quarta-feira, 17 de março de 2021

Balanço das Prioridades

          Caros amigos,

Em 2018, ainda sob os efeitos do histórico gol de Deyverson em São Januário, publiquei um “post” intitulado “A Necessidade da Evolução Contínua. A Falácia da Hegemonia no Brasil”. À época elenquei 10 tópicos que, na minha visão, deveriam merecer atenção da comunidade palestrina. Com o intuito de poupar o tempo do raro leitor, apenas citarei os tópicos e abordarei somente sobre as evoluções, ou não, dos mesmos abaixo. Caso haja interesse no maior esclarecimento da razão de cada item, peço acessar o “post” do ano retrasado e do ano passado. Em 2019, acrescentamos um décimo primeiro item (simpatia). Sendo assim, vamos a eles:
 
1 – Necessidade de mudanças estruturais
 
Sem evolução. Continuamos com a opção de compor com o sistema. Nosso treinador teceu críticas educadas, porém contundentes, acerca do calendário brasileiro há poucos dias. Todos sabem que ele tem razão e, por consequência, ele fala e a instituição cala. Já escrevi isso diversas vezes e repito. O Palmeiras não deveria liderar a mudança por benevolência, mas por pragmatismo. Seria o clube que mais se beneficiaria de uma estrutura mais profissional. Nunca tivemos ajuda estatal para construir estádio (aliás, como demorou o alvará para “reformarmos” com dinheiro privado), nem patrocínio público em camisa. Quem vocês acham que gostam mais do STJD, arbitragens polêmicas, calendário apertado, gramados ruins? O Palmeiras é que não é.
 
2 – Priorização do Brasileirão
 
Evoluímos. Mesmo fazendo todos os jogos da temporada, não desistimos do campeonato e jogamos à vera até o momento que perdemos as chances. Nesse aspecto, talvez a chegada de um europeu tenha ajudado já que eles, culturalmente, valorizam demais a liga nacional.
 
3 – O Palmeiras não tem Mundial
 
Apêndice do que foi escrito acima. A rigor, nem tempo para “priorizar” essa competição tivemos. Apesar da “pilha” dos rivais naquela semana de fevereiro, sem comentários adicionais.
 
4 – Modelo de jogo
 
Evoluímos. Diferentemente de 2019 onde havíamos ficado no mesmo lugar (bastante explorado no “post” “A gente não quer só comida...”), em 2020, tardiamente é verdade, buscamos um treinador que entregue um modelo de jogo mais antenado aos dias atuais. Cabe a ressalva que ainda não podemos afirmar que Abel será capaz de fazer isso (não por culpa dele, mas por falta de tempo de treinamento), porém, mesmo na insanidade do calendário, já percebemos a capacidade de gestão de pessoas e vestiário e de proporcionar soluções criativas em alguns jogos.
 
5 – Campeão, mas podemos melhorar
 
Evoluímos, conforme item anterior (modelo de jogo).
 
6- Novas mídias e TV
 
Estável, com tendência de involução, na opinião deste “blogueiro”. O mercado tradicional está em disrupção. Havia, basicamente, um “player” de transmissão. Feita a importante ressalva das toxicidades de um ambiente monopolístico, o modelo anterior “fechava” todas as quartas e domingos do ano inteiro. Jogos excelentes (finais de Libertadores) e jogos desinteressantes (fase de classificação de Estaduais) numa espécie de pacote anual, numa emissora com alta audiência e que atraía altas cotas de patrocínio. Nesse ambiente controlado, longe de ser perfeito, existiam alguns tetos que impediam que um clube ganhasse infinitamente mais que o outro (grifa-se o infinitamente). Com o apoio do Palmeiras, esse modelo acelerou sua implosão em 2020. O “novo” modelo pressupõe múltiplas plataformas e maior independência dos clubes na forma de rentabilizar a transmissão dos seus jogos. Tendo em vista que o processo está andando à revelia de alguns clubes, pressupõe-se que união deles é algo bastante inalcançável no médio prazo. Minha visão é que estão implodindo um modelo sem ter outro melhor estruturado no lugar. Esquecem da característica “consumidora”, pouco fiel dos torcedores brasileiros que, em geral, só apoiam “na boa”, da dificuldade em acompanhar e pagar em várias plataformas (Conmebol TV, PPV do Carioca, Premiere, PalmeirasTV – se for o caso) e que no modelo livre de negociação a diferença de remuneração entre os clubes aumentará ainda mais, algo que ferirá de morte a competitividade do futebol brasileiro. Para quem duvida, vale a leitura desse artigo de 2011 (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1303201105.htm). Resumidamente, o Botafogo se empolgou com os R$ 20 milhões a mais que ganharia na negociação isolada com a TV em comparação com a anterior, feita em bloco com o Clube dos 13 que estava sendo implodido. Questionado que a diferença para o Flamengo iria triplicar, o presidente Maurício Assumpção hesitou e disse que, para ele, só importava o Botafogo. Em uma década, simplesmente não há mais competição entre Flamengo e Botafogo. Esse episódio ao menos, garantia um aumento absoluto na remuneração. A “aposta” desse “blogueiro” é que será muito improvável o aumento absoluto (pelas questões elencadas acima) e quase certo que haverá aumento na distância relativa entre os clubes. No limite, estamos apoiando o que vai nos prejudicar no futuro.
 
7 – Ocupação do Estádio
 
Face a pandemia, não cabe análise.
 
8 – Avanti
 
Face a pandemia, nesse ano, não cabe análise.
 
9 – Hegemonia
 
Esse aspecto aborda o risco da soberba que tanto atingiu outros clubes. Em 2020, não vimos traços dessa característica. Evoluímos.
 
10– Pacificação Política
 
Foi um ano mais pacífico, sem dúvida. Como não frequento o clube, corro o risco de ser bastante superficial, mas me parece um pouco a paz do cemitério. Apesar das mágoas e dissabores ainda estarem presente entre o atual e o ex-presidente, a oposição tem pouca densidade eleitoral. Na prática, tudo caminha para a eleição tranquila da candidata da situação.
 
11 – Simpatia
 
Mesmo sem a contratação de um profissional de “Relações Institucionais”, evoluímos sensivelmente, inclusive no aspecto relativo já que o rival carioca vem se perdendo nesse item. Se no ano passado abusamos de atitudes e notas geladas e desconexas do orgulho de ser palmeirense, nesse ano a mudança foi radical. A forma como conduzimos a crise na pandemia em relação aos pagamentos de salários, a empatia com os funcionários, tomando a decisão de não desligar ninguém nesse momento difícil, foi de encher de alegria o seu torcedor e lembrar do que faz um clube especial. Um clube vende sonhos, vende orgulho, vende uma forma de querer estar junto dos seus. E são esses momentos que fortalecem nossa essência. Evoluímos sensivelmente. 
 

 

Caros amigos,
 
Se em 2019, a gestão Galiotte mereceu críticas, nesse ano observamos mais acertos do que erros. Percebam que não abordei resultado, que são circunstanciais, mas aspectos importantes que deveriam estar na pauta de todo candidato que aspirar a presidência da Sociedade Esportiva Palmeiras. Os resultados também foram melhores, talvez pelo motivo de termos evoluído em alguns pontos acima, mas, paradoxalmente, não é o mais importante. O importante é o que estamos fazendo para continuarmos protagonistas.
 
E 2021?
 
Bem, vai depender do caminho escolhido (peço ler o “post” E, mais uma vez, Jesus aponta o caminho...)
 
Primeiramente, falando de campo, avaliar se Abel conseguirá ampliar o repertório dessa equipe sem tempo para treinar. Esse é um desafio imposto a maioria dos clubes, mas como o Palmeiras está saindo de anos de futebol primitivo, nosso desafio pode ser um pouco maior.
 
Depois, interessante avaliar como serão as reposições das inevitáveis perdas de jogadores no meio do ano. Serão contratações como Viña ou como Ramires? Não só reposição, mas o próprio fortalecimento do elenco. Penso que temos posições carentes e, particularmente, acho o plantel muito baixo. Na minha visão, faz sentido aumentar a estatura média, especialmente no ataque. Aprendemos com 2020? Se sim, lembro que como efeito colateral positivo teremos menos pressão financeira e menos dependência de fontes de receita (como Crefisa e seu empréstimo, por exemplo). Se sim, cabe ressaltar que a escolha de analistas de desempenho (“olheiros” dos tempos modernos) e de uma comissão técnica permanente, hoje liderado por Andrey Lopes, o “Cebola”, são assuntos da mais alta importância nos dias atuais, tão (ou mais) importantes que a escolha de técnico e jogadores.
 
Outro ponto de enorme incerteza é a continuidade de um calendário insano. Além do implacável “quarta e domingo” até o final do ano (em avançando nas competições) nesse ano haverá um complicador adicional. Teremos a maior Copa América da história, com 8 jogos, ao invés dos tradicionais 6 jogos, e inéditos 10 jogos de Eliminatórias numa temporada. Adicionalmente, caso mantida, uma competição Olímpica Sub-23. O Palmeiras será ‘mutilado” por sucessivas convocações, inclusive de outros países da América do Sul.  
 
Temos uma boa janela pela frente. Os clubes foram dizimados financeiramente pela pandemia, o Palmeiras não foi diferente, mas boa parte das nossas perdas foram atenuadas pelas premiações da temporada 2020. No aspecto relativo, temos chance de nos distanciar ainda mais de alguns rivais e, com competência, brigar sem inferioridade (em campo) com o Flamengo e, talvez, Atlético-MG que deve incomodar no primeiro ano de “doping” financeiro.
 
Diferentemente do ano passado, tenho uma visão mais otimista do futuro. Não pelos títulos recentemente conquistados, mas por acreditar (eu sei, tem fé aqui...) que alguns aprendizados foram conquistados e não cometeremos os mesmos erros no futuro.
 
A observar! Seremos espectadores do dia a dia...capítulo vivo da história.
 
Marcelo, o Racional

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