segunda-feira, 12 de março de 2012

NON DUCOR DUCO*



Caros Amigos,

O Palmeiras, com paz e jogadores comprometidos (sem medalhões) faz uma interessante campanha no Campeonato Paulista. Por mais que não seja parâmetro, consegue-se visualizar um embrião de time, com opções para o nosso caro e querido treinador e que, de fato, vem deixando a torcida mais otimista. Que continue assim!

Entretanto, queria escrever sobre o futebol paulista. O declínio dos regionais e da festa no estádio diminuiu em todo o lugar, mas aqui, me parece que a queda foi maior. Primeiro, a qualidade dos times. Que coisa pavorosa! A explicação, me parece simples, mas pouco abordada na imprensa. Geralmente, explicam isso pela diminuição do interesse no campeonato e falta de recursos, mas essa é apenas uma faceta disso.

A principal mudança se deu após a Lei Pelé. Com a fase de classificação  dos estaduais durando 3 meses, os clubes não conseguem fazer vínculos longos, sendo hoje, a única forma de segurar um atleta. No passado, havia o passe e era possível emprestar o jogador no segundo semestre e retornar ao clube para o estadual do ano seguinte. Agora, não.  A maioria dos clubes não tem nenhum compromisso no segundo semestre. Uma minoria joga campeonatos regionais esvaziados no segundo semestre e só a minoria da minoria pode jogar algum campeonato nacional (Séries A a D).

Com isso, os clubes desfazem completamente seus elencos e remontam no ano seguinte. Por isso, coisas “interessantes” acontecem. O Guaratinguetá foi semi-finalista em 2008 e rebaixado em 2009...Claro, o time era completamente diferente. Por isso, quem de fato tem interesse em proteger os clubes do interior deveria apoiar rapidamente a extinção dos estaduais nesses moldes. O ideal, como dito em outros posts, seria alinhar o calendário ao europeu e disputar apenas o Campeonato Brasileiro. Os times pequenos participariam de um campeonato estadual anual, onde os melhores entrariam nas últimas séries nacionais e em alguns confrontos com os grandes (algo como um campeonato de pré-temporada de um mês). Seria uma forma de deixá-los em atividade, pensar a atividade futebol de forma mais planejada, revelar valores e desenvolver um time.

Para comprovar, mesmo nesse modelo caótico, temos o Audax (ex- Pão de Açúcar) que, se mantiver esse ritmo, estará nas primeiras divisões em breve (estadual e nacional). Além disso, esses clubes teriam alguma chance de enfrentar de maneira um pouco mais digna os grandes, algo impensável hoje. Para um torcedor interiorano, o momento mágico não é o confronto com os pequenos já que esses são jogos similares ao da Série A-2 ou A-3. O bacana é o confronto com o grande, só que hoje, isso é mais motivo de vergonha que orgulho para o cidadão daquela cidade. É uma chinelada atrás da outra. É triste ver o que estão passando
instituições paulistas como Botafogo, Comercial e XV de Piracicaba. E não podemos falar de falta de recursos, já que poucas regiões brasileiras são tão ricas como o Interior de São Paulo.

Outro ponto que queira abordar é algo que começou nos anos 90 e teve a pá de cal no começo desse século. A questão das torcidas nos estádios nos clássicos. Como bem lembrou Ugo Giorgetti ontem, nada caracterizava mais um clássico que um estádio dividido com o rival. O domingo, de fato, era diferente. Já acordávamos tensos. Havia um certo ritual. Quando era adolescente, era inesquecível  a cena dos PM’s levando as cordas pelas arquibancadas do Morumbi, como sinal que sua torcida era maior. Vibrava-se como um gol. Cerca de 15 minutos antes da entrada dos times, bandeirões entravam nas arquibancadas, caracterizando que a hora estava chegando. Eram 100 mil, 110 mil pessoas, numa atmosfera inigualável.

Até o trânsito e os programas de rádio dão saudade hoje.  Com o estúpido aumento da violência (aceito por dirigentes incompetentes) começou-se tirando os rojões e, pior, as bandeiras. O espetáculo começou a empobrecer. Depois grades, divisões, lotes de ingressos, etc...Por fim, o tiro de misericórdia. Uma briga infantil de dirigentes e não há mais clássico com estádio dividido em São Paulo. Com a questão dos 10% de ingressos, na prática, o estádio pertence a um só clube, tirando toda a magia do jogo.

O Santos ganhou do Corinthians na Vila e não se ouvia (nem via) a torcida do clube paulista. Ridículo, para dizer o mínimo. Quer dizer, o campeonato paulista serve para animar os clubes do interior e acirrar a rivalidade entre os grandes. Não fazemos nem uma coisa, nem outra. 

Brilhante! Cadê os dirigentes dos grandes clubes? Com a palavra, Arnaldo Tirone, Mario Gobbi, Luiz Alvaro e Juvenal Juvêncio.


Por Marcelo, o racional


*A frase em latim Non Ducor Duco, que aparece escrita no brasão da cidade de São Paulo, significa “Não sou conduzido, conduzo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário