Conquistas e mais conquistas. Na opinião de muitos (é a minha também), estamos vivendo o maior momento da história da Sociedade Esportiva Palmeiras. Alegrias e orgulho nunca vistos.
Para tantos, nada é mais desestimulante que tratar de assuntos “chatos” em épocas de festa e exaltação. Mas peço a paciência do raro(a) leitor(a) para “mudar o rumo da prosa”.
Lá se vai mais de uma década que meu grande amigo “Baggio” abre espaço em seu “blog” para debatermos nossa maior paixão.
No passado, o Palmeiras fazia seus “all in” financeiros e se lambuzava com medalhões (um dos mais eficazes anestésicos para os torcedores). Esse “blogueiro” (como pode-se verificar nos inúmeros “posts” anteriores) sugeria um outro caminho, bem menos popular (e como “sofri” em mesas de bar e grupos de e-mail e WhatsApp…).
Tentando resumir muito, defendia-se a reestruturação financeira (mesmo que custasse um período com times tecnicamente frágeis), valorização da base, contratações de jogadores jovens com potencial através de um trabalho de prospecção competente (que, por mais paradoxal que possa parecer, não leve em conta apenas a técnica, mas aspectos comportamentais, propensão a contusões, etc.), comissão técnica minimamente profissional (em todas as áreas), estrutura de treinamento e recuperação de atletas, hotelaria/nutrição, investimento num robusto programa de sócio torcedor e forte conexão da sua torcida com a instituição (orgulho).
Por “sorte”, San Gennaro voltou à Terra. “Pousou” na Pompeia em 2013 e assumiu a presidência. Paulo Nobre deu início ao processo de reestruturação que, pela graça de Deus, foi continuado por seus sucessores. Essencialmente, buscou-se os aspectos do parágrafo anterior. Talvez não fizemos 100% do que podíamos. Talvez titubeamos em alguns caminhos. Talvez o processo não tenha sido linear. Mas é inequívoco que a direção e a intenção estavam lá. As melhoras eram constantes e visíveis. Em todos os campos. Até que….chegamos em 2022.
O ápice. A consolidação. O orgulho. As conquistas.
Enfim, tudo o que fizemos desde 2013 nos permitiram vários anos de protagonismo. A reestruturação 1.0 nos trouxe até aqui e com louvor.
Mas receio que ela, por si só, não bastará para a próxima década. O “mercado da bola” está sofrendo mudanças impressionantes abrindo possibilidade de “ressuscitar” algumas marcas e enterrar de vez outras.
Para começar, o Brasil aprovou o instituto das “SAFs”. Além da entrada de recursos que faz alguns “milagres”, está havendo uma silenciosa transformação da gestão dos clubes. Saem os cartolas (despreparados, para ser elegante) e entram os gestores das sociedades. Claro que nem todos serão competentes e terão resultados, mas, convenhamos, a concorrência (cartolas) não inspiram muitas saudades. Sendo assim, sairão de cena os dirigentes populistas que rasgam $$ e contratam jogadores sem critério para um modelo mais sério e profissional cuja chance de acerto em campo é, obviamente, muito maior.
Outro ponto que merece destaque são as outras fontes de receita desse mercado chamado futebol. Desde os “sites” de aposta (que necessitam de uma regulação urgente), passando por “streaming”, direitos de transmissão, novas mídias, engajamento em redes (anti) sociais, arenas, valor das ligas. Enfim, uma infinidade de recursos que faria um cartola dos anos 80 achar que estava num quadrinho do “Tio Patinhas”…
Hoje já observamos um fato concreto. Nosso maior oponente na atualidade tem uma receita “basal” cerca de 30% superior à nossa. O rubro-negro carioca fatura algo com R$ 1 bilhão por ano sem contar anos com várias premiações por títulos. Nossa receita “basal” está na casa dos R$ 750 milhões. Tudo constante, numa década, a diferença de receita será da ordem de R$ 2,5 bilhões. Isso não representa apenas a possibilidade de pagar melhores jogadores, contratar bons valores, mas de fazer investimentos em estrutura no futebol profissional e na base, além de estar numa posição privilegiada para negociar contratos de qualquer espécie (sem estar com a “faca no pescoço”).
Enfim, o Palmeiras atingiu um determinado nível de profissionalismo num futebol extremamente amador. Isso foi mais que suficiente para alcançarmos nosso nível atual. Mas, ano após ano, concorreremos com adversários mais preparados.
Sendo assim, quanto mais cedo fizermos nossa segunda reestruturação, menos incerta será nossa permanência no “hall” de protagonistas do futebol brasileiro. Para tanto, uma nova onda de profissionalização urge na Sociedade Esportiva Palmeiras. Um profissional de marketing com papel não apenas de trazer receita para o clube, mas com a atribuição de aumentar o número de “clientes”. Escrevendo de outra forma, é fundamental que mais pessoas “consumam” mais o clube. Seja através da conquista de mais torcedores (algo que se faz num público entre 5 e 15 anos, no máximo), seja através de ações que permitam maior engajamento aos já convertidos.
Nenhuma fonte de receita será sustentável sem uma legião de torcedores amparando esse pilar.
Nessa revolução do mercado do futebol, outros profissionais deveriam ser contratados também. Por exemplo, um executivo de relações institucionais que se preocuparia com a forma como o Palmeiras se posiciona para “fora do muro”, seja com a torcida, seja com a mídia, enfim, alguém preocupado com a marca.
Vale citar a importância de um executivo comercial, com ampla bagagem de conhecimento acerca das inúmeras fontes de receita disponíveis aos clubes, além da capacidade de atrair bons investidores. Por falar em investidores, de forma alguma deveríamos repelir o debate sobre a SAF. Talvez, inclusive, seja um ótimo momento para esse debate tendo em vista nossa boa posição relativa esportiva e de fluxo de caixa.
Obviamente, vale manter e reforçar o que já fazemos bem. Profissionais qualificados na base e na comissão técnica permanente para cada vez menos dependermos de “heróis”, seja na presidência, seja na comissão técnica.
Enfim, a ideia não é citar todos os cargos, mas reforçar o conceito. A seara competitiva está mudando e de forma rápida. Para manter nosso protagonismo, precisamos debater como nos prepararemos para esse novo ciclo.
Que tal agora?
Marcelo, o Racional