quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Continuidade ou ruptura?

        Caros amigos, 

        Mais uma temporada se encerra e o tradicional “post” de final de ano não perde a oportunidade de se fazer presente, assim como o Deyverson no nonagésimo quinto minuto na capital uruguaia... 

        Para alguns, sei disso, o texto abaixo será qualificado como uma heresia. Assim como petistas e tucanos têm pavor das comparações entre o último mandato de FHC e o primeiro de Lula sei que vou desagradar “nobristas” e “galiottistas”. Em que pese, obviamente, haver diferenças entre os 2 presidentes, o ano de 2021 nada mais é que a consequência dos acertos, erros e aprendizados colhidos desde 2013 quando Paulo Nobre assume o clube e dá o primeiro, e fundamental passo para a organização do clube. 

        Esse inesquecível período de 9 anos foi marcado por presidentes sóbrios que respeitavam dignamente o papel de “chefe de Estado” do clube. Diferentemente de dirigentes de outros clubes (ou até de dirigentes pretéritos nossos) não sentíamos vergonha quando eles empunhavam um microfone. A organização financeira também foi um pilar importante. No princípio, para fazer um time minimamente competitivo e, na sequência, para investimentos em categoria de base e estrutura física como CT, hotel e um centro físico e de reabilitação de excelência. O respeito que a Sociedade Esportiva Palmeiras goza no meio do futebol é digno de destaque. Jogadores que antes queriam distância da Marquês de São Vicente, são oferecidos por empresários que reconhecem a “vitrine” e a seriedade no pagamento dos compromissos. A “vitrine” é consequência do protagonismo assumido desde 2015, disputando com reais chances todos os campeonatos que se apresentam. 

         A diversificação de fontes de receita também é uma característica dessa última década. Patrocínio, venda de ingressos/estádio/sócio torcedor, receitas de transmissão e de venda de jogadores têm uma proporção muito saudável, diminuindo a dependência do clube em uma fonte específica. Para o torcedor mais pragmático, o período nos brindou com as taças mais cobiçadas pelos clubes brasileiros (Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil) em dose dupla. Por fim, uma característica marcante. Os 2 presidentes quebraram uma perversa escrita do futebol brasileiro e do antigo Palmeiras. Não gastaram o quê tinham e o quê não tinham no último ano de mandato no clássico “sair de bem com a torcida” e deixando a terra arrasada para o sucessor. 

         Voltando mais à gestão Galiotte e os últimos anos, sem dúvida, há aspectos que merecem ressalvas. Como mencionado nos últimos “posts” e reconhecendo as restrições enfrentadas, poderíamos avançar mais na liderança dos debates para as mudanças estruturais do futebol brasileiro que tanto nos beneficiaria. Entendo que deveríamos fazer um debate mais aprofundado sobre novas mídias e TV levando em conta o tamanho da nossa torcida e o fator “consumidor” inerente a todas elas. Poderíamos também (aqui reconheço que é um pleito quase pessoal, sem eco na torcida) evoluir na questão do modelo de jogo. Se faz sentido abrir mão do nosso DNA do século XX de um jogo mais arejado e que nos fez merecer a alcunha de Academia ou toleraremos esse jogo mais “árido” em troca “apenas” do resultado? Por fim, entendo que poderíamos estar mais conectados à torcida buscando (mesmo que sem êxito, mas demonstrando interesse junto aos órgãos competentes e/ou terceiros) diminuição do preço dos ingressos para maior ocupação do Allianz, retomada da maior festa popular fora do estádio na Rua Palestra Itália, entre outros aspectos. 

