiras conquistou. O último tem uma relevância bem maior. A Copa Sul-Americana também merece uma ressalva. Antes, essa competição não dava vaga para a Libertadores e era um desfile de times reservas. Posteriormente, a competição passou a ter um interesse muito maior dos clubes. Sendo assim, incomparável a sul-americana de 2012 vencida pelo São Paulo e a vencida recentemente pelo Athletico Paranaense.

4 – Títulos importantes cujos nomes não são os mesmos dos atuais.

O Robertão, a Copa União e a Taça João Havelange não tinham a alcunha de “Brasileirão”, mas eram exatamente a mesma coisa. Cabe fazer a ressalva que os regulamentos mudavam intensamente até 2002, mas a essência é rigorosamente a mesma. A Taça Intercontinental (que a FIFA deixou de reconhecer em algum momento) tinha a mesma essência do Mundial de Clubes de atualmente. A Copa Rio (que abordaremos mais à frente) também. O Campeonato Inglês não era a Premier League, tampouco o Campeonato Europeu a Champions League, porém, em que pese as denominações diferentes a importância era exatamente a mesma dos títulos como conhecemos hoje.

Enfim, viver e presenciar os momentos faz uma diferença gritante. Eu presenciei a Copa União de 1987 e posso garantir que todo o Brasil tratou aquele jogo como a decisão do Campeonato Brasileiro. Eu presenciei os Mundiais do São Paulo de 92 e 93 e posso garantir que todos trataram como Campeão Mundial. Anos depois, a CBF reconheceu o Sport como campeão e a FIFA disse que só era campeão Mundial quem disputou de 2005 até os dias atuais (além de 2000). Há pouco ela voltou atrás. Cito esses exemplos para demonstrar que nem sempre o carimbo deve ser levado tão a sério. Evidentemente, quem não viveu esses dias tende a acreditar mais na versão oficial, ou seja, considerar o Sport campeão de 1987.

Falando especificamente da Taça Rio, além do que foi escrito acima, vale ressaltar as manchetes e reportagens da época. A célebre capa da Gazeta Esportiva (foto abaixo) com o inequívoco título “Palmeiras Campeão do Mundo”. A manchete não foi colocada sem sentido. Depois da maior catástrofe esportiva do país em 1950, a CBD organizou o Torneio Internacional de Clubes Campeões e 8 clubes dos países mais relevantes do futebol à época aceitaram os convites. Havia a intenção de que um clube inglês e espanhol também participassem, mas não foi possível, já que a Inglaterra ainda desprezava os torneios fora da Europa e os times espanhóis estavam envoltos em outras competições. De qualquer forma, os 6 convidados estrangeiros representavam a “nata” do futebol internacional. Sporting, Áustria Viena, Nacional (URU), Juventus, Estrela Vermelha (IUG) e Olympique de Nice eram times bastante relevantes em 1951. Os 3 primeiros ficaram no Grupo do Rio de Janeiro e os 3 últimos ficaram em São Paulo. A CBD convidou os campeões paulista e carioca (mais importantes) para representar o país sede. Cabe lembrar que a capital federal ainda era o Rio de Janeiro e o time favorito e que todos apontavam como provável campeão era o Vasco da Gama.





O campeonato de desenrolou e o Palmeiras enfrentou a Juventus em 2 jogos no Maracanã. Mesmo sendo um clube de fora da cidade, mais de 170 mil pessoas acompanharam as 2 decisões o que demonstra que a enorme importância do certame.

Evidentemente, há 70 anos atrás a rivalidade entre os torcedores era muito menor. Era comum os paulistas torcerem por times do Estado nos confrontos estaduais e por times brasileiros nos confrontos internacionais. Em mais uma demonstração da importância da competição, um milhão de pessoas foram às ruas recepcionar os campeões mundiais (segunda foto abaixo). Para se ter uma ideia, a população da cidade era de cerca de 2,5 milhões de habitantes à época. Foi uma verdadeira epopeia na cidade. Momento histórico. O Palmeiras atenuava a dor do torcedor brasileiro em 1950 e mesmo quem não era palmeirense se considerava Campeão do Mundo finalmente. Será mesmo que um milhão de pessoas se deslocariam das casas para celebrar algo sem importância?




Como o fato é muito antigo, poucos estão conosco para contar. Hoje, só estão os “jovens”, aqueles que não viram a Copa União, aqueles que não viram os Títulos Intercontinentais, aqueles que não viveram 1993 e não entendem o motivo de muitos apontarem o 12 de junho como o dia mais felizes das respectivas vidas. Para quem não viveu, só resta uma alternativa. Ler, assistir, escutar, se informar, refletir. Sincera e honestamente acho melhor tirar suas próprias conclusões que uma chancela de alguma entidade do futebol. Aliás, a FIFA diz que é e diz que não é conforme critérios pouco objetivos. Lembro aos torcedores adversários que a própria FIFA numa canetada fez “desaparecer” os títulos mundiais entre 1960 e 2004. Voltou atrás, é verdade, mas mostra o quão estranho são os aspectos que norteiam a decisão. Cada título tem sua importância, seu momento, seu peso histórico, sua importância pelos torcedores, seu nome, sua capacidade de alterar o patamar daquela agremiação. É disso que se trata ou se deveria tratar. Não deveríamos levar em conta apenas o nome do título, afinal eu não preciso chamar D. Pedro I de presidente para tentar aumentar sua importância histórica usando termos atuais.

Parabéns e meu eterno agradecimento a Oberdan, Sarno, Juvenal, Waldemar Fiúme, Túlio, Dema, Lima, Aquiles (Ponce de León), Liminha, Canhotinho (Jair Rosa Pinto) e Rodrigues!!

Palmeiras Campeão do Mundo!!

Marcelo, o Racional

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