sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A DORMÊNCIA DE UM GIGANTE - A TORCIDA

Caros amigos,

Aqui é complicado. O pensamento único toma corpo e o patrulhamento praticamente impede você de ter opinião contrária. Vou me atrever a entrar nesse terreno, já que nosso objetivo é focar a dormência do gigante sob outros pontos de vista.

Antes de mais nada, entendo que a torcida de futebol (especialmente a de estádio) é dividida entre a minoria barulhenta (organizadas) e maioria silenciosa (torcedor comum). Vamos começar pela primeira.

A princípio, uma coisa me espanta. Estou escrevendo essas linhas dentro de um avião e, pelo fato de voar bastante, sou um passageiro freqüente e tenho uma série de benefícios. Aparentemente, faz sentido. Viajo bastante, gero receita, a empresa busca me fidelizar, volto a viajar com ela e o ciclo se completa. Já com clientes menos atrativos, a companhia não tem o mesmo cuidado e em alguns setores de atividade até “convidam” o cliente a deixar de usar a empresa. Simples assim.

E  se eu dissesse que a Cia. Aérea começasse a partir de hoje a dar benefícios para o passageiro que paga pouco ou nada pela sua passagem, arranja briga com outros passageiros, impede outros de usar as principais cadeiras, cria um clima de terror que impede a conquista de outros passageiros? Surreal, não? Mas acontece. Se quiserem, dêem uma olhada nos times grandes, em especial, na Rua Turiassu.

Sinceramente, exceto pela política de medo e terror, não dá para entender como os clubes não “asfixiam” essas torcidas, que batem em adversários e jogadores dos próprios clubes desvalorizando-os. Como fazer isso? Basicamente, tirando ingressos subsidiados (ou gratuitos) e as facilidades para a compra (disponibilizando ingressos para a sede). No estádio, fazer cumprir o local e evitar que o bando se junte. Nunca permitir que esses torcedores entrem em CT ou coisa do gênero, simplesmente pelo fato que eles NÃO representam os 15 milhões de palmeirenses. Como medida de choque, apesar de impopular, aumentar o preço do ingresso, buscando num primeiro momento um público interessado em curtir o espetáculo. Nesse ano eles se superaram. Interpelaram o Luan, pediram a saída do melhor jogador do clube (Assunção) e bateram no João Vitor.

Se o custo disso for perder 250 palmeirenses nos jogos fora de casa entoando gritos de guerra contra a polícia e adversários, está valendo.

A outra parte da torcida é a maioria silenciosa. O Palmeirasé o único clube onde parte da maioria silenciosa tem apelido. Chama-se turma do amendoim ou turma do limão. Interessante, não? Além disso, a torcida, de forma geral, tem um peculiar comportamento. A total diferença de aceitação para 2 grupos distintos de jogadores. Num grupo está os que já ganharam título no passado e os que arrebentam nos 2 primeiros jogos. No outro, o resto. Por definição, é muito mais difícil encontrar jogadores que se enquadram noprimeiro grupo, claro.

Para o primeiro grupo, tudo. Condescendência total. Pode fazer o que for, faltar, desrespeitar, não jogar, ganhar muito, mas tudo bem. O Kleber (tema de post no passado) fez de tudo com a instituição. Simulou contusão, xingou vice presidente, forçou saída, contaminou o grupo e, tudo bem. Ao entrar em campo no Pacaembu contra o Flamengo foi aplaudido, só porque ganhou 1 (um) título e participou de festa de organizada no passado.

O Valdivia, que ganha R$ 500 mil/Mês para jogar 1 partida/mês em média, ainda é o nosso Mago. O Marcos é nosso ícone absoluto, apesar de desde 2002 se contundir em TODOS os anos e jogar menos de 30 partidas/ano. Nada, nada interessa. Ganharam antes, então, tudo bem.

Já para o outro grupo, perseguição implacável. Impaciência, intolerância, não importa o que aconteça. Esse ano foi exemplar. O Luan, típico jogador do nível médio do futebol brasileiro atual, teve de enfrentar de tudo para se “firmar”. Uso aspas, pois ele está longe de ser unanimidade. Ofensas, chacotas, intimidação verbal e quase física em aeroporto ,etc, etc, etc... Só que, enquanto um jogador que passa por isso consegue se “firmar”, dezenas não suportam e deixam o time no meio do caminho. A torcida pressiona e, pior, a diretoria aceita e empresta o jogador para outro clube (pagando salários, evidentemente). Contrata outro, não arrebenta nos 2 primeiros jogos, ofensas, chacotas, intimidação, empresta o jogador para outro clube e o ciclo vicioso se completa.

