sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PRISCO PALESTRA NO BLOG FANFULLA

Excelente texto escrito pelo amigo, Alexandre Zanotta, conselheiro 2009-2012.


Ultimamente tem se tornado comum ouvirmos que certas coisas “só acontecem no Palmeiras”. Geralmente, após algum fato desastroso ou incomum, tanto dentro ou fora de campo, mas que infelizmente tem se tornado habitual em nosso clube. Seria como se tivesse sido transferido para nós o dom sobrenatural de ocorrências esdrúxulas que antes diziam acontecer apenas no Botafogo.

Mas será que esses acontecimentos insólitos são fruto de atividades sobrenaturais, ou ocorrem por razões reais, bem conhecidas de quem acompanha o dia-a-dia do clube?

Acho que não é difícil responder a pergunta acima. Mesmo que você, caro leitor, não acompanhe o dia-a-dia do clube e acredite no sobrenatural, deve imaginar que não deveria haver razão para tantos fatos e pessoas ruins estarem concentrados no nosso querido Palmeiras.

Assim, gostaria de aproveitar este artigo para fugir dos lugares-comuns das discussões da maior parte da torcida e até de profissionais da mídia, para me concentrar no que realmente importa para nosso clube estar na situação que hoje se encontra.

Não vou aqui discutir sobre qualidade do time, caráter de jogador, salário de técnico, contratações para o próximo ano, e etc. Isso é consequência. O que acredito ser importante são as questões mais estruturais que nos afetam e geram os problemas que a cada dia parecem ficar piores. Seguindo o raciocínio das infinitas discussões que tenho com meu amigo e colunista do blog Prisco Palestra, Marcelo, o “Racional”, é preciso descobrir a raiz dos problemas para podermos encontrar as soluções mais adequadas.

Claro que o espaço aqui é curto (e também o tempo do leitor) para tratar de maneira mais profunda todos os problemas estruturais que assolam o Palmeiras. E nem tenho a pretensão de achar que conheço todos eles. Dessa forma, vou abordar os tópicos que entendo serem os mais relevantes, com um panorama geral das minhas opiniões, para depois desenvolvermos em outras oportunidades.

O primeiro tópico é referente à forma como o clube está estruturado. Nosso estatuto social é arcaico e engessa qualquer tentativa de renovação (vide o que ocorre com a tentativa de eleições diretas). Propositalmente feito desta forma, nossa “lei maior” favorece os grupos antigos a se perpetuarem no poder, e dificulta a ascensão de novos grupos, com ideias mais modernas e arejadas, e mais vontade de mudar o Palmeiras. Além disso, a própria natureza jurídica dos clubes de futebol, todos formados como associações, favorece esse “descaso” com o bem comum – o próprio clube -, uma vez que não há um “dono” para tomar conta e cobrar as pessoas.

Daí decorre o segundo tópico da nossa discussão, que é a incompetência de gestão de grande parte dos nossos dirigentes, não apenas atuais, como passados. É evidente que a classe dirigente do clube tem enorme parcela de responsabilidade pela perda de força do Palmeiras nos últimos 35 anos (com exceção da época da Parmalat). A administração do Palmeiras, com raras exceções, parou nos anos 70, e não teve capacidade de acompanhar a evolução do futebol nas últimas décadas, perdendo espaço para rivais, inclusive de outros estados.

O terceiro tópico refere-se a este tema do futebol nos dias atuais. O futebol evoluiu muito desde a década de noventa, e estamos de bicicleta vendo um trem bala passar. Na época “romântica” do futebol, ficar na fila até aumentava a torcida. Hoje em dia, na era do futebol “negócio”, a fila pode acabar com o time. E o tempo joga muito contra nós, pois além da dificuldade em captar novos torcedores, nossos principais rivais começam a ganhar algumas dezenas de milhões de reais a mais por ano do que a gente, o que no médio prazo acarretará em um desequilíbrio que vai ficar cada vez mais difícil de reverter. Como prova o campeonato espanhol, história e bravatas não salvam um tradicional clube, vide o Atlético de Madri. Meu receio não é que 2011 tenha sido mais um ano jogado fora. Meu receio é que já jogamos fora até 2013…

O quarto tópico que queria abordar é a torcida. Eu sei que talvez esse seja o tópico mais delicado, e por isso vou me estender um pouco mais sobre ele. Não falo especificamente de torcida organizada, de frequentadores assíduos, do torcedor que assiste na televisão ou o de outros estados ou países. Falo de todos nós.

