segunda-feira, 7 de março de 2011

Memórias de uma "Famiglia Palestrina"


Românticos Palestrinos!


Que saudades eu tenho dos tempos em que esperava meu pai chegar dos jogos do Palmeiras para contar o que tinha acontecido.

Naquele tempo os torcedores dos times se sentavam juntos, pois não havia necessidade de separação e, apesar de adversários, as brigas ocorriam, mas eram raras e terminavam com a famosa turma do “deixa disso” não passando de alguns empurra-empurra e troca de insultos. O filme estrelado por Mazaropi em 1966 espelha muito bem essa cena, mas me nego a dizer o nome.

A garbosa força pública contava com poucos homens nos estádios e as viaturas eram os inesquecíveis fuscas. 




Mesmo na ocorrência de brigas, não se tinha notícia de cenas de violência como habitualmente se lê nos jornais, inclusive resultando em mortes. Iam todos juntos, tios, primos, amigos do velho Mercadão Municipal.

Aliás, essa era uma constante, apesar de “teoricamente” concorrentes, estavam presentes em festas, batizados, casamentos e também no futebol. Lembro-me de dezenas de festas de casamento envolvendo a turma do Mercadão e meus pais, como padrinhos. Todos brincando e aprontando.

Meu pai era uma pessoa muito pacífica e muitas vezes foi ao estádio com um vizinho espanhol. Raridade na época, pois havia uma rixa entre os italianos e espanhóis. Um dia, na Rua Caetano Pinto, meu avô teve que ficar escondido no sótão da casa durante alguns dias depois de ter atirado a bolinha do jogo de bocha na cabeça de um espanhol.

Dizem que ele pediu licença por várias vezes ao espanhol, que insistia em não se afastar da beirada da cancha. Mas, voltando ao meu pai, o vizinho era espanhol e torcia pelo time da marginal. Eles iam juntos num carro de praça “Chevrolet 1950” que ficava no ponto da Av. Paes de Barros. Prova da harmonia que existia, mesmo entre adversários.


Eram Palestrinos que comiam a pasta dominical rapidamente, se encontravam em determinados lugares e, de carro de praça (taxi), bonde ou ônibus, pois carro próprio naquela época era coisa muito difícil de ter, se dirigiam ao Pacaembu ou Parque Antártica.

Esses Palestrinos da fase romântica do futebol, sempre atendiam ao chamado da diretoria para colaborar, e no início da década de 50, o clube iniciou uma grande campanha para reforma das arquibancadas, que propiciaria duplicar a quantidade de lugares no estádio. As cadeiras cativas começaram a ser vendidas e a família comprou várias.



Não me lembro bem quando foram inauguradas, mas a ansiedade para usufruírem a novidade demorou muitos anos e eu sempre ouvia que a obra parecia a da “igreja de santa Justina”. Não sei bem ao que se referiam.

Em 1959, durante a disputa do supercampeonato com o Santos, meu pai sofreu um infarto. O Palmeiras foi Supercampeão e ele também, pois sobreviveu! No ano seguinte, lá estava ele com toda a turma do “Mercadão” em Brasília a convite do Governo Federal, para ver se tinham interesse em montar um centro de abastecimento na cidade. Foram, comeram, beberam, visitaram, voltaram (foto no aeroporto).


Não gostaram da cidade, não tinha esquina, barzinho, campo de futebol entre outros quesitos. Meu pai questionava onde compraria “cipollina” lá ? Como vamos assistir jogos do Palmeiras?

Ainda me lembro com saudades das histórias que meu padrinho Humberto contava em sua casa na rua Prof. Batista de Andrade. Eu, muito pequeno, não tinha noção da importância daquele momento e ficava confuso me questionando como ele, com a cegueira total, descrevia os fatos com riqueza de detalhes.

Mas essas histórias românticas me foram contadas por meu pai e tios, que ouviram do meu avô Francisco e dos tios Pedro e Humberto e eu com certeza estou passando para meus filhos e primos esperando que a corrente não se quebre!

Bons tempos românticos.

Saudades desses Palestrinos Românticos.


Por Francisco Prisco Neto

6 comentários:

  1. Muito bons os artigos do blog.
    Este últmo contando causos da familia ficou sensacional. Parabéns!
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  2. Caro Prisco, buon giorno!

    Como um dos meus filhos, com a respectiva famiglia, estava no Brasil, somente hoje pude ler o e mail que você me enviou.

    Realmente é muito bonito, bem feito, e junto com a leitura do teu texto, vem toda uma lembrança da minh infância, juventude e mocidade, ligada ao Palmeiras e as coisas do bairro, no caso a V. Romana, Pompéia, Lapa, Perdizes, visto que eu morava na rua Clélia.

    Como curiosidade, naquela época, não tinhamos problemas de estacionamento na rua ( nem proibição, nem roubo ou vandalismo), como moravamos no número 540 da Rua Clélia, não tinha por que, meu pai Celestino Terzi, colocar o carro, no estacionamento do posto de gasolina, na Rua Clélia 63.
    Anos depois, fui descobrir que o posto era do OBERDAN CATANI.

    Ai ficou claro o desejo do meu pai de prestigiar o estacionamento do posto de gasolina, mesmo precisando andar todos os dias 1 km (ida e volta).

    Todos temos muitas histórias para contar, que envolve o bairro, os amigos, o time de futebol, mas o texto que você escreveu ficou realmente muito emocional e bem feito.

    Depois te envio uma foto da minha carteira de associado de 1954, junto com o titulo de sócio proprietário.
    Parabéns!!

    Duilio Terzi

    ResponderExcluir
  3. Prisco,
    Delicioso ler esses históricos fatos famigliares....
    Senti uma saudade imensa do meu pai José Perazzolo e meu tio Giacomo. As famiglias tinham muito em comum naqueles tempos. Que bom eram esses tempos. Se andar nas ruas vom segurança e no futebol sentar ao lado da torcida adversária.
    Parabéns pelo texto. Estou satisfeito com as histórias.
    Ab
    Helio Perazzolo

    ResponderExcluir
  4. De pai para filho.... Avati Palestra !!!!

    ResponderExcluir
  5. De pai para filho.... Avati Palestra !!!!

    ResponderExcluir
  6. Prisco,
    Delicioso ler esses históricos fatos famigliares....
    Senti uma saudade imensa do meu pai José Perazzolo e meu tio Giacomo. As famiglias tinham muito em comum naqueles tempos. Que bom eram esses tempos. Se andar nas ruas vom segurança e no futebol sentar ao lado da torcida adversária.
    Parabéns pelo texto. Estou satisfeito com as histórias.
    Ab
    Helio Perazzolo

    ResponderExcluir