A torcida, influenciada pela maioria de imprensa e cheia de razão diz: “Caio Junior não tem tamanho de Palmeiras!”“Maicossuel não pode vestir nosso manto!”. “O Diego Souza não pode pisar mais na Pompéia!” E por aí vai...

Depois, meio sem lógica, a torcida pede um Elkesson, por mais que ela nem soubesse quem era. Hoje ouço: “A diretoria é brincadeira! Trouxe esse pipoqueiro do Maikon Leite e deixou o Elkesson ir para o Botafogo. Trouxe o W. Paulista e deixa o Borges ir para o Santos!” Engraçado que hoje poucos se lembram, mas o Borges saiu pela porta dos fundos no Grêmio, mais ou menos como estava o WP no Cruzeiro. Um vira o Van Basten no Santos e outro o Bizu. Estranho, não?

Além disso, como já disse em outros posts, o tri brasileiro do São Paulo foi composto por Leandro, Alex Dias, Borges, Danilo, Mineiro, Josué, Lugano, etc. Na época, ilustres desconhecidos. O Corinthians pós rebaixamento tinha Chicão, Willian, Christian, Jucilei, Elias, André Santos,etc...Hoje tem Castán, Fabio Santos, Alessandro, Ralf, Paulinho, Willian e outros afins.

Enfim, meu ponto é que a pressão da torcida é algo comum nos times grandes, mas, no Palmeiras, é maior. A torcida que olha o passado motiva a Adidas a fazer 2 camisas comemorativas em 2011. Uma relembra 1951 e a outra 1993. A torcida exige a volta do Valdivia (sem se importar que arrebenta afinança do clube) e xinga a diretoria por não ter trazido o Rivaldo e ainda se questiona porque não repatriamos o Alex.

Então, na prática, esse comportamento faz com que mesmo uma diretoria supostamente séria fique sem suporte, pois como mandar embora o“ídolo” Kleber mesmo depois de tudo que ele fez? Esse comportamento faz com que, enquanto o Elias que veio da Ponte vá para a seleção, o Tinga que veio da Ponte (com mais fama em Campinas, diga-se de passagem) não seja convocado nem para a seleção das Perdizes. Esse comportamento violento da organizada, faz com que um jogador “renomado” pense 1, 2, 10 vezes antes de aceitar uma proposta do Palmeiras e, se aceitar, pede muito mais.

Essa atitude também faz com que a diretoria, de maneira covarde, tente atenuar esse processo com técnicos caríssimos, pois, se vier um desconhecido...

No futebol brasileiro atual, todos os times tem 3 ou 4 jogadores bons e um resto de desconhecidos. Não há mais como montar uma seleção com 1 craque por posição. Aqui, muitos discordam, mas penso que Marcos/Deola, Cicinho, Henrique, Thiago Heleno, Pierre, Marcos Assunção, Valdivia, Maikon Leite, Luan e Kleber com um técnico que ganha 4 vezes mais que a média, dá sim para disputar um campeonato. Para isso, peguem os jornais de fim de semana e leiam as escalações dos adversários (inclusive dos líderes). Para ajudar, segue a escalação da rodada de 25 de setembro:

Vasco - Fernando Prass, Allan, Dedé, Renato Silva e Julinho;Juninho Pernambucano, Rômulo, Eduardo Costa e Felipe Bastos; Diego Souzae Elton. Técnico: Cristóvão Borges

Corinthians - Júlio César, Alessandro, Wallace, Paulo Andrée Fábio Santos; Ralf e Edenílson; William, Alex e Émerson; Liédson. Técnico:Tite

Botafogo - Renan, Lucas, Antônio Carlos, Fábio Ferreira e Cortês; Marcelo Mattos e Renato; Herrera, Elkesson e Maicosuel; Loco Abreu.Técnico: Caio Júnior

Como disse no primeiro post do ano, exceto Santos e Inter é tudo mais ou menos igual. Os mais críticos, lembram que não basta time e, sim, elenco. Eu contra-argumento que, na prática, mesmo tendo o melhor elenco do Brasil o SP teve de inventar há pouco mais de 1 mês o João Felipe, pois não tinha zagueiro para colocar. Sai o Ronaldinho, o Fla não ganha uma. O Corinthians perde o Liedson e a diferença de 10 pontos na liderança cai para zero.

Enfim, há uma mudança no futebol brasileiro. Os vencedores são os que mantêm o time por um mínimo de tempo e os que dão suporte nos piores momentos (torcida e diretoria).

Definitivamente, é duro reconhecer e criticar nós torcedores, não fazemos a nossa parte e, por isso, também somos parte do problema.

Minha visão é que não dá para dissociar um povo dos problemas do país e colocar tudo na conta dos políticos. Da mesma forma, não dá para dissociar a torcida dos problemas do Palmeiras, com o atenuante que as eleições são indiretas, claro.


Por Marcelo, o racional

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