sábado, 31 de dezembro de 2022

1940 - ∞



Caros amigos,

 

O futebol tem uma relevância absurda na minha vida. Sempre teve. Talvez até numa intensidade acima do razoável, não sei...

 

O que sei é que desde muito cedo me envolvi com esse esporte maravilhoso por inúmeros motivos. Quando criança, nossa perspectiva de tempo é totalmente diferente. Um fato ocorrido há 5 ou 10 anos era como uma vida inteira (e era). Hoje sabemos que esse tempo é um piscar de olhos...Então, a rigor, comecei a me envolver com futebol logo depois que o REI parou. Entrevistas de jogadores, comentários em programas esportivos de rádio e TV e os deliciosos “videotapes” retratavam a carreira do REI a todo instante. De alguma forma, ELE era próximo...

 

Lá pelos meus 11/12 anos, minha família adquire um bem “revolucionário” para os padrões da época. Um videocassete (se algum jovem estiver lendo, sugiro “dar um Google”). Minha alegria era gravar os “Gols do Fantástico” e revê-lo por toda a semana, inúmeras vezes, os gols do domingo...Era possível dar pausa e avançar quadro a quadro...Inesquecível...

 

Até que um dia, meu primo Marcus leva à minha casa uma fita VHS do filme “Isto é Pelé!” Lembro até hoje da primeira vez que assisti (boquiaberto)...Meu objeto de desejo passou a ser ter esse VHS. Por algum motivo, não achei para comprar em São Paulo e meu falecido Tio Jaime encontrou uma última unidade em Catanduva e a comprou para mim...Ainda tive que esperar o momento que algum parente viesse à capital paulista para entregar meu tesouro...Sem exagero, devo ter assistido esse filme umas 2 centenas de vezes, várias com meu primo. Lembrava de todas as falas (aliás, apesar da idade, lembro uns 70% delas até hoje). Sim...a inexorável paixão pelo futebol estava reforçada eternamente pela alicerce real.

 

Não...Não vou falar de todos os seus feitos...Isso é desnecessário. Apenas reconhecer que você, REI, é o maior embaixador da história desse país. Tive a oportunidade de visitar mais de 50 países até hoje e em todos eles há um padrão. A forma como as pessoas reagem ao descobrirem que somos brasileiros...Um sorriso e a palavra PELÉ nos mais variados sotaques. De certa forma, não surpreende a enorme repercussão e as homenagens vindas dos 4 cantos do planeta nesse triste 29 de dezembro de 2022.

 

PELÉ, meu muito obrigado!! Por tudo! Tudo mesmo, inclusive aqueles segundos que você perdeu para escrever essa mensagem (foto acima) que, um dia, será passada para meu filho, afinal, o legado é eterno...

 

Fique com Deus, Majestade!

 

O “Prisco Palestra” nunca publicou um “post” que não tratasse de Palmeiras. A primeira e última exceção é essa.

 

Marcelo, o súdito.





segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Palmeiras 2.0. Você está preparado para essa conversa?

Conquistas e mais conquistas. Na opinião de muitos (é a minha também), estamos vivendo o maior momento da história da Sociedade Esportiva Palmeiras. Alegrias e orgulho nunca vistos. 

Para tantos, nada é mais desestimulante que tratar de assuntos “chatos” em épocas de festa e exaltação. Mas peço a paciência do raro(a) leitor(a) para “mudar o rumo da prosa”. 

 Lá se vai mais de uma década que meu grande amigo “Baggio” abre espaço em seu “blog” para debatermos nossa maior paixão. 

 No passado, o Palmeiras fazia seus “all in” financeiros e se lambuzava com medalhões (um dos mais eficazes anestésicos para os torcedores). Esse “blogueiro” (como pode-se verificar nos inúmeros “posts” anteriores) sugeria um outro caminho, bem menos popular (e como “sofri” em mesas de bar e grupos de e-mail e WhatsApp…). 

 Tentando resumir muito, defendia-se a reestruturação financeira (mesmo que custasse um período com times tecnicamente frágeis), valorização da base, contratações de jogadores jovens com potencial através de um trabalho de prospecção competente (que, por mais paradoxal que possa parecer, não leve em conta apenas a técnica, mas aspectos comportamentais, propensão a contusões, etc.), comissão técnica minimamente profissional (em todas as áreas), estrutura de treinamento e recuperação de atletas, hotelaria/nutrição, investimento num robusto programa de sócio torcedor e forte conexão da sua torcida com a instituição (orgulho). 

 Por “sorte”, San Gennaro voltou à Terra. “Pousou” na Pompeia em 2013 e assumiu a presidência. Paulo Nobre deu início ao processo de reestruturação que, pela graça de Deus, foi continuado por seus sucessores. Essencialmente, buscou-se os aspectos do parágrafo anterior. Talvez não fizemos 100% do que podíamos. Talvez titubeamos em alguns caminhos. Talvez o processo não tenha sido linear. Mas é inequívoco que a direção e a intenção estavam lá. As melhoras eram constantes e visíveis. Em todos os campos. Até que….chegamos em 2022. 

 O ápice. A consolidação. O orgulho. As conquistas. 

 Enfim, tudo o que fizemos desde 2013 nos permitiram vários anos de protagonismo. A reestruturação 1.0 nos trouxe até aqui e com louvor. 

 Mas receio que ela, por si só, não bastará para a próxima década. O “mercado da bola” está sofrendo mudanças impressionantes abrindo possibilidade de “ressuscitar” algumas marcas e enterrar de vez outras. 

 Para começar, o Brasil aprovou o instituto das “SAFs”. Além da entrada de recursos que faz alguns “milagres”, está havendo uma silenciosa transformação da gestão dos clubes. Saem os cartolas (despreparados, para ser elegante) e entram os gestores das sociedades. Claro que nem todos serão competentes e terão resultados, mas, convenhamos, a concorrência (cartolas) não inspiram muitas saudades. Sendo assim, sairão de cena os dirigentes populistas que rasgam $$ e contratam jogadores sem critério para um modelo mais sério e profissional cuja chance de acerto em campo é, obviamente, muito maior. 

 Outro ponto que merece destaque são as outras fontes de receita desse mercado chamado futebol. Desde os “sites” de aposta (que necessitam de uma regulação urgente), passando por “streaming”, direitos de transmissão, novas mídias, engajamento em redes (anti) sociais, arenas, valor das ligas. Enfim, uma infinidade de recursos que faria um cartola dos anos 80 achar que estava num quadrinho do “Tio Patinhas”… 

 Hoje já observamos um fato concreto. Nosso maior oponente na atualidade tem uma receita “basal” cerca de 30% superior à nossa. O rubro-negro carioca fatura algo com R$ 1 bilhão por ano sem contar anos com várias premiações por títulos. Nossa receita “basal” está na casa dos R$ 750 milhões. Tudo constante, numa década, a diferença de receita será da ordem de R$ 2,5 bilhões. Isso não representa apenas a possibilidade de pagar melhores jogadores, contratar bons valores, mas de fazer investimentos em estrutura no futebol profissional e na base, além de estar numa posição privilegiada para negociar contratos de qualquer espécie (sem estar com a “faca no pescoço”). 

 Enfim, o Palmeiras atingiu um determinado nível de profissionalismo num futebol extremamente amador. Isso foi mais que suficiente para alcançarmos nosso nível atual. Mas, ano após ano, concorreremos com adversários mais preparados. 

 Sendo assim, quanto mais cedo fizermos nossa segunda reestruturação, menos incerta será nossa permanência no “hall” de protagonistas do futebol brasileiro. Para tanto, uma nova onda de profissionalização urge na Sociedade Esportiva Palmeiras. Um profissional de marketing com papel não apenas de trazer receita para o clube, mas com a atribuição de aumentar o número de “clientes”. Escrevendo de outra forma, é fundamental que mais pessoas “consumam” mais o clube. Seja através da conquista de mais torcedores (algo que se faz num público entre 5 e 15 anos, no máximo), seja através de ações que permitam maior engajamento aos já convertidos. Nenhuma fonte de receita será sustentável sem uma legião de torcedores amparando esse pilar. 

 Nessa revolução do mercado do futebol, outros profissionais deveriam ser contratados também. Por exemplo, um executivo de relações institucionais que se preocuparia com a forma como o Palmeiras se posiciona para “fora do muro”, seja com a torcida, seja com a mídia, enfim, alguém preocupado com a marca. 

 Vale citar a importância de um executivo comercial, com ampla bagagem de conhecimento acerca das inúmeras fontes de receita disponíveis aos clubes, além da capacidade de atrair bons investidores. Por falar em investidores, de forma alguma deveríamos repelir o debate sobre a SAF. Talvez, inclusive, seja um ótimo momento para esse debate tendo em vista nossa boa posição relativa esportiva e de fluxo de caixa. 

 Obviamente, vale manter e reforçar o que já fazemos bem. Profissionais qualificados na base e na comissão técnica permanente para cada vez menos dependermos de “heróis”, seja na presidência, seja na comissão técnica. 

 Enfim, a ideia não é citar todos os cargos, mas reforçar o conceito. A seara competitiva está mudando e de forma rápida. Para manter nosso protagonismo, precisamos debater como nos prepararemos para esse novo ciclo. 

 Que tal agora? 

 Marcelo, o Racional

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Orgulho imenso! Consolidação de um método ou de um ciclo?

 Caros amigos,

 

Evidentemente trata-se de uma sensação pessoal sem nenhuma pretensão de qualificá-la como majoritária. Feita essa observação, reputo 2022 como o ano que mais me senti orgulhoso da Sociedade Esportiva Palmeiras! E motivos não faltaram...

 

Primeiro pela qualidade do jogo. Meus raros leitores lembram que colocava em dúvida a capacidade do treinador em entregar um jogo além de pragmático pelo que víamos em campo nas temporadas 2020/2021. Ledo engano...A oportunidade de fazer a pré-temporada, algum tempo para treinar durante os campeonatos rolando e a possibilidade de fazer as mudanças no elenco (chegadas e saídas) foram os elementos que permitiram a Abel comprovar sua absurda competência. Essas condições tinham sido negadas nas temporadas anteriores (basicamente devido à pandemia) e, por isso, minha equivocada desconfiança. Em várias jornadas durante o ano, o Palmeiras se comportou como um imponente protagonista. Curioso notar que essa evolução ocorreu sem perder o que o time já fazia de bom nas temporadas anteriores. Joga em vários estilos, contra vários tipos de adversários, em várias situações de jogo, em diversos tipos de campeonatos.

 

Segundo pelo caráter desse elenco. Jogadores muito comprometidos com o trabalho tático, disciplinados fisicamente, sem nenhum, rigorosamente nenhum “problema de vestiário”. Seja na atitude ou em declarações, sempre respeitaram a torcida e a instituição. Jogadores que olham o símbolo do Palmeiras com a cabeça para o alto, reconhecendo a ótima estrutura do clube e entendendo sua história. Impressionante notar que nesse elenco não há jogador descompromissado. Vale lembrar e exaltar para sempre!

 

Terceiro pelo treinador. Desde que acompanho o Palmeiras (início da década de 80) nunca vi uma “pessoa física” que representasse e respeitasse tão bem a nossa essência. Desde a primeira entrevista coletiva onde demonstrou todo o interesse em aprender sobre o clube e a história, passando pelas entrevistas onde sempre foi um embaixador da entidade. Além disso, ele é complementado por uma equipe altamente engajada e profissional. Num país tão mal servidos de técnicos, somos extremamente privilegiados em contar com esse treinador que também olha o clube com a cabeça para o alto. Está apenas em início de carreira, mas já tem contribuições bem maiores que vários que até já se aposentaram. Para citar apenas um exemplo, pode-se lembrar a edição de um livro que, além de fonte de conhecimento, permitiu colaborar com entidades assistenciais através da doação dos recursos arrecadados. 

 

Quarto pelos jogos marcantes e marcas impressionantes. Dominância absurda em clássicos, viradas espetaculares, performances incríveis com menos de 11 jogadores, variações táticas e de jogadores de posição executadas à perfeição, gols de bicicleta (sim, no plural), baixíssimo número de derrotas na temporada (6), inúmeras entrevistas de jogadores e técnicos adversários exaltando o Palmeiras, etc..

 

Quinto pelo inesquecível dia 03 de abril de 2022. Décadas estavam em campo naquele dia. Vale reler o “post” “Sonho, Dna e Orgulho”. (http://priscopalestra.blogspot.com/2022/04/sonho-dna-e-orgulho.html?m=1)

 

Sexto pela manutenção da estratégia de um trabalho árduo de busca de valores “desconhecidos” no mercado, valorização do elenco e da base com mudanças pontuais sem recorrer às pragas dos “medalhões” que tanta falsa alegria geram no curto prazo e decepções em médio e longo prazo. Além disso, a inteligência de trabalhar com um elenco menos numeroso, facilitando a gestão de pessoas por parte do técnico fazendo com que todos se sintam realmente relevantes e, mais importante, que consigam ser aproveitados no decorrer do ano.

