segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Coluna semanal: "Elitizar" ou não, eis a questão

Aproveitando a polêmica referente ao preço de ingressos no Paulistão e a questão da Arena Palestrina, penso que vale a pena abordar essa questão que é uma enorme fonte de receita para os clubes.

Primeiramente, cabe uma constatação. Os custos do futebol, por diversos motivos, subiram de maneira astronômica desde os anos 80. Por isso, parece que o modelo que servia há 30 anos não atende a realidade atual, porém, muitos clubes continuam insistindo no modelo passado que consiste em ingresso barato e serviço precário. Agora, parece que tivemos uma “evolução” tupiniquim que são ingressos a preços médios e serviços precários. Por isso, a revolta é ainda maior hoje.

Se o futebol brasileiro quiser competir em pé de igualdade com o europeu é fundamental que copiemos o modelo que eles construíram, especialmente o campeonato inglês. Estádios impecáveis,  garantia de assento, venda antecipada, serviços adequados, facilidade de acesso são algumas das atitudes que garantiram um público mais fiel e mais consumidor aos estádios. Soma-se a isso um gramado extraordinário e jogadores acima da média e o ciclo se completa. No limite, podem-se buscar exemplos norte-americanos.

Há quase 9 anos, estive com meu amigo Alexandra Zanotta, em julho, no Staples Center em Los Angeles. Como estavam de férias, os administradores da Arena “inventaram” um jogo de futebol americano “indoor”. Os loucos por esporte foram ao “espetáculo”. O jogo, pelo que pude perceber dos espectadores, era o menos relevante, porém os restaurantes, a facilidade de acesso, os shows, enfim, tudo o que cercava o evento era impecável. Resultado? Arena lotada.

Porém, no Brasil, temos de enfrentar o problema de pensar diferente do chamado “politicamente correto”. Afinal, como ser contra baratear ingressos e permitir que os mais humildes continuem com um dos poucos prazeres que ainda restam?  Entendo que, por isso, muito dos comentaristas não se posicionam nesse assunto ou entram pelo debate “ideológico”. Vou tentar sair do lugar comum. Acho que os clubes não podem cair nessa história e apresento dois argumentos.

O primeiro tem a ver com governo. Parece-me que futebol é atividade privada. A única “colaboração” do governo, até onde sei, é o fato de ser pouco rigoroso (na minha impressão) ao cobrar impostos atrasados dos clubes. No mais, não vejo nenhuma vantagem. Ora, quem defende que futebol é lazer do povo, que se faça um debate de prioridades do governo e, se for o caso, que o governo subsidie o valor do ingresso reembolsando o clube da diferença. Vejo, eventualmente, o governo fazendo ações semelhantes em peças e teatros. Então, porque não no futebol? Já antecipo que como cidadão seria contra essa proposta, mas se o governo quiser usar o dinheiro no futebol ao invés de shows sertanejos no Anhembi, parques, Viradas culturais, etc, fica a possibilidade. Porque só o futebol tem que dar a colaboração? Porque o Paul McCartney ou o Roberto Carlos não vendem arquibancada a R$ 10,00? Não eram uma fonte de lazer também? Podemos buscar outros exemplos similares.

O segundo tem a ver com subsídio. Se resolvermos abaixar o preço do ingresso beneficiaremos apenas uma pequeníssima parte da torcida alviverde. Seriam os mais carentes e que morassem perto do Parque Antartica, no máximo na Grande SP. Porque esses torcedores teriam esse benefício e o torcedor carente de Campinas, Ribeirão, Catanduva ou Lins não poderiam usufruir? Parece-me pouco lógico, beneficiar, sei lá, 50 mil torcedores em detrimento de 18 milhões. Digo detrimento, porque se o Palmeiras tiver menos receita, terá menor capacidade de investimento, time pior, etc...Lembro que nos últimos anos, a representatividade da torcida palestrina no interior paulista vem aumentando consideravelmente.

Claro, que isso tem que ser ajustado à importância dos jogos. Os primeiros estudos econômicos já diziam que a melhor forma de se ajustar oferta à demanda é através do preço. Jogos desinteressantes, preços mais baixos. Jogos importantes, preços altos. Com isso, eliminaríamos até a figura do cambista que só encontra espaço para desempenhar seu papel (arbitragem) se o mercado está disposto a pagar mais que o valor de face do ingresso. Seria transferir o lucro do cambista para os cofres do clube.

Portanto, concluo esse longo texto, entendendo que o Palmeiras tem que aproveitar a Arena e buscar o círculo virtuoso de bons serviços, preços mais altos (porém justos) e forte fonte de receita com reinvestimento no ciclo. O Corinthians, mesmo sem oferecer bons serviços, trabalhou nesse sentido na Libertadores de 2010 e, se aproveitando do centenário e do Ronaldo, teve vários jogos com rendas superiores a R$ 1 MM. Isso pode ajudar, e muito, a retomada do protagonismo palmeirense.

Por Marcelo, o racional

2 comentários:

  1. Marcelo,

    Já tentei discutir esse tema alguma vezes tb. Na minha opinião o risco de você elitizar o futebol é que alguém que paga R$ 100 para ir a um estádio tem opções diversas de lazer. Portanto para cobrar essa $$$ o Palmeiras precisa oferecer um time descente e não somente um estádio. Pois da mesma forma que esse tipo de torcedor para 100 quando o Palmeiras decair simplesmente some do estádio.

    E não há como não deixar parte do estádio a um preço "Brasil".

    Na minha opinião se elitizarmos estaremos em uma situação complicada. Principalmente com o nível de nossos dirigentes.

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  2. Parece que ambos têm razão:

    O Marcelo, quando raciocina em tese, acreditanto que um dia, teremos melhores dirigentes que poderão implementar esse raciocínio com eficiência, apreentando um bom produto para o torcedor. É o que fazem os ingleses.

    O Marcio, do Bianco, Rosso e Verdão, quando entende que essa idéia não funciona hj no Palmeiras pelo nível dos dirigentes ligados ao futebol.

    Portanto, a saída é pressionarmos cada vez mais pela renovação dos quadros alviverdes, tavez tirando parte dos poderes dos septuagenários conselheiros esmeraldinos que até podem ter boas intenções, mas certamente não possuem a capacidade técnica de conduzir nosso barco.

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