terça-feira, 9 de março de 2021

E, mais uma vez, Jesus aponta o caminho...

Caros amigos,

Nessa temporada atípica, o “post” tradicional esperou a conclusão de todos os jogos, algo que só ocorreu no tardio 07 de março, data esta que marcou (mais) um título alviverde. Para iniciar, peço licença para algumas citações bíblicas.

Caminhos são passagens, veredas ou vias que servem para conduzir a um determinado fim ou lugar. Na Bíblia há diversas referências sobre caminhos. Ora descreve os caminhos certos, ora detecta os caminhos errados da vida; adverte-nos para o perigo do caminho dos pecadores e aponta para o caminho dos justos...

 

De modo geral, os caminhos na Bíblia podem ser entendidos de duas maneiras distintas: Caminhos divinos e Caminhos terrenos. Esses trajetos são opostos entre si e conduzem em direções contrárias. Seguem alguns contrapontos que encontramos nas Escrituras:

 

· Caminho direito X caminhos tortuosos (Isaías 26:7; 59:8)

· Caminhos de paz X caminhos de destruição (Lucas 1:79; Romanos 3:15-17) 

· Caminho estreito X caminho largo (Mateus 7:13-14)

· Caminhos de vida X caminhos de morte (Jeremias 21:8; Provérbios 15:24)

· Caminho da justiça X caminho dos injustos (Provérbios 12:28; Ezequiel 18:29)

· Caminhos eternos X caminhos maus (Salmos 139:24; 119:101)

 

Percebe-se, portanto, a infinidade de caminhos possíveis à humanidade. Ora, perguntaria o mais atento leitor, o que isso tem a ver com futebol??

Explico...Já com a devida vênia de citar o rival, nosso sucesso está intimamente ligado ao dia da final da Champions League (vencida pelo Liverpool) de 2019. Nessa data foi anunciada a chegada de Jorge Jesus ao nosso futebol. E, desde então, as placas tectônicas, que no futebol brasileiro insistem em não se mover, não só se moveram como chacoalharam a terra e o mar, num tsunami esportivo poucas vezes visto.

Tentando resumir cronologicamente os fatos, o Palmeiras é o Campeão Brasileiro de 2018. Além de aumentos salariais vultuosos aos principais jogadores, o Palmeiras optou por renovar o contrato de todos os jogadores do elenco e, não satisfeito, trouxe mais jogadores ao seu já grandioso plantel, desde jogadores caros como Carlos Eduardo a jogadores “inativos” como Ricardo Goulart. Obviamente, o título no ano anterior não motivou o clube a questionar o trabalho do técnico e o futebol pobre, para ser elegante, era aceito pela coletividade.

O curioso é que esse “all in” financeiro, aliado a contratações questionáveis e futebol sem brilho estavam dando certo. O Palmeiras joga a nona rodada do Brasileirão no dia 12/06, vence seu jogo contra o Avaí em casa e vai para o recesso da Copa América com 8 pontos de vantagem sobre seu maior rival atual. E, se está dando certo, por qual motivo não aumentar a dose? Dois dias depois, no dia 14/06, o Palmeiras anuncia mais um jogador “inativo”, Ramires, por 4 temporadas. No final de julho, repatria Vitor Hugo e alguns comunicadores “caça-cliques” já vaticinam o Palmeiras como Hendecacampeão Brasileiro.

Mas, Jesus voltou à Terra. Ao invés de multiplicar seus conhecimentos na Galileia, dessa vez, ele escolheu o Rio de Janeiro...

Sim, foi constrangedor...Além do rival fazer 24 pontos a mais em 29 jogos, sofremos duas derrotas acachapantes que ocasionaram a queda de 2 técnicos (Scolari e Mano). Mais que a perda do título, ficava nítida a incapacidade de competir no mesmo nível que o rival. Sem as receitas dos títulos dos campeonatos, com um elenco inchado e caro e um futebol paupérrimo, iniciávamos 2020 com a necessidade de mudanças.

Sempre haverá a legítima dúvida se foi por necessidade ou por convicção. Vale outro “post” para tratar desse ponto, mas o fato concreto é que a mudança foi implementada. Implementada de forma rápida e, até certo ponto, agressiva.

Se até 2019, a ideia era vender um Fernando (base) para o Shaktar e contratar um Carlos Eduardo, em 2020 o Palmeiras se desfez de cerca de 2 dezenas de jogadores. De Deyverson a Diogo Barbosa. De Borja a Guerra. De Vitor Hugo a Hyoran. De Fabiano a Erik. Até o maior expoente do título de 2018, Bruno Henrique, saiu. Até o maior jogador da década, Dudu, saiu.

Como “reposição”, contratações pontuais como Viña e Kuscevic e apenas uma contratação mais cara, Rony. Na opinião deste “blogueiro” um jogador comum, sem brilho técnico, mas, verdade seja dita, com participações decisivas na temporada. Mas, se perdemos 20 jogadores, como repor com apenas alguns? A resposta esteve na base. Evidentemente, isso só foi possível porque o Palmeiras - primeiramente com Paulo Nobre que iniciou a “descupinização” e primeiros investimentos e, posteriormente, com Galiotte que investiu cerca de R$ 100 milhões nos últimos anos - depois de décadas de negligência com o assunto, mudou sua postura e essa base, que já vinha demonstrando seu valor desde meados da década passada, supriu o elenco profissional com espantosos 12 jogadores, recorde na centenária história. Vale uma menção para lá de honrosa a João Paulo Sampaio, que assumiu a coordenação da base em 2015, função que cumpre até hoje. Personagem com pouca visibilidade, mas uma das figuras mais importantes da reconstrução palestrina. Nosso agradecimento eterno.

Com o desinvestimento de 40% na folha de pagamento, o Palmeiras deixava de figurar entre os favoritos nas principais competições pelos comunicadores esportivos e redes antissociais. Sendo franco, até o Anderson Barros, à época do recesso pandêmico, dizia que a reformulação indicava conquistas em 2021, mais provável, 2022, dada sua magnitude. O clássico plantar hoje para colher amanhã.

E qual foi o resultado da temporada? Pela primeira vez, desde o Santos em 1963, um time faz todos os jogos possíveis em uma temporada. Concluímos os 79 jogos. Mais que isso, ganhamos a maior obsessão, como a torcida - que canta e vibra - grita nos estádios. De quebra, vencemos mais uma Copa do Brasil, torneio de maior premiação no continente. De aperitivo, dois títulos sobre o maior rival local (Florida Cup e Paulista).

Isso quer dizer que está tudo certo?

Não, definitivamente, não. Sabemos que o Flamengo, apesar do título Brasileiro conquistado sem a tranquilidade que seu elenco sugere, tropeçou nas suas pernas em 2020 (aliás, uma espécie de Palmeiras 2019), sabemos que os cruzamentos dos torneios foram favoráveis enquanto encontrávamos o melhor jogo. Não podemos esquecer que a busca por um jogo mais antenado aos dias atuais só ocorreu em novembro, após a saída do inexplicável Vanderlei Luxemburgo. Pelo calendário insano, nem conseguimos enxergar se Abel Ferreira é um técnico com qualidades para deixar o jogo do Palmeiras mais versátil, mas é uma tentativa no caminho correto, sem dúvida. De qualquer forma, nesse ano, “apenas” com sua gestão de pessoas e de entorno acima da média de seus pares, o campo já deu alguma resposta.

Envelhecer traz poucas, mas importantes vantagens. Um clube centenário tem como observar os resultados quando trilhou um caminho ou o outro. Mais que isso, pode observar também o que aconteceu com os adversários quando escolheu um ou outro caminho.