 

Confesso que os pontos acima não estão em ordem de importância. Mas esse eu faço questão de deixar por último: os títulos. Recopa, Paulistão e Hendeca Brasileiro. Como aperitivo, a Copinha em janeiro. Deixo em último porque, caso eles não viessem, não poderíamos deixar de considerar tudo que foi apontado anteriormente nesse texto. Escolher caminho, ser protagonista são “escolhas” que estão nas nossas mãos. Vencer troféus, não. Dependem de inúmeras circunstâncias que não controlamos.


Ufa...2022 estará marcado para sempre nos corações verdes!! 


Meu sincero agradecimento a todos!


Reconhecimento indubitável. Voltando para o título do “post”; a dúvida é de outra natureza...


Afinal, estamos assintindo a consolidação de um método ou de um clclo? Sendo mais claro...Estamos convencidos que esse é o modelo e iremos replicá-lo pelos próximos anos ou nas derrotas e decepções (desculpem-me alertar, elas virão) voltaremos ao caminho antigo?


Sinceramente, não tenho a resposta. A rigor, só saberemos quando formos submetidos à essa (desagradável) situação. Os sinais são confusos. Por um lado, os títulos deveriam dar a convicção do nosso caminho. Por outro, nas (raras) derrotas e nas (inúmeras) contratações de outros times sempre enxergamos manifestações de inveja e desconforto. 


A direção será forte o bastante? Tomara que sim! 


Nossa força deveria estar mais no método e nos processos (clube/direção/finanças/marketing/estrutura) que “‘na” pessoa (Paulo Nobre, Leila Pereira e, de maneira mais emblemática atualmente, Abel Ferreira). 


Por mais paradoxal que possa parecer, o maior e melhor remédio para a inevitável (só não sabemos quando) abstinência de Abel Ferreira será a convicção do nosso modelo. Abandoná-lo pode nos custar anos e anos como vimos nas décadas perdidas desde 1980. 


San Gennaro vem nos mostrando o caminho. Que ele nos dê sabedoria para que a coletividade resista às tentações e continuemos trilhando o caminho do protagonismo. 


São os meus votos!! Mais um excelente Natal e um 2023 protagonista para todos os alviverdes!


Marcelo, o Racional. 

terça-feira, 5 de abril de 2022

Sonho, DNA e Orgulho

 Caros amigos,

 

Eventos extraordinários exigem “posts” extraordinários. Quebrando uma tradição de publicarmos textos apenas no final de ano, o “blog” quebrará o protocolo...

 

Para iniciar, gostaria de citar um antológico texto do excelente Carlos Eduardo Mansur no “O Globo”. A seguir, os 2 primeiros parágrafos do artigo:

 

“ No final dos anos 1990, um executivo do Manchester United explicava como o clube entendeu seu papel na indústria do entretenimento e sua relação com a sociedade. A discussão na cúpula do United partiu de uma pergunta: “O que vendemos? Futebol? Jogadores?”. Não demorou muito para que o debate se encerrasse diante da conclusão definitiva: “Vendemos sonhos”.

 

É algo de uma profundidade acima do que se imagina. Aqui, vender sonhos tem um sentido amplo e poderosíssimo. Engloba toda a gama de emoções que um clube desperta: do menino que sonha em jogar bola ao que fantasia viver uma tarde num estádio lotado; é a vitória que gera uma sensação de realização que, por vezes, a vida nega; são os valores que se percebem acoplados àquele clube e àquela comunidade; é pertencimento e família.” (grifo meu).

 

O dia de ontem estará para sempre eternizado nas nossas lembranças. Vale refletir sobre os motivos...

 

Se um clube vende sonhos e pertencimento o 3 de abril de 2022 não apenas ficará marcado pelo aniversário de 8 décadas de nosso maior jogador mas, também, como o dia que o Palmeiras mais representou esse “papel”. Coisas aparentemente desimportantes e outras explícitas marcaram nossa semana. A luta para jogar no nosso estádio nos fez lembrar que nunca teremos “lambuja” do Estado (aqui compreendido como governo e federações). Aprendemos desde a nossa fundação (com as inúmeras dificuldades e preconceito explícito) que aqui aprendemos a resolver nossos problemas sozinhos. Se o Estado não nos “dá” um estádio, construímos o nosso e modernizamos com um parceiro privado. Se o alvará de construção não sai, nos viramos e conseguimos um de reforma (sempre lembrando que o governo que nos atrasou em anos é o mesmo que concedeu as licenças em dias para o estádio de Itaquera). Se a Federação não se alinha com os campeonatos relevantes do país (mineiro, gaúcho e carioca) e não “permite” a decisão no sábado, a gente se vira com as entidades privadas e joga no domingo. Esses episódios nos ajudam a entender o motivo pelo qual nunca tivemos um patrocínio público na camisa. É a nossa história! Lutar pelo nosso estádio é um símbolo que gera uma simbiose entre clube e torcida. Sonho e pertencimento. A singela ideia de permitir que sócios assistissem atrás do gol com telão é de uma sensibilidade ímpar. É o clube (que entendo que vinha se afastando por algum período) dizendo para seu torcedor: “Eu não existo sem você”. “A minha força vem de você”. A imagem de torcedores alucinados assistindo ao jogo atrás de um palco merece uma lembrança eterna e essa foto tem que estar nos murais mais importantes do nosso clube (como Oberdan e a bandeira do Brasil em 20 de setembro de 1942).

 

Por falar em Arrancada Heroica, como não lembrar do técnico do Palmeiras e sua citação desse maiúsculo episódio de nossa rica história? Com tudo que aconteceu na semana dentro e fora de campo é óbvio que naqueles 90 minutos tínhamos de honrar o busto do Capitão Adalberto Mendes que nos ajuda a lembrar todos os dias a nossa jornada para ser quem somos. Para lembrar de onde viemos. Lutando contra o que é aceitável, mas, principalmente, contra o que é inaceitável. Se o clube “oferece” pertencimento, é óbvio que, de alguma forma, 1942 esteve em campo no domingo. Parafraseando o “site” “Nosso Palestra” ontem vivemos a Arrancada Heroica 2.2, épica ao seu tempo...

 

Acrescente um time que não contrata mais medalhões e “forma” um Raphael Veiga (neto de palestrino fanático) dentro do nosso clube. Jogadores que olham o escudo para cima. As crias da Academia e suas “fornadas” que não param de chegar. Um técnico que, de forma impressionante, capta, comunica e multiplica os valores de ser palmeirense em tempo absolutamente recorde. Um jogo imponente, amassando o adversário, recuperando (mesmo que não aconteça em todos os jogos) nosso DNA de imposição sobre o adversário.

