terça-feira, 12 de abril de 2011

Ganso e o Futebol Moderno

Caros amigos,

A capa do Lance! de hoje está causando reações indignadas acerca da traição de Paulo Henrique Ganso que pode trocar o Santos pelo Corinthians. Mercenário é o maior elogio que o Ganso está recebendo desde que pipocou essa polêmica. Gostaria de dar a minha visão que é um pouco diferente.

Antes de mais nada é importante pontuar e constatar. Por mais que desejássemos que nossos ídolos ficassem nos clubes e os jogadores tivessem mais amor à camisa (também desejo isso), precisamos reconhecer. O mercado mudou muito e, mais importante, a lei mudou desde os anos 90. Antes o passe prendia o jogador ao clube (que lucrava bastante com isso), hoje o jogador assina um contrato por um tempo e o clube detém o direito federativo pelo período do contrato. Como qualquer contrato, se alguém quiser descontinuar, paga-se a multa rescisória. Simples.

Do ponto de vista estritamente racional, o Ganso tem a intenção de jogar na Europa. O Santos colocou duas multas no contrato, onde a venda para o futebol local é infinitamente mais baixa que para o futebol do exterior. Na minha opinião aí está o erro do Santos. Vendo a brecha, a idéia é se transferir para o futebol local e em dezembro para a Europa. O clube europeu pagaria menos, justificado pelo fato do jogador estar voltando de contusão e as incertezas de sua volta.

É evidente que poderíamos dizer que o Ganso deve gratidão ao Santos e que poderia escolher um clube diferente do arqui-rival. Entretanto, as conveniências estão empurrando para isso. Penso assim também, mas às vezes penso se exigimos isso apenas dessa classe de profissionais e não de outras. Quanto de nós estamos hoje nas mesmas empresas que começamos? Será que quando começamos a nos valorizar profissionalmente não procuramos ou fomos procurados por outras empresas? Será que o momento que saímos era o mais conveniente para a antiga empresa?

Enfim, a idéia não é ter esse debate que é interminável, mas concluir que o que vai reger essas relações no futuro será o mercado e não a emoção e/ou gratidão. Infelizmente, como já disse o pintor de rodapé Marco Aurélio Cunha, se o jogador quiser sair, vai sair e não há contrato que impeça. Ele joga na imprensa que tem interesse em sair, a torcida pega no pé, ele diz que está sem ambiente e infeliz e bingo! Constatado isso, cabe a pergunta: Como os clubes devem agir com a nova realidade?

Temos de imaginar o que motiva o jogador a ir embora. Vejo 3 razões:  1 – Grana;  2 - Buscar crescimento cultural  e 3 - Jogar em campeonatos mais organizados, melhores gramados com melhores jogadores.

A primeira questão está se resolvendo. A diferença salarial diminuiu drasticamente até pela melhora econômica recente. O segundo ponto interessa a apenas 0,14% dos jogadores. Já o terceiro ponto é o mais relevante. Só com união dos clubes, criando ligas, exigindo gramados dignos com campeonatos atraentes, conseguiremos diminuir a enorme distância entre nossos campeonatos e os europeus.

Esse ciclo virtuoso faria com que mais jogadores se interessassem em ficar e o talento médio do jogador brasileiro faria o resto. Porém, isso demora e para muitos é uma utopia. Então o que o Palmeiras pode fazer isoladamente?

Na minha opinião se aperfeiçoar no modelo de venda rápida de bons valores (que são poucos) e rápida reposição com jovens valores. Um pouco de exemplo do São Paulo de 2006 a 2008 e do Cruzeiro. A idéia é manter a espinha dorsal e vender “apenas” 2 ou 3 jogadores valorizados. Os 8 ou 9 restantes mantém a base do time e os 3 valores chegam num time pronto. Isso é fundamental. Lançar valores em times bem estruturados. Eu brinco que em time bom até o Sandro Blum vira craque. E o ciclo se reinicia. Os irmãos Perrella, em que pese os indícios de corrupção, são mestres nessa arte. E o Cruzeiro, mesmo num mercado menor (Belo Horizonte) vem sem mantendo no topo do futebol brasileiro há pelo menos 10 anos. Parece ser esse o caminho.

E nesse cenário o torcedor pode encher a boca e dizer: “ Fulano, vá se f..., o meu Palmeiras não precisa de você”. E não precisa mesmo. Nada é maior que a instituição. Quer ir embora? Vá com Deus!

Abraços,

Marcelo, o Racional

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