Na Parmalat, tínhamos um Cafu ou um Rivaldo vindo de times grandes brasileiros (ainda jovens em início de carreira), mas tínhamos jogadores vindo do Guarani, União de Araras ou Rio Branco de Americana, como Djalminha, Luisão, Edilson, Roberto Carlos, Flavio Conceição, entre outros. Em 2016, saímos da fila de 22 anos sem Brasileiro com Moisés, Tchê Tchê, Vítor Hugo, Mina, Gabriel Jesus, Jaílson, Roger Guedes, entre outros. Em 2020, saímos da fila de 21 anos de Libertadores com garotos da base com participações fundamentais como Gabriel Menino, Wesley, Veron, Patrick de Paula, Danilo, etc.

Por outro lado, os 2 últimos “all in” fracassaram. Em 2009, com Belluzzo, angariamos uma segunda divisão 3 anos depois junto com uma improvável Copa do Brasil (à época sem os melhores times brasileiros que disputavam a Libertadores). A outra foi em 2019 (já citada acima) e que sofreu um atropelamento por parte do time carioca.

Em relação aos rivais, podemos citar o São Paulo, tricampeão brasileiro seguido por pontos corridos com Mineiro, Josué, Fabão, Aloísio, Alex Pirulito e o dos últimos 10 anos de fila com Rivaldo, Kaká, Adriano, Daniel Alves, Hernanes, Ganso e Pato.

Para não cansar os raros leitores que chegaram até aqui, não citarei mais exemplos, mas posso garantir que são inúmeros.

Claro, tudo é incerto. O futuro é incerto. No esporte, então, mais ainda. Mas, isso jamais poderia ser usado como desculpa para a aleatoriedade ou “terceirização” da gestão pelos clamores externos, sejam eles da torcida, da mídia, dos sócios ou de quem quer que sejam. Escrito de outra forma, temos que escolher as estradas que percorreremos. E eles são claros.

O caminho mais difícil, o da construção, o da paciência, com jogadores com “fome”, que olham o clube para cima, com a necessidade de extrema competência na hora de contratar, absurda competência no trabalho de base, o reconhecimento de seu tamanho na “cadeia alimentar” do futebol atual (menor que Europa e maior que América do Sul), a necessidade de oxigenar o elenco anualmente já que, até por aspectos culturais, os jogadores brasileiros se confortam com as primeiras conquistas especialmente se não conseguirem o “prêmio” de serem negociado para a Europa. Para coordenar tudo isso dentro de campo, um técnico minimamente conhecedor da forma como esse esporte é praticado atualmente.

O outro caminho é o atalho. Sempre mais simples, mais fácil. O aplauso impensado da torcida e da crítica no começo. O escudo para o dirigente. A tentativa que a grife, por algum motivo mais ligado à fé que aos fatos, supere os últimos maus trabalhos e finalmente vinguem no nosso clube de coração.

Esse “post” se concentrou nos resultados/protagonismo, mas vale citar também os reflexos financeiros de cada caminho. Diversos exemplos de clubes que, por mais que tenham ganho um ou outro título esporádico ao escolher o atalho, tiveram (ou têm) de lidar com situações gravíssimas com perda de competitividade flagrante, sendo o maior exemplo atual o Cruzeiro.

Penso que ficou evidente que esse “blogueiro” não está defendendo 30 jogadores da base no elenco ou que o clube nunca faça uma aposta financeiramente mais arriscada. O ponto central aqui é debater a “linha mestra” do clube, o conceito por trás das decisões. Por mais que o Palmeiras tenha contratado Rony, me parece inequívoco que o clube escolheu outra estratégia em 2020.

Enfim, Jesus nos deixou novamente. Saiu do Rio de Janeiro e foi pra Lisboa, repetindo D. João VI em 1821. Mas, como o Messias há mais de 2 milênios, deixou seus ensinamentos sobre os caminhos. Parafraseando São Lucas, temos os caminhos da paz x caminhos da destruição. A escolha é nossa!

E, obrigado, Jesus! Graças a sua vinda, entre outros motivos, ganhamos a Glória Eterna! Mais importante, essa enorme conquista talvez tenha conquistado mais alguns defensores do caminho mais difícil. Pessoalmente, como uma voz antiga e quase isolada nesse debate, ficaria extremamente feliz!

O futuro dirá!

 

Marcelo, o Racional

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