 

Se ontem o Palmeiras “vendeu” tudo o que dele se espera, o resultado (não falo de campo ainda) não poderia ser diferente. Um Allianz Parque que pulsava! Pulava e gritava como nunca. Do primeiro ao último minuto numa extraordinária comunhão do time com sua gente. Dentro e fora do estádio. Nos arredores ou no lugar mais longínquo do planeta. Nessas condições, repito, nessas condições não havia nenhuma hipótese do “rival” sair com o troféu. Como prêmio, inesquecível, levou o maior placar de sua história em finais e as repercussões do atropelamento na Zona Sul são impressionantes.

 

Seja pelo fato de não demitir nenhum colaborador na pandemia. Seja pela música de Abel pré-Mundial (alguém já viu uma declaração de amor não ser brega?). Seja pelas crias da Academia. Seja pelo diferenciadíssimo técnico. Seja pelo elenco atual. Seja pelo respeito ao torcedor. Seja por continuar não dependendo do Estado. Seja pelo elenco e comissão técnica citarem a nossa história. Enfim, são inúmeros fatores, não tenho a pretensão de citar todos. Mas a conjunção de tudo isso me traz o seguinte sentimento:

 

Em 47 anos de vida e 42 de “palmeirense consciente” eu nunca tive tanto orgulho de ser palmeirense.

 

E, paradoxalmente, isso não tem a ver com os troféus. Eles são apenas a consequência natural. (E lembrem-se, um clube não vende títulos...vende sonho e pertencimento, certo?). E nós, “palmeirenses da fila” sabemos muito bem respeitar os ciclos de glórias e de “vacas magras”. Esses dias de glória, é natural, em algum momento se transformarão em períodos mais áridos...Da mesma forma, em outro momento, as glórias voltarão. Porém, a gente sabe muito bem o que devemos fazer quando as coisas não estiverem tão bem. Jamais virar as costas para a nossa essência e, de alguma forma, lembrar da experiência do United descrita acima. Não tenho certeza de títulos, mas tenho certeza da existência eterna! E ela basta! Como ouvimos no pedaço mais especial do Planeta ao som dos bumbos: “Graças a Deus eu sou Verdão; e ele está no coração; ele ganhando, ele perdendo; sou palmeirense de coração”.

 

Não é objetivo desse texto, mas óbvio que temos (muitas) coisas a melhorar. Da mesma forma, a frase acima jamais pode ser compreendida como se antes não houvesse orgulho. Apenas um reconhecimento que se vendemos valores que se percebem acoplados àquele clube e àquela comunidade, se vendemos pertencimento e família, o 3 de abril de 2022 é eterno e se meu avô me falava da Arrancada Heroica eu citarei essa data ao meu neto (Se Deus e San Genaro quiserem)!!

 

Marcelo, (nem tanto) o Racional

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Continuidade ou ruptura?

        Caros amigos, 

        Mais uma temporada se encerra e o tradicional “post” de final de ano não perde a oportunidade de se fazer presente, assim como o Deyverson no nonagésimo quinto minuto na capital uruguaia... 

        Para alguns, sei disso, o texto abaixo será qualificado como uma heresia. Assim como petistas e tucanos têm pavor das comparações entre o último mandato de FHC e o primeiro de Lula sei que vou desagradar “nobristas” e “galiottistas”. Em que pese, obviamente, haver diferenças entre os 2 presidentes, o ano de 2021 nada mais é que a consequência dos acertos, erros e aprendizados colhidos desde 2013 quando Paulo Nobre assume o clube e dá o primeiro, e fundamental passo para a organização do clube. 

        Esse inesquecível período de 9 anos foi marcado por presidentes sóbrios que respeitavam dignamente o papel de “chefe de Estado” do clube. Diferentemente de dirigentes de outros clubes (ou até de dirigentes pretéritos nossos) não sentíamos vergonha quando eles empunhavam um microfone. A organização financeira também foi um pilar importante. No princípio, para fazer um time minimamente competitivo e, na sequência, para investimentos em categoria de base e estrutura física como CT, hotel e um centro físico e de reabilitação de excelência. O respeito que a Sociedade Esportiva Palmeiras goza no meio do futebol é digno de destaque. Jogadores que antes queriam distância da Marquês de São Vicente, são oferecidos por empresários que reconhecem a “vitrine” e a seriedade no pagamento dos compromissos. A “vitrine” é consequência do protagonismo assumido desde 2015, disputando com reais chances todos os campeonatos que se apresentam. 

         A diversificação de fontes de receita também é uma característica dessa última década. Patrocínio, venda de ingressos/estádio/sócio torcedor, receitas de transmissão e de venda de jogadores têm uma proporção muito saudável, diminuindo a dependência do clube em uma fonte específica. Para o torcedor mais pragmático, o período nos brindou com as taças mais cobiçadas pelos clubes brasileiros (Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil) em dose dupla. Por fim, uma característica marcante. Os 2 presidentes quebraram uma perversa escrita do futebol brasileiro e do antigo Palmeiras. Não gastaram o quê tinham e o quê não tinham no último ano de mandato no clássico “sair de bem com a torcida” e deixando a terra arrasada para o sucessor. 

         Voltando mais à gestão Galiotte e os últimos anos, sem dúvida, há aspectos que merecem ressalvas. Como mencionado nos últimos “posts” e reconhecendo as restrições enfrentadas, poderíamos avançar mais na liderança dos debates para as mudanças estruturais do futebol brasileiro que tanto nos beneficiaria. Entendo que deveríamos fazer um debate mais aprofundado sobre novas mídias e TV levando em conta o tamanho da nossa torcida e o fator “consumidor” inerente a todas elas. Poderíamos também (aqui reconheço que é um pleito quase pessoal, sem eco na torcida) evoluir na questão do modelo de jogo. Se faz sentido abrir mão do nosso DNA do século XX de um jogo mais arejado e que nos fez merecer a alcunha de Academia ou toleraremos esse jogo mais “árido” em troca “apenas” do resultado? Por fim, entendo que poderíamos estar mais conectados à torcida buscando (mesmo que sem êxito, mas demonstrando interesse junto aos órgãos competentes e/ou terceiros) diminuição do preço dos ingressos para maior ocupação do Allianz, retomada da maior festa popular fora do estádio na Rua Palestra Itália, entre outros aspectos. 