        Porém, essa gestão deixa como maior legado (após um primeiro mandato titubeante) o caminho da responsabilidade financeira, do investimento em alicerces futuros como base e CT, da aposta em valores da base, das contratações pontuais e certeiras ao invés dos “medalhões de aeroporto”. Por mais que tenha ressalvas ao modelo de jogo, a vinda de um técnico de futebol estudioso e dedicado ao invés de profissionais reconhecidamente despreparados e ultrapassados é uma conquista de extrema importância. A postura do Palmeiras na pandemia, mantendo todos os empregos nos encheu ainda mais do orgulho de ser palmeirense. Um profissional remunerado de futebol mais afeito a dar todas as condições para o time de futebol trabalhar que ao microfone. Enfim, sabe-se que protagonismo é uma escolha, vencer é circunstancial. Muitos dirigentes, por entenderem que a vitória é uma mera questão de vontade, trocam os pés pelas mãos por não entenderem isso. Galiotte, definitivamente, entendeu. 

        Tenho tranquilidade em colocar Maurício Precivalle Galiotte como um dos maiores presidentes da história do Palmeiras e esse período 2013-2021 certamente estará marcado na história com louros verdes! 

      Os detratores “galiottistas” discordam da visão acima menos pela questão da gestão e mais pela proximidade com a sucessora. Este “blogueiro” lamenta profundamente que Galiotte e Nobre não estejam juntos. Improvável, quase impossível, mas tomara que o tempo recoloque os 2 no mesmo barco novamente. De qualquer forma, o fato é que Leila Mejdalani Pereira é a presidente do Palmeiras. Pois bem, vamos falar de futuro. 

      Uma ruptura já parece clara. A de comportamento. A postura mais sóbria dos últimos presidentes será substituída por uma personagem mais egocêntrica, afeita às redes “antissociais” e, por consequência, provavelmente mais suscetível aos ruídos raivosos da torcida. 

       Ficam, portanto, legítimas dúvidas quanto ao próximo triênio, provável sexênio. Como a presidente se comportará com uma derrota impactante (que certamente ocorrerá)? Como a mandatária se comportará com a frustração de um título perdido (que certamente ocorrerá)? Cairá na tentação do atalho ou continuará no caminho (vale ler o “post” “E, mais uma vez, Jesus aponta o caminho” - http://priscopalestra.blogspot.com/2021/03/e-mais-uma-vez-jesus-aponta-o-caminho.html?m=1) que nos levou a 2 taças continentais? Como será o comportamento da liderança após os gritos irracionais da torcida organizada (patrocinada pela presidente) pedindo a cabeça de jogador e técnico hora sim, hora também? 

        Enfim, quem viver, verá. É realmente intrigante que ainda tenhamos dúvidas sobre qual caminho seguir mesmo após uma enxurrada de taças alviverdes e a derrocada de alguns rivais (que percorreram o atalho “medalhístico”). O torcedor palmeirense, em maioria, ainda tem uma queda por nomes “bombásticos” e uma certa inveja quando a imprensa anuncia um nome desses em um rival. Enfim, paixão não se explica. Mesmo que não correspondida. Como torcedor, confesso que preferiria que essa paixão fosse levada na direção de um jogo de futebol mais “acadêmico”. Mas, fatos são fatos. Nossa torcida (ainda) gosta de medalhão e tolera um jogo chinfrim “apenas” pelo resultado. É essa reverberação absurda das redes antissociais e seus enormes “decibéis” que chegarão aos ouvidos da presidente. Confesso que tenho enorme receio do futuro. Torcida inquieta e cada vez mais “mimada” (só aceita ganhar), presidente egocêntrico e com menor (aparentemente) equilíbrio emocional fazem uma combinação explosiva que podem ter consequências nefastas no futuro. 

        Para ser justo, os primeiros dias do mandato vão na direção correta. Ajuste de elenco sabendo separar gratidão de entrega futura e contratações de jovens valores. Evidente que o momento é muito tranquilo. Sem jogos e com um título maiúsculo conquistado há menos de 30 dias. 

        Como torcer e sonhar não é proibido, tomara que ao final de 3 ou 6 anos eu possa escrever um “post” dizendo que meu receio era infundado e Leila deu continuidade à linha mestra iniciada em 2013. 

          Hoje, esse é meu maior pedido para o Papai Noel Verde, nosso San Gennaro. 

          Marcelo, o Racional