Pressão da torcida é algo comum nos times grandes, mas no Palmeiras é maior. E gera o círculo vicioso de pressão da torcida no jogador, diretoria despreparada não segura e contrata outro igual, que não joga bem no começo e ouve ofensas, chacotas, intimidação, aí a diretoria contrata outro jogador. Esse círculo vicioso só piora as finanças do clube, fazendo com que a diretoria despreparada, de maneira covarde, tente atenuar esse processo emprestando o jogador ou contratando técnicos caríssimos.

No entanto, no futebol brasileiro atual, todos os times têm 3 ou 4 jogadores bons e um resto de desconhecidos. Não há mais como montar uma seleção com 1 craque por posição. Basta verificar as escalações dos nossos adversários (principalmente dos líderes), para constatar que não há equipe com jogadores muito melhores do que os nossos (talvez a única exceção seja o Santos). Além disso, no futebol brasileiro atual, os vencedores são os que mantêm o time por um mínimo de tempo e os que dão suporte nos piores momentos (via diretoria e torcida). Esse círculo vicioso de não jogar bem nos primeiros jogos, torcida pegar no pé, diretoria contratar outros jogadores deixando os que já estavam de lado ou emprestando-os, só vai aprofundar ainda mais o buraco.

Entendo que é duro reconhecer e criticar nós torcedores. Só que não fazemos a nossa parte e, por isso, também somos parte do problema. Como bem colocado pelo colunista Marcelo citado acima, não dá para dissociar um povo dos problemas do país e colocar tudo na conta dos políticos. Da mesma forma, não dá para dissociar a torcida dos problemas do Palmeiras, ainda que as eleições sejam, por enquanto, de forma indireta.

Diante de tudo o que foi colocado de forma resumida neste artigo (que mesmo assim ficou mais longo do que deveria), o que fazer? Há solução para o Palmeiras? Claro que sim! Em primeiro lugar, a grandeza da torcida, a história e o patrimônio ainda são alicerces que podem nos ajudar na recuperação. Entretanto, claramente, a mudança precisa ser rápida. Temos que parar de pensar no curto prazo, ter paciência e começar a atuar visando o longo prazo, ou seja, mudanças profundas que tragam resultados duradouros, e não loucuras de ocasião para ganhar um Paulista por década e ficar sendo humilhado nos intervalos de tempo.

Em primeiro lugar, devemos batalhar por uma reforma ampla e profunda do nosso estatuto social. Estamos começando pelas eleições diretas, mas precisaremos de muito mais. O estatuto precisa ser um documento mais flexível, que permita a renovação e a ascensão de novas ideias. O Palmeiras é da torcida e não de 300 conselheiros. Sócios e sócios torcedores precisam ser ouvidos e terem chance de participar.

Havendo legitimação pela maioria, a gestão do clube precisa ser profissionalizada. Basta de dirigentes amadores e incompetentes. Precisamos de profissionais remunerados (de preferência palmeirenses e competentes) em áreas chaves como futebol profissional, planejamento, marketing, financeiro, categorias de base, etc. Se são remunerados, serão cobrados por resultados. E, se são competentes, poderão fazer com que o Palmeiras entre na via rápida de desenvolvimento do futebol moderno, até para podermos explorar todo o potencial que nossa Arena poderá oferecer.

A partir deste arcabouço mais profissional e sério, suportar as inevitáveis pressões da torcida. Apesar de futebol ser paixão, tomar decisões lastreadas pelo custo/benefício, algo que um profissional sério e competente saberia discernir. Insistindo em um modo de trabalho, com um grupo de pessoas competentes, mais cedo ou mais tarde os resultados chegam. Há vários exemplos para seguirmos.

E, para concluir, investir muito no maior patrimônio do clube, que é conquistar mais e mais torcedores. No passado, ter mais torcida não era tão importante. Hoje, é fundamental. O dinheiro virá da capacidade de atrairmos mais torcedores para nosso amado time com ações constantes e incisivas, e principalmente um programa de sócio torcedor decente.

A intenção deste artigo foi dar uma visão um pouco diferente do lugar-comum da maioria das discussões entre torcedores e as apresentadas na imprensa. Não podemos aceitar passivamente que certas coisas “só acontecem no Palmeiras”. Elas não acontecem apenas no Palmeiras, e deveriam é parar de acontecer com a gente.

Finalmente, é importante lembrar que o Fanfulla apresentou mais de uma vez diversos projetos abrangendo todas as áreas mencionadas nos tópicos deste texto (e até mais). Obviamente, grande parte dos projetos, principalmente aqueles que envolvem mudanças profundas, não foram aceitos ou sequer analisados pelos poderes do clube, mas os projetos permanecem à disposição para serem utilizados quando quiserem. É com esse trabalho e nossa insistência que faremos o Palmeiras continuar a ser grande e forte!

E como torcedor vive de fé, espero que em 2012 recomecemos a trilhar o caminho da grandeza do Palmeiras!

Saudações Alviverdes!

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