        Porém, essa gestão deixa como maior legado (após um primeiro mandato titubeante) o caminho da responsabilidade financeira, do investimento em alicerces futuros como base e CT, da aposta em valores da base, das contratações pontuais e certeiras ao invés dos “medalhões de aeroporto”. Por mais que tenha ressalvas ao modelo de jogo, a vinda de um técnico de futebol estudioso e dedicado ao invés de profissionais reconhecidamente despreparados e ultrapassados é uma conquista de extrema importância. A postura do Palmeiras na pandemia, mantendo todos os empregos nos encheu ainda mais do orgulho de ser palmeirense. Um profissional remunerado de futebol mais afeito a dar todas as condições para o time de futebol trabalhar que ao microfone. Enfim, sabe-se que protagonismo é uma escolha, vencer é circunstancial. Muitos dirigentes, por entenderem que a vitória é uma mera questão de vontade, trocam os pés pelas mãos por não entenderem isso. Galiotte, definitivamente, entendeu. 

        Tenho tranquilidade em colocar Maurício Precivalle Galiotte como um dos maiores presidentes da história do Palmeiras e esse período 2013-2021 certamente estará marcado na história com louros verdes! 

      Os detratores “galiottistas” discordam da visão acima menos pela questão da gestão e mais pela proximidade com a sucessora. Este “blogueiro” lamenta profundamente que Galiotte e Nobre não estejam juntos. Improvável, quase impossível, mas tomara que o tempo recoloque os 2 no mesmo barco novamente. De qualquer forma, o fato é que Leila Mejdalani Pereira é a presidente do Palmeiras. Pois bem, vamos falar de futuro. 

      Uma ruptura já parece clara. A de comportamento. A postura mais sóbria dos últimos presidentes será substituída por uma personagem mais egocêntrica, afeita às redes “antissociais” e, por consequência, provavelmente mais suscetível aos ruídos raivosos da torcida. 

       Ficam, portanto, legítimas dúvidas quanto ao próximo triênio, provável sexênio. Como a presidente se comportará com uma derrota impactante (que certamente ocorrerá)? Como a mandatária se comportará com a frustração de um título perdido (que certamente ocorrerá)? Cairá na tentação do atalho ou continuará no caminho (vale ler o “post” “E, mais uma vez, Jesus aponta o caminho” - http://priscopalestra.blogspot.com/2021/03/e-mais-uma-vez-jesus-aponta-o-caminho.html?m=1) que nos levou a 2 taças continentais? Como será o comportamento da liderança após os gritos irracionais da torcida organizada (patrocinada pela presidente) pedindo a cabeça de jogador e técnico hora sim, hora também? 

        Enfim, quem viver, verá. É realmente intrigante que ainda tenhamos dúvidas sobre qual caminho seguir mesmo após uma enxurrada de taças alviverdes e a derrocada de alguns rivais (que percorreram o atalho “medalhístico”). O torcedor palmeirense, em maioria, ainda tem uma queda por nomes “bombásticos” e uma certa inveja quando a imprensa anuncia um nome desses em um rival. Enfim, paixão não se explica. Mesmo que não correspondida. Como torcedor, confesso que preferiria que essa paixão fosse levada na direção de um jogo de futebol mais “acadêmico”. Mas, fatos são fatos. Nossa torcida (ainda) gosta de medalhão e tolera um jogo chinfrim “apenas” pelo resultado. É essa reverberação absurda das redes antissociais e seus enormes “decibéis” que chegarão aos ouvidos da presidente. Confesso que tenho enorme receio do futuro. Torcida inquieta e cada vez mais “mimada” (só aceita ganhar), presidente egocêntrico e com menor (aparentemente) equilíbrio emocional fazem uma combinação explosiva que podem ter consequências nefastas no futuro. 

        Para ser justo, os primeiros dias do mandato vão na direção correta. Ajuste de elenco sabendo separar gratidão de entrega futura e contratações de jovens valores. Evidente que o momento é muito tranquilo. Sem jogos e com um título maiúsculo conquistado há menos de 30 dias. 

        Como torcer e sonhar não é proibido, tomara que ao final de 3 ou 6 anos eu possa escrever um “post” dizendo que meu receio era infundado e Leila deu continuidade à linha mestra iniciada em 2013. 

          Hoje, esse é meu maior pedido para o Papai Noel Verde, nosso San Gennaro. 

          Marcelo, o Racional

quarta-feira, 17 de março de 2021

Balanço das Prioridades

          Caros amigos,

Em 2018, ainda sob os efeitos do histórico gol de Deyverson em São Januário, publiquei um “post” intitulado “A Necessidade da Evolução Contínua. A Falácia da Hegemonia no Brasil”. À época elenquei 10 tópicos que, na minha visão, deveriam merecer atenção da comunidade palestrina. Com o intuito de poupar o tempo do raro leitor, apenas citarei os tópicos e abordarei somente sobre as evoluções, ou não, dos mesmos abaixo. Caso haja interesse no maior esclarecimento da razão de cada item, peço acessar o “post” do ano retrasado e do ano passado. Em 2019, acrescentamos um décimo primeiro item (simpatia). Sendo assim, vamos a eles:
 
1 – Necessidade de mudanças estruturais
 
Sem evolução. Continuamos com a opção de compor com o sistema. Nosso treinador teceu críticas educadas, porém contundentes, acerca do calendário brasileiro há poucos dias. Todos sabem que ele tem razão e, por consequência, ele fala e a instituição cala. Já escrevi isso diversas vezes e repito. O Palmeiras não deveria liderar a mudança por benevolência, mas por pragmatismo. Seria o clube que mais se beneficiaria de uma estrutura mais profissional. Nunca tivemos ajuda estatal para construir estádio (aliás, como demorou o alvará para “reformarmos” com dinheiro privado), nem patrocínio público em camisa. Quem vocês acham que gostam mais do STJD, arbitragens polêmicas, calendário apertado, gramados ruins? O Palmeiras é que não é.
 
2 – Priorização do Brasileirão
 
Evoluímos. Mesmo fazendo todos os jogos da temporada, não desistimos do campeonato e jogamos à vera até o momento que perdemos as chances. Nesse aspecto, talvez a chegada de um europeu tenha ajudado já que eles, culturalmente, valorizam demais a liga nacional.
 
3 – O Palmeiras não tem Mundial
 
Apêndice do que foi escrito acima. A rigor, nem tempo para “priorizar” essa competição tivemos. Apesar da “pilha” dos rivais naquela semana de fevereiro, sem comentários adicionais.
 
4 – Modelo de jogo
 
Evoluímos. Diferentemente de 2019 onde havíamos ficado no mesmo lugar (bastante explorado no “post” “A gente não quer só comida...”), em 2020, tardiamente é verdade, buscamos um treinador que entregue um modelo de jogo mais antenado aos dias atuais. Cabe a ressalva que ainda não podemos afirmar que Abel será capaz de fazer isso (não por culpa dele, mas por falta de tempo de treinamento), porém, mesmo na insanidade do calendário, já percebemos a capacidade de gestão de pessoas e vestiário e de proporcionar soluções criativas em alguns jogos.
 
5 – Campeão, mas podemos melhorar
 
Evoluímos, conforme item anterior (modelo de jogo).
 
6- Novas mídias e TV
 
Estável, com tendência de involução, na opinião deste “blogueiro”. O mercado tradicional está em disrupção. Havia, basicamente, um “player” de transmissão. Feita a importante ressalva das toxicidades de um ambiente monopolístico, o modelo anterior “fechava” todas as quartas e domingos do ano inteiro. Jogos excelentes (finais de Libertadores) e jogos desinteressantes (fase de classificação de Estaduais) numa espécie de pacote anual, numa emissora com alta audiência e que atraía altas cotas de patrocínio. Nesse ambiente controlado, longe de ser perfeito, existiam alguns tetos que impediam que um clube ganhasse infinitamente mais que o outro (grifa-se o infinitamente). Com o apoio do Palmeiras, esse modelo acelerou sua implosão em 2020. O “novo” modelo pressupõe múltiplas plataformas e maior independência dos clubes na forma de rentabilizar a transmissão dos seus jogos. Tendo em vista que o processo está andando à revelia de alguns clubes, pressupõe-se que união deles é algo bastante inalcançável no médio prazo. Minha visão é que estão implodindo um modelo sem ter outro melhor estruturado no lugar. Esquecem da característica “consumidora”, pouco fiel dos torcedores brasileiros que, em geral, só apoiam “na boa”, da dificuldade em acompanhar e pagar em várias plataformas (Conmebol TV, PPV do Carioca, Premiere, PalmeirasTV – se for o caso) e que no modelo livre de negociação a diferença de remuneração entre os clubes aumentará ainda mais, algo que ferirá de morte a competitividade do futebol brasileiro. Para quem duvida, vale a leitura desse artigo de 2011 (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1303201105.htm). Resumidamente, o Botafogo se empolgou com os R$ 20 milhões a mais que ganharia na negociação isolada com a TV em comparação com a anterior, feita em bloco com o Clube dos 13 que estava sendo implodido. Questionado que a diferença para o Flamengo iria triplicar, o presidente Maurício Assumpção hesitou e disse que, para ele, só importava o Botafogo. Em uma década, simplesmente não há mais competição entre Flamengo e Botafogo. Esse episódio ao menos, garantia um aumento absoluto na remuneração. A “aposta” desse “blogueiro” é que será muito improvável o aumento absoluto (pelas questões elencadas acima) e quase certo que haverá aumento na distância relativa entre os clubes. No limite, estamos apoiando o que vai nos prejudicar no futuro.
 
7 – Ocupação do Estádio
 
Face a pandemia, não cabe análise.
 
8 – Avanti
 
Face a pandemia, nesse ano, não cabe análise.
 
9 – Hegemonia
 
Esse aspecto aborda o risco da soberba que tanto atingiu outros clubes. Em 2020, não vimos traços dessa característica. Evoluímos.
 
10– Pacificação Política
 
Foi um ano mais pacífico, sem dúvida. Como não frequento o clube, corro o risco de ser bastante superficial, mas me parece um pouco a paz do cemitério. Apesar das mágoas e dissabores ainda estarem presente entre o atual e o ex-presidente, a oposição tem pouca densidade eleitoral. Na prática, tudo caminha para a eleição tranquila da candidata da situação.
 
11 – Simpatia
 
Mesmo sem a contratação de um profissional de “Relações Institucionais”, evoluímos sensivelmente, inclusive no aspecto relativo já que o rival carioca vem se perdendo nesse item. Se no ano passado abusamos de atitudes e notas geladas e desconexas do orgulho de ser palmeirense, nesse ano a mudança foi radical. A forma como conduzimos a crise na pandemia em relação aos pagamentos de salários, a empatia com os funcionários, tomando a decisão de não desligar ninguém nesse momento difícil, foi de encher de alegria o seu torcedor e lembrar do que faz um clube especial. Um clube vende sonhos, vende orgulho, vende uma forma de querer estar junto dos seus. E são esses momentos que fortalecem nossa essência. Evoluímos sensivelmente. 
 

 

Caros amigos,
 
Se em 2019, a gestão Galiotte mereceu críticas, nesse ano observamos mais acertos do que erros. Percebam que não abordei resultado, que são circunstanciais, mas aspectos importantes que deveriam estar na pauta de todo candidato que aspirar a presidência da Sociedade Esportiva Palmeiras. Os resultados também foram melhores, talvez pelo motivo de termos evoluído em alguns pontos acima, mas, paradoxalmente, não é o mais importante. O importante é o que estamos fazendo para continuarmos protagonistas.
 
E 2021?
 
Bem, vai depender do caminho escolhido (peço ler o “post” E, mais uma vez, Jesus aponta o caminho...)
 
Primeiramente, falando de campo, avaliar se Abel conseguirá ampliar o repertório dessa equipe sem tempo para treinar. Esse é um desafio imposto a maioria dos clubes, mas como o Palmeiras está saindo de anos de futebol primitivo, nosso desafio pode ser um pouco maior.
 
Depois, interessante avaliar como serão as reposições das inevitáveis perdas de jogadores no meio do ano. Serão contratações como Viña ou como Ramires? Não só reposição, mas o próprio fortalecimento do elenco. Penso que temos posições carentes e, particularmente, acho o plantel muito baixo. Na minha visão, faz sentido aumentar a estatura média, especialmente no ataque. Aprendemos com 2020? Se sim, lembro que como efeito colateral positivo teremos menos pressão financeira e menos dependência de fontes de receita (como Crefisa e seu empréstimo, por exemplo). Se sim, cabe ressaltar que a escolha de analistas de desempenho (“olheiros” dos tempos modernos) e de uma comissão técnica permanente, hoje liderado por Andrey Lopes, o “Cebola”, são assuntos da mais alta importância nos dias atuais, tão (ou mais) importantes que a escolha de técnico e jogadores.
 
Outro ponto de enorme incerteza é a continuidade de um calendário insano. Além do implacável “quarta e domingo” até o final do ano (em avançando nas competições) nesse ano haverá um complicador adicional. Teremos a maior Copa América da história, com 8 jogos, ao invés dos tradicionais 6 jogos, e inéditos 10 jogos de Eliminatórias numa temporada. Adicionalmente, caso mantida, uma competição Olímpica Sub-23. O Palmeiras será ‘mutilado” por sucessivas convocações, inclusive de outros países da América do Sul.  
 
Temos uma boa janela pela frente. Os clubes foram dizimados financeiramente pela pandemia, o Palmeiras não foi diferente, mas boa parte das nossas perdas foram atenuadas pelas premiações da temporada 2020. No aspecto relativo, temos chance de nos distanciar ainda mais de alguns rivais e, com competência, brigar sem inferioridade (em campo) com o Flamengo e, talvez, Atlético-MG que deve incomodar no primeiro ano de “doping” financeiro.
 
Diferentemente do ano passado, tenho uma visão mais otimista do futuro. Não pelos títulos recentemente conquistados, mas por acreditar (eu sei, tem fé aqui...) que alguns aprendizados foram conquistados e não cometeremos os mesmos erros no futuro.
 
A observar! Seremos espectadores do dia a dia...capítulo vivo da história.
 
Marcelo, o Racional

terça-feira, 9 de março de 2021

E, mais uma vez, Jesus aponta o caminho...

Caros amigos,

Nessa temporada atípica, o “post” tradicional esperou a conclusão de todos os jogos, algo que só ocorreu no tardio 07 de março, data esta que marcou (mais) um título alviverde. Para iniciar, peço licença para algumas citações bíblicas.

Caminhos são passagens, veredas ou vias que servem para conduzir a um determinado fim ou lugar. Na Bíblia há diversas referências sobre caminhos. Ora descreve os caminhos certos, ora detecta os caminhos errados da vida; adverte-nos para o perigo do caminho dos pecadores e aponta para o caminho dos justos...

 

De modo geral, os caminhos na Bíblia podem ser entendidos de duas maneiras distintas: Caminhos divinos e Caminhos terrenos. Esses trajetos são opostos entre si e conduzem em direções contrárias. Seguem alguns contrapontos que encontramos nas Escrituras:

 

· Caminho direito X caminhos tortuosos (Isaías 26:7; 59:8)

· Caminhos de paz X caminhos de destruição (Lucas 1:79; Romanos 3:15-17) 

· Caminho estreito X caminho largo (Mateus 7:13-14)

· Caminhos de vida X caminhos de morte (Jeremias 21:8; Provérbios 15:24)

· Caminho da justiça X caminho dos injustos (Provérbios 12:28; Ezequiel 18:29)

· Caminhos eternos X caminhos maus (Salmos 139:24; 119:101)

 

Percebe-se, portanto, a infinidade de caminhos possíveis à humanidade. Ora, perguntaria o mais atento leitor, o que isso tem a ver com futebol??

Explico...Já com a devida vênia de citar o rival, nosso sucesso está intimamente ligado ao dia da final da Champions League (vencida pelo Liverpool) de 2019. Nessa data foi anunciada a chegada de Jorge Jesus ao nosso futebol. E, desde então, as placas tectônicas, que no futebol brasileiro insistem em não se mover, não só se moveram como chacoalharam a terra e o mar, num tsunami esportivo poucas vezes visto.

Tentando resumir cronologicamente os fatos, o Palmeiras é o Campeão Brasileiro de 2018. Além de aumentos salariais vultuosos aos principais jogadores, o Palmeiras optou por renovar o contrato de todos os jogadores do elenco e, não satisfeito, trouxe mais jogadores ao seu já grandioso plantel, desde jogadores caros como Carlos Eduardo a jogadores “inativos” como Ricardo Goulart. Obviamente, o título no ano anterior não motivou o clube a questionar o trabalho do técnico e o futebol pobre, para ser elegante, era aceito pela coletividade.

O curioso é que esse “all in” financeiro, aliado a contratações questionáveis e futebol sem brilho estavam dando certo. O Palmeiras joga a nona rodada do Brasileirão no dia 12/06, vence seu jogo contra o Avaí em casa e vai para o recesso da Copa América com 8 pontos de vantagem sobre seu maior rival atual. E, se está dando certo, por qual motivo não aumentar a dose? Dois dias depois, no dia 14/06, o Palmeiras anuncia mais um jogador “inativo”, Ramires, por 4 temporadas. No final de julho, repatria Vitor Hugo e alguns comunicadores “caça-cliques” já vaticinam o Palmeiras como Hendecacampeão Brasileiro.

Mas, Jesus voltou à Terra. Ao invés de multiplicar seus conhecimentos na Galileia, dessa vez, ele escolheu o Rio de Janeiro...

Sim, foi constrangedor...Além do rival fazer 24 pontos a mais em 29 jogos, sofremos duas derrotas acachapantes que ocasionaram a queda de 2 técnicos (Scolari e Mano). Mais que a perda do título, ficava nítida a incapacidade de competir no mesmo nível que o rival. Sem as receitas dos títulos dos campeonatos, com um elenco inchado e caro e um futebol paupérrimo, iniciávamos 2020 com a necessidade de mudanças.

Sempre haverá a legítima dúvida se foi por necessidade ou por convicção. Vale outro “post” para tratar desse ponto, mas o fato concreto é que a mudança foi implementada. Implementada de forma rápida e, até certo ponto, agressiva.

Se até 2019, a ideia era vender um Fernando (base) para o Shaktar e contratar um Carlos Eduardo, em 2020 o Palmeiras se desfez de cerca de 2 dezenas de jogadores. De Deyverson a Diogo Barbosa. De Borja a Guerra. De Vitor Hugo a Hyoran. De Fabiano a Erik. Até o maior expoente do título de 2018, Bruno Henrique, saiu. Até o maior jogador da década, Dudu, saiu.

Como “reposição”, contratações pontuais como Viña e Kuscevic e apenas uma contratação mais cara, Rony. Na opinião deste “blogueiro” um jogador comum, sem brilho técnico, mas, verdade seja dita, com participações decisivas na temporada. Mas, se perdemos 20 jogadores, como repor com apenas alguns? A resposta esteve na base. Evidentemente, isso só foi possível porque o Palmeiras - primeiramente com Paulo Nobre que iniciou a “descupinização” e primeiros investimentos e, posteriormente, com Galiotte que investiu cerca de R$ 100 milhões nos últimos anos - depois de décadas de negligência com o assunto, mudou sua postura e essa base, que já vinha demonstrando seu valor desde meados da década passada, supriu o elenco profissional com espantosos 12 jogadores, recorde na centenária história. Vale uma menção para lá de honrosa a João Paulo Sampaio, que assumiu a coordenação da base em 2015, função que cumpre até hoje. Personagem com pouca visibilidade, mas uma das figuras mais importantes da reconstrução palestrina. Nosso agradecimento eterno.

Com o desinvestimento de 40% na folha de pagamento, o Palmeiras deixava de figurar entre os favoritos nas principais competições pelos comunicadores esportivos e redes antissociais. Sendo franco, até o Anderson Barros, à época do recesso pandêmico, dizia que a reformulação indicava conquistas em 2021, mais provável, 2022, dada sua magnitude. O clássico plantar hoje para colher amanhã.

E qual foi o resultado da temporada? Pela primeira vez, desde o Santos em 1963, um time faz todos os jogos possíveis em uma temporada. Concluímos os 79 jogos. Mais que isso, ganhamos a maior obsessão, como a torcida - que canta e vibra - grita nos estádios. De quebra, vencemos mais uma Copa do Brasil, torneio de maior premiação no continente. De aperitivo, dois títulos sobre o maior rival local (Florida Cup e Paulista).

Isso quer dizer que está tudo certo?

Não, definitivamente, não. Sabemos que o Flamengo, apesar do título Brasileiro conquistado sem a tranquilidade que seu elenco sugere, tropeçou nas suas pernas em 2020 (aliás, uma espécie de Palmeiras 2019), sabemos que os cruzamentos dos torneios foram favoráveis enquanto encontrávamos o melhor jogo. Não podemos esquecer que a busca por um jogo mais antenado aos dias atuais só ocorreu em novembro, após a saída do inexplicável Vanderlei Luxemburgo. Pelo calendário insano, nem conseguimos enxergar se Abel Ferreira é um técnico com qualidades para deixar o jogo do Palmeiras mais versátil, mas é uma tentativa no caminho correto, sem dúvida. De qualquer forma, nesse ano, “apenas” com sua gestão de pessoas e de entorno acima da média de seus pares, o campo já deu alguma resposta.

Envelhecer traz poucas, mas importantes vantagens. Um clube centenário tem como observar os resultados quando trilhou um caminho ou o outro. Mais que isso, pode observar também o que aconteceu com os adversários quando escolheu um ou outro caminho.

Na Parmalat, tínhamos um Cafu ou um Rivaldo vindo de times grandes brasileiros (ainda jovens em início de carreira), mas tínhamos jogadores vindo do Guarani, União de Araras ou Rio Branco de Americana, como Djalminha, Luisão, Edilson, Roberto Carlos, Flavio Conceição, entre outros. Em 2016, saímos da fila de 22 anos sem Brasileiro com Moisés, Tchê Tchê, Vítor Hugo, Mina, Gabriel Jesus, Jaílson, Roger Guedes, entre outros. Em 2020, saímos da fila de 21 anos de Libertadores com garotos da base com participações fundamentais como Gabriel Menino, Wesley, Veron, Patrick de Paula, Danilo, etc.

Por outro lado, os 2 últimos “all in” fracassaram. Em 2009, com Belluzzo, angariamos uma segunda divisão 3 anos depois junto com uma improvável Copa do Brasil (à época sem os melhores times brasileiros que disputavam a Libertadores). A outra foi em 2019 (já citada acima) e que sofreu um atropelamento por parte do time carioca.

Em relação aos rivais, podemos citar o São Paulo, tricampeão brasileiro seguido por pontos corridos com Mineiro, Josué, Fabão, Aloísio, Alex Pirulito e o dos últimos 10 anos de fila com Rivaldo, Kaká, Adriano, Daniel Alves, Hernanes, Ganso e Pato.

Para não cansar os raros leitores que chegaram até aqui, não citarei mais exemplos, mas posso garantir que são inúmeros.

Claro, tudo é incerto. O futuro é incerto. No esporte, então, mais ainda. Mas, isso jamais poderia ser usado como desculpa para a aleatoriedade ou “terceirização” da gestão pelos clamores externos, sejam eles da torcida, da mídia, dos sócios ou de quem quer que sejam. Escrito de outra forma, temos que escolher as estradas que percorreremos. E eles são claros.

O caminho mais difícil, o da construção, o da paciência, com jogadores com “fome”, que olham o clube para cima, com a necessidade de extrema competência na hora de contratar, absurda competência no trabalho de base, o reconhecimento de seu tamanho na “cadeia alimentar” do futebol atual (menor que Europa e maior que América do Sul), a necessidade de oxigenar o elenco anualmente já que, até por aspectos culturais, os jogadores brasileiros se confortam com as primeiras conquistas especialmente se não conseguirem o “prêmio” de serem negociado para a Europa. Para coordenar tudo isso dentro de campo, um técnico minimamente conhecedor da forma como esse esporte é praticado atualmente.

O outro caminho é o atalho. Sempre mais simples, mais fácil. O aplauso impensado da torcida e da crítica no começo. O escudo para o dirigente. A tentativa que a grife, por algum motivo mais ligado à fé que aos fatos, supere os últimos maus trabalhos e finalmente vinguem no nosso clube de coração.

Esse “post” se concentrou nos resultados/protagonismo, mas vale citar também os reflexos financeiros de cada caminho. Diversos exemplos de clubes que, por mais que tenham ganho um ou outro título esporádico ao escolher o atalho, tiveram (ou têm) de lidar com situações gravíssimas com perda de competitividade flagrante, sendo o maior exemplo atual o Cruzeiro.

Penso que ficou evidente que esse “blogueiro” não está defendendo 30 jogadores da base no elenco ou que o clube nunca faça uma aposta financeiramente mais arriscada. O ponto central aqui é debater a “linha mestra” do clube, o conceito por trás das decisões. Por mais que o Palmeiras tenha contratado Rony, me parece inequívoco que o clube escolheu outra estratégia em 2020.

Enfim, Jesus nos deixou novamente. Saiu do Rio de Janeiro e foi pra Lisboa, repetindo D. João VI em 1821. Mas, como o Messias há mais de 2 milênios, deixou seus ensinamentos sobre os caminhos. Parafraseando São Lucas, temos os caminhos da paz x caminhos da destruição. A escolha é nossa!

E, obrigado, Jesus! Graças a sua vinda, entre outros motivos, ganhamos a Glória Eterna! Mais importante, essa enorme conquista talvez tenha conquistado mais alguns defensores do caminho mais difícil. Pessoalmente, como uma voz antiga e quase isolada nesse debate, ficaria extremamente feliz!

O futuro dirá!

 

Marcelo